Luarlindo Ernesto
Luarlindo ErnestoGilvan de Souza / Agencia O Dia
Por Luarlindo Ernesto
Tô procurando gente de boa memória. Lembram do filme Tubarão, do diretor Steven Spielberg, de 1975 ? Foi recorde de bilheteria, com 13 milhões de espectadores, somente em nosso país. Pois é disso que andei matutando. Coloquem a cuca para funcionar. Não tenham preguiça. Caso não lembrem do roteiro, tenho tempo para ajudar.
Esqueçam, por favor, as cenas sanguinolentas do tubarão mordendo meio mundo. Isso é truque para amarrar a plateia que, geralmente, fica maravilhosamente aterrorizada com as cenas apavorantes. Mas o argumento, que fere o subconsciente do espectador, é que vale. Vai lá no fundo do âmago da questão. Pare e pense no lado político-social-humanitário-econômico da coisa.
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O prefeito, que somente almeja lucros para os cofres da cidade, um chefe de polícia, que vê o perigo mortal na famosa praia da cidade, um biólogo-marinho que alerta a todos que a praia deve ser fechada a todos, o caçador profissional que visa somente a recompensa vultosa se matar o animal e, por último, o legista que se curva diante da imposição do prefeito e chega a mudar a causa da morte da primeira vítima. Eis a verdadeira história, não tão oculta, do filme, revelando as desavenças que abalam a moral nos interesses individuais..

Cada um puxa a brasa para sua sardinha. O povão, sem entrar no mérito da questão, que se dane. A maioria nem mesmo se toca no fundamento da discussão. Esses habitantes do local da trama, um condado, no filme, são marionetes da história. Coitados. E o diretor, Spielberg, ainda arranjou personagens que nem mesmo sabem o risco que correm. Não sei o porque me traz um paralelo e tanto com a situação em que vivemos.
Aposto que tem gente que jamais irá concordar. Claro, vivemos em uma democracia. Então, proponho o seguinte: posto o enredo, julguem as atitudes, pensamentos e obras de cada um. Depois, coloquem na balança da consciência, julguem cada figura e vejam se há alguma coincidência com o nosso dia a dia. Por
fim, tirem suas conclusões e vejam o resultado final. Ah, sem desavenças, brigas e términos de amizades.

Bom esclarecer que estamos no mesmo barco. Então, busco amenizar os tempos difíceis e dolorosos que estamos encarando. Vejam o meu dilema. Topei contar causos quase cômicos e tenho mostrado dramas. Tento mascarar a tragédia com histórias amenas. É difícil. Meu receio maior, amigas e amigos, é que isso acabe se tornando uma coluna de avisos fúnebres. Nós todos já temos um parente, um amigo, um vizinho,
um conhecido que já entrou na estatística de sobreviventes, internados, entubados ou, infelizmente, mortos.
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Eu mesmo já tenho vários amigos que partiram. Sobreviventes ? Conheço poucos. Nunca pedi tanto, em nome de todos, ao Homem como tenho feito agora. Nesse exato momento, diante da telinha do laptop, sofro por mais perdas. O Manoel Cavalcante, amigo e companheiro de trabalho, chefe de família, caráter exemplar, novo em idade, amadurecido nas ações, partiu sem tempo de despedidas.
O mesmo para José Cândido do Nascimento, figura ímpar, parceiro nosso do jornal. Sempre quietinho no canto dele. Figura humana da melhor qualidade. Mais duas baixas em poucos dias. Lembram que o Aloy se foi neste mês também ? Difícil, para quem fica, conter as lágrimas do coração.
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Notaram que termino melancólico ? Tempos difíceis. Crises e mais crises. Parece que a covid é o tubarão nosso de cada dia no filme real de nossas vidas. Descansem em paz, amigos.