Luarlindo Ernesto
Luarlindo ErnestoGilvan de Souza / Agencia O Dia
Por Luarlindo Ernesto
Tô me sentindo um bebê. Naquela fase das vacinas. Comecei a receber a CoronaVac contra essa peste que nos assola, com as cepas variadas, em abril. Encarei a segunda dose no início de maio. Hoje, voltei ao posto e encarei a da Influenza. Logo em seguida, em uns 15 dias, vou para a fila da vacina para me livrar da pneumonia. É muito imunizante para esta pobre criatura. E, falta o teste do pezinho.
Enquanto isso, álcool, só nas mãos. A cervejinha dos sábados continua proibida. Minha caverna, equipada com wifi, virou um mosteiro. Tô quase um santo. Faltam as orações, matutinas e vespertinas e as celas da clausura. O trabalho braçal está incluído nos afazeres. Não esqueçam que sou encarregado de varrer as folhas das árvores do quintal. Agora, nessa época do ano, a lida é diária. Isso posto, vamos ao causo da semana.

Em uma tarde deste outono, ao entrar em um bar do Engenho de Dentro para um inocente cafezinho, voltando do Posto de Saúde, ouvi conversa de três senhores, colocados em mesas que formavam um triângulo, todos com pinta de bem aposentados, todos devidamente mascarados e todos distanciados como manda a atual crise sanitária: "O Papa Francisco, ao ser abordado por um padre brasileiro que pedia orações para nosso povo, deu resposta memorável para mostrar a realidade nossa, e mandou na lata a frase . 'Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração'".
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Isso foi dito pelo freguês que parecia ser o mais bem trajado. E o único que não usava boné. A conversa, em tom alto, não deixou claro se era brincadeira, ou gozação, ou mesmo coisa séria, mas me transportou para o então presidente francês, Charles de Gaulle, depois de um furdunço que balançou as relações entre Brasil e França no episódio conhecido como 'A Guerra das Lagostas', lembram ?
Foi em 1963, quando De Gaulle teria dito uma pérola formidável: "O Brasil não é um país sério". O fato, que acabou virando verdade para os brasileiros, apesar dos desmentidos oficiais em várias ocasiões, reforçou o nosso bordão, criado por Nélson Rodrigues após a derrota do Brasil diante do futebol uruguaio, em 1950, o complexo de vira-latas.
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Mas a frase dita-não-dita por De Gaulle foi a que mais se espalhou e pegou no Brasil. Até Jarbas Passarinho, militar e ex-ministro por várias ocasiões, chegou a escrever sobre o assunto, em um artigo de 2001, em que afirmou que é a ofensa de que nos orgulhamos. Na verdade, a frase é outra, com o mesmo sentido, e foi dita por embaixador brasileiro, lotado em Paris, Carlos Alves de Souza, durante entrevista ao coleguinha do Jornal do Brasil, Luiz Edgar de Andrade, no início dos anos 1960.
Eu, particularmente, gosto de usar a frase, que o francês não disse, em ocasiões em que não se consegue entender os estapafúrdios criados por nossos políticos. Comprovei, entretanto, que muita gente boa faz o mesmo. Concordam? Tem outra frase, entre dezenas, que também ficou gravada e é repetida por aí, principalmente em assuntos ligados ao futebol: "Roubado é mais gostoso".
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Atualmente, entretanto, a mais usada, do Oiapoque ao Chuí, é aquela que já até acostumamos a ouvir: "É um assalto. Perdeu. Passa tudo". A que considero em segundo lugar, sempre repetida por todos no supermercado: "Tá tudo muito caro". E a terceira: "Acabou a vacina. Volte outro dia..."
Sem usar palavrões, é claro.