cena de divulgação do histórico filme Césio-137Foto de divulgação

Chernobyl foi o pior vazamento ocorrido com um reator. Mas o que poucos lembram, ou sabem, é que o acidente com o maior grau de contaminação fora de uma usina, aconteceu no Brasil. E justamente o nosso país sedia a 11ª edição de um Festival de Cinema com essa temática.
As exibições acontecem até o próximo dia 29 na Cinemateca do MAM e pela internet através do link
https://uraniumfilmfestival.org/pt-br/programacao-rio-2022
Chernobyl
A guerra entre Rússia e Ucrânia ajuda a reacender os reatores da visibilidade para a edição deste ano do Festival. É que a incerteza do conflito criou boatos e dúvidas a respeito da continuidade da política de contenção da maior área contaminada na história, a hoje cidade fantasma de Chernobyl.
O reator número 4 teve superaquecimento e liberou uma nuvem contaminando pessoas, animais e o meio ambiente. O acidente completou 36 anos em meio a denúncias de que soldados de Vladimir Putin estariam sabotando o controle da radiação. É que com o fim da União Soviética, o território radioativo ficou com a Ucrânia independente.
Como aconteceu o acidente no Brasil
Num país de memória curta, poucos lembram que o Brasil tem, em sua história, a maior contaminação com radioatividade e de longo alcance fora de uma usina, já registrada no planeta. O caso ficou conhecido como “Césio 137” e aconteceu em 1987, resultando na morte direta de quatro e o registro de contaminação em 249 pessoas.
Tudo começou quando catadores de recicláveis descobriram uma máquina de radiografia em um hospital abandonado. O desmonte a marretadas resultou na liberação de parte do Césio tipo 137 usado, na época, como contraste para esse tipo de equipamento médico.
Mas não parou por aí. A peça foi revendida para um receptador que tratou de terminar de soltar o material do cilindro no ambiente. A descoberta do acidente foi feita pelo físico Walter Mendes. O trabalho de contenção separou e isolou um total de seis mil toneladas de objetos, roupas e materiais que tiveram contato com o Césio, transformado em lixo nuclear.
Césio-137, o filme
E já que estamos falando de festival de filme, o acidente brasileiro também serviu de inspiração para a telona. O longa “Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia" teve roteiro e direção assinados por Roberto Pires. Foi lançado em 1990, ou seja, somente 3 anos após o acidente.  No elenco, Nelson Xavier, Joana Fomm, Denise Milfont, Paulo Betti, Stephan Nercessian, Paulo Gorgulho, Thelma Reston e Marcela Cartaxo.
A obra utilizou os próprios sobreviventes da contaminação nos papéis menores e na figuração.
Festival
Chaga a 11ª edição, o International Uranium Film. Apesar do nome em inglês, foi criado pela professora da Faetec, Márcia Gomes Suchanek e o fotógrafo Norbert Suchanek. A expectativa é grande. É que a do ano passado, em plena pandemia, contou com a participação de 72 países. A curadoria baseia a escolha das obras nas que tragam no enredo temáticas, como: riscos de radioatividade, lixo nuclear, mineração de urânio e outras questões nucleares.
“Foi um trabalho muito grande organizar o festival em formato híbrido. Queremos encher a sala do museu, mas também fazer online para aqueles que não podem comparecer presencialmente. Será uma experiência nova pra gente, e estamos animados para saber qual será o resultado”, contou a idealizadora do projeto, a  Márcia Suchanek.
Troféu de Lixo
Ao contrário do Oscar, o troféu do Uranium Film Festival não é feito de ouro. Usa o lixo como matéria prima. As peças são confeccionadas pelo artista Getúlio Damado e seu filho, Victor Damado. O atelier da dupla fica a céu aberto, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
Dentre o material reciclado, os artesãos separam relógios antigos para lembrar das bombas atômicas americanas que destruíram  Hiroshima e Nagasaki. Os marcadores de tempo pararam exatamente às 8:15 e 11:02 , respectivamente, quando essas cidades foram bombardeadas no dia 9 de agosto de 1945