Otavio LeiteGabriel Vieira

Por Sidney Rezende
Advogado e parlamentar há 28 anos, o deputado federal Otavio Leite voltou à Câmara dos Deputados este ano, após sair de suplente e assumir a cadeira do agora secretário municipal de Governo e Integridade Pública do Rio, Marcelo Calero. Neste mês de junho, Otavio Leite alçou a presidência do PSDB do estado após seu antecessor, Paulo Marinho, decidir se mudar para São Paulo. Em entrevista ao jornal O DIA, o deputado tucano falou sobre o desafio à frente do partido e os planos da legenda para o ano que vem. Segundo Otávio, na esfera nacional é importante a construção de uma terceira via como opção a Lula e Bolsonaro. "Ser de um extremo, direita ou esquerda, é uma posição confortável, na qual não há preocupação em ouvir posições e ideias diferentes. São, em geral, pessoas que se acham donas da verdade. O difícil é ser ponderado. O equilíbrio não gera paixões, próprias de mobilizações sectárias. O fato é que só progrediremos como nação ouvindo todos os lados. Um governo com este perfil vai trazer mais avanços para o Brasil", disse.

Quais são seus planos à frente do PSDB do Rio de Janeiro?

Nosso principal desafio é ajudar na construção de uma candidatura de centro para o Brasil, que hoje vive uma polarização radicalizada e infrutífera. Os extremos se isolam, já o centro constrói o futuro, com diálogo. Acreditamos, sinceramente, que o partido tem um vasto acervo de simpatizantes que, diante do cenário político futuro, hão de se reencontrar e estabelecer um nível de participação, mesmo que online. É um partido que tem história, e muitas contribuições para o país e para o estado do Rio de Janeiro. Vamos trabalhar para resgatar essas identidades, ao mesmo tempo em que vamos procurar atrair boas cabeças que queiram olhar com otimismo para o futuro do Brasil.

O seu partido pretende lançar candidato próprio ao governo estadual?

Agiremos em consonância com os objetivos nacionais do partido. Há muita estrada pela frente.

O senhor se disse favorável a prévias internas. Como será?

Vamos realizar prévias com os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP), o ex-senador Arthur Virgílio e o senador Tasso Jereissati. Todos são importantes quadros. Será uma grande oportunidade para a elaboração de um programa para o país, com a participação da sociedade civil, e que represente um novo tempo, de esperança.

No âmbito nacional, o senhor pretende trabalhar por uma terceira via?

Sim. O PSDB do Rio vai trabalhar por isso. Ser de um extremo, direita ou esquerda, é uma posição confortável, na qual não há preocupação em ouvir posições e ideias diferentes. São, em geral, pessoas que se acham donas da verdade. O difícil é ser ponderado. O equilíbrio não gera paixões, próprias de mobilizações sectárias. O fato é que só progrediremos como nação ouvindo todos os lados. Um governo com este perfil vai trazer mais avanços para o Brasil. O Brasil precisa de paz, e é preciso mostrar às novas gerações que há vida na política que não seja no âmbito desses extremos, que têm produzido rancor, ódio.Tudo isso é maléfico para a saúde da nossa democracia. É necessário articular uma força política ampla, que dê voz e represente uma grande parcela da população, que busca o bom senso.

Qual o perfil de candidato ao governo do Estado e à presidência que o senhor considera ideais para ter o apoio dos tucanos?

Para presidente, alguém que seja capaz de botar o dedo na ferida do radicalismo. Com experiência, coragem e capacidade política. O perfil que buscamos é o de alguém que tenha a capacidade de unir. No caso do Rio, o Estado não pode mais se dar ao luxo de rupturas e atritos que levem à estagnação das atividades administrativas e à fragilização da identidade fluminense. Percebo que o governador Cláudio Castro tem feito este dever de casa.

O povo do Rio tem protestado contra o aumento da influência das milícias, tráfico de drogas e violência policial. Como enfrentar e vencer estes problemas?

Em tempos de avanços tecnológicos, que permitem, por exemplo, rastrear a circulação do dinheiro e realizar sofisticadas escutas, é indispensável que apostemos todas as fichas numa investigação mais eficiente para desbaratar e prender as quadrilhas. Por outro lado, é preciso qualificar com muito mais rigor as forças policiais, para que o exercício das suas funções não resulte em tragédias, com perdas de vidas inocentes. Mas sou contra recuar ou paralisar as ações de combate mais diretas. A resposta penal, por sua vez, tem que ser mais dura, com ritos processuais mais ágeis.

A pandemia é um impedimento para a geração de empregos no Rio?

A pandemia gerou perda gigantesca de postos de trabalho pelo mundo todo. Ao mesmo tempo, forçou as empresas e os profissionais, de uma maneira geral, a encontrar modelos de produtividade compatíveis com o mundo digital. Estamos numa transição para consolidar um modelo laboral híbrido. O Rio possui um formidável potencial para esse novo momento. É hora de estimular todos os setores econômicos que se modernizam. Temos que ser o paraíso do empreendedorismo, micro, pequeno, médio e grande.

Qual é o caminho do desenvolvimento?

O Rio deve aproveitar até a última gota todo o potencial petrolífero, associá-lo ao potencial científico e a seus polos de desenvolvimento tecnológico. Além disso, haverá, assim que passarmos a pandemia, um boom do turismo. O Rio ainda é o desejo de consumo dos brasileiros e de muitos estrangeiros. É preciso dar toda a prioridade para a atração de turistas e para captação de eventos, seminários e congressos. Todo mundo quer vir ao Rio. Cabe fazermos uma busca ativa para isso, procurar novas empresas que possam se instalar aqui. Sem atividade econômica, tudo o mais vira fantasia ou discurso.

O senhor tem se aproximado do setor turístico. Qual a receita do novo PSDB para o pós-vacinação?

Abraço a bandeira do turismo desde o meu primeiro mandato como vereador, em 1992. Tenho consciência de que é um vetor indispensável, que atende, ao mesmo tempo, a uma vocação natural do estado, e é capaz de trazer dividendos socioeconômicos relevantes, gerando empregos e oportunidades de empreendedorismo das mais diversas. O significado turístico do Rio de Janeiro é um grande ativo que, por mais que se acumulem problemas, permanece sólido. Num primeiro momento, trata-se de fortalecer o turismo interno, seja de outros estados para o Rio, seja internamente no estado, da capital para o interior e vice-versa. Isso anima a oferta de serviços e produtos turísticos. Num segundo momento, por ser o Rio a face mais explícita do Brasil no exterior, será necessário muita promoção, a fim de que os desembarques internacionais cresçam, gerando consumo interno, emprego e renda.