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A proximidade das eleições deveria ser apenas um evento cívico de discussões de ideias. O debate sobre um Brasil melhor deveria ser o centro de todas as atenções. O dia do voto seria a comemoração da certeza da afirmação democrática, com as pessoas tendo liberdade de cantar em voz alta suas crenças em um país mais livre, mais igual e mais solidário. Sem violência de nenhuma maneira e com as diferenças andando lado a lado. Com a mais absoluta confiança de que quem ganhasse iria ter tranquilidade para implementar as propostas vencedoras. Simples assim. Com uma obviedade que não permite questionamento.

No Brasil de hoje, o governo fascista inoculou o ódio como maneira de agir. O medo, a insegurança e a violência são armas que visam desestabilizar a democracia, interferir nas eleições e afastar do pleito a liberdade de crítica, de debate de propostas contrárias e de tudo o que representa a base do processo civilizatório.

A preparação para as eleições passa pela intimidação e pela ameaça de tanques nas ruas no 7 de Setembro, a menos de um mês da votação. E passa, ainda, pelo discurso raivoso e pela tentativa de desestabilizar as instituições. Tudo com a vulgaridade agressiva e messiânica e com palavreado chulo, marcas do presidente Bolsonaro, que tenta a reeleição. Ele esconde-se atrás do ódio para compensar seu imenso vazio intelectual. Um poço de insegurança que o faz atacar as mulheres de maneira vil e a pregar a quebra da segurança jurídica, esbravejando que não aceitará a voz das urnas. Haja psicanálise para explicar suas frustrações, inseguranças e paranoias.

A postura truculenta do presidente Bolsonaro faz com que o ódio desça em cascata no país como um todo. No Rio de Janeiro, uma equipe de atores que trabalhava na campanha do Marcelo Freixo foi covardemente atacada quando começava a mostrar, em Campos, a farra dos fantasmas na Ceperj. Agressão, coronhada e ameaças, todo o roteiro clássico dos fascistas e dos covardes.

É preciso não se intimidar com esse tipo de postura! Não devemos usar os mesmos métodos e não podemos fazer da violência nossa maneira de enfrentamento. Mas é necessário mostrar a essa escória que eles não passarão. Ocupar os espaços públicos, andar pelas ruas de verde e amarelo e estar presente nos debates e nos comícios. Eles são como vermes que tentam ocupar os lugares de maneira sibilina e insinuosa.

É bom ver o exemplo da natureza. O véu da noite não desce de uma só vez no meio da tarde. Seria assustador e espantoso. A luz vai se esmaecendo aos poucos, até que, de repente, somos tragados pela ausência de luz. Assim se dá também com a violência desses bárbaros. Eles vão se insinuando e nos amedrontando com pressões físicas e psíquicas num crescendo. Tiram nossas cores, nossa voz e nossa alegria de estarmos leve nas ruas. Até que não possamos mais reagir, como que imobilizados por um muro invisível que nos aniquila.

Se não resistirmos, uma nuvem ácida nos sufocará e não nos deixará respirar; nos colocará uma venda e nos retirará a visão. Assim agem os idiotas que não têm argumentos e que têm horror à democracia. É preciso reagir para que eles voltem para a sarjeta e para o mundo teratológico do qual não deveriam ter saído.

Sempre nos lembrando de Eduardo Alves da Costa, no poema No Caminho com Maiakóvski: “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arrancam-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.”

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
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