Especial 70 Anos Jornal O DIA. Luarlindo Ernesto, repórter do Jornal O DIA.Daniel Castelo Branco

Por Luarlindo Ernesto
Ser carioca da gema já foi o máximo. Dava pra tirar onda, tirar sarro dos outros patrícios, ser olhado, com inveja, por habitantes de
outros planetas. Eu lembro que ser carioca era o eterno gozador, o 'bon vivant', o felizardo em morar no Rio de Janeiro, a terra das belas mulheres, do Carnaval na Praça XI, do Maracanã no tempo dos 200 mil pagantes e quase dez mil caronas, das normalistas do Instituto de Educação, da Panair do Brasil, dos piqueniques no Alto da Boa Vista, das amadas amantes na Barra da Tijuca deserta e praias limpas.
Eram onze jornais diários, a Rádio Nacional mostrava para o país os cantores e cantoras reis e rainhas do cancioneiro popular (lembram da novela O Direito de Nascer ?). Ah, os bailes de gala do Municipal, do leite comprado na Vaca Leiteira na porta todas as
manhãs. Vejam que os bairros Campo Grande, Santa Cruz, Jacarepaguá e a Baixadas litorâneas (Barra, Recreio, Guaratiba) eram parte da Zona Rural.
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As favelas eram poucas e pequenas. Desemprego não existia e tínhamos os bondes. O socorro médico era o SAMDU. Época da dupla Cosme e Damião nas esquinas da vida. Melhor parar de rever o passado, antes que me chamem de saudosista. Mas os homens usavam ternos e chapéus. As mulheres usavam vestidos e meias. Golpes? Que eu lembre, só os do vigário e do bilhete premiado. Eu lembro.

Vamos dar uma passada nos tempos atuais, rapidinho, sem delongas e mimimi. Doenças, pandemia, golpes milionários, golpes menores, golpes do cartão bancário, golpes da internet, golpes contra a Previdência, golpes da casa própria, golpes do seguro, desvios do dinheiro público, clonagem de carros, gente mal educada, os fura-filas, os bandalhas, os corruptos, a máfia do INSS, os extremistas, os ladrões, traficantes, milicianos, os políticos profissionais, os DJs e as meninas que cantam com as nádegas. Vou parar por aqui.
Claro, se continuar, amigas e amigos, faltará espaço para o lado mais comum de hoje em dia e que, por pouco, não virei notícia. Só mais um detalhe: enquanto escrevo, tenho a mania de usar chapéu palhinha, daquele dos anos 1930. Ele é meu amuleto da
escriba (e da sorte ?).
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Tudo isso para recordar, sem saudosismo, a tentativa de golpe que fui vítima esta semana. Atendi o chamado do telefone fixo, sexta feira, aí pelas 17h30 minutos: "É o seu Luar ? Aqui é do setor de segurança da Caixa e queremos saber se o senhor fez compras, agorinha, na loja da casa tal, no Barra Shopping, no valor de R$ 1.258,08". "Não? Notamos, então, que foi vítima de clonagem do seu cartão...". A partir de então, o homem do outro lado da linha, me forneceu inúmeros números de telefone 0800, que seriam da instituição bancária. Tudo para acionar sistemas contra golpes. "Vamos mandar mensageiro buscar seu cartão e o banco vai resolver tudo para o senhor". Eu concordei. E, pelo celular, chamei a PM. Mas o espertinho desconfiou, e reclamou. Bolas, eu retruquei que ele tentou me enrolar e, então, tenho o direito de prejudicá-lo, também.
Mais papo. A PM e o mensageiro dele não chegaram. Dispensei a patrulha e ficamos de conversa fiada. O sujeito me passou toda a movimentação bancária do mês, fiquei atualizado de todo o meu histórico e até do cartão de crédito da Caixa, incluindo o teto do valor do cheque especial, meu endereço, CPF, identidade. Somente faltou o clube que sou torcedor.
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Logo uns 30 minutos depois, resolvi desligar e, ia me despedindo quando o espertalhão mandou essa: "Já vi que você é um coroa avançado. Vou depositar uns R$ 2 mil na sua conta e enviarei uma camisa do Vasco. Que tal ?" Formidável, agradeci, desejei muita saúde para ele e encerramos a ligação. Tô esperando o tal depósito, a camisa prometida e aguardo o próximo golpe.