Desde setembro, o litoral nordestino está sendo alvo da maior contaminação de óleo já registrada no Brasil, segundo especialista. Para David Zee, oceanógrafo e engenheiro costeiro e ambiental, a extensão atingida pelas manchas de óleo de petróleo e o tempo que elas permanecem na costa nunca ganharam a atual proporção.
Os primeiros relatos da presença da contaminação na região foram confirmados em 2 de setembro, em Pernambuco. Até agora, a origem do óleo permanece um mistério. Na sexta-feira, as manchas chegaram a Salvador, cidade mais ao sul do país atingida até agora. Com esse registro, o levantamento mais recente realizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), divulgado na última quinta-feira, aponta que 150 áreas de mais de 60 cidades dos nove estados nordestinos foram afetadas até o momento. Praias com potencial turístico como Porto de Galinhas e Boa Viagem, em Pernambuco; Praia do Forte, na Bahia; e Pipa, no Rio Grande do Norte, estão entre as atingidas. Rio Grande do Norte, aliás, é o estado com mais praias afetadas: 43.
Para David Zee, a possibilidade de as manchas chegarem ao Sudeste existe. "As manchas estão se alastrando rapidamente. Se descer um pouco mais, pode atingir zonas de fragilidade, como o Arquipélago de Abrolhos. Logo depois, chegará ao Espírito Santo, já na Região Sudeste", explica. Para Zee, a maior preocupação é que as manchas atinjam ecossistemas vitais para a manutenção do meio ambiente. "A ameaça é muito grande para os ecossistemas costeiros, para o turismo e para a pesca de subsistência. Nesses 2.500Km de costa já atingidos, que representam dois terços do litoral brasileiro, temos os manguezais do Maranhão e 1.500Km de costa arenosa, do Piauí ao Rio Grande do Norte, com um conjunto de recifes muito importante. Uma vez chegando na praia, é provável que cheguem aos corais", disse.
Até sexta-feira, quinze animais marinhos morreram pelo óleo, sendo 13 tartarugas, uma ave e um golfinho. Na semana passada, o Projeto Tamar suspendeu as solturas de filhotes de tartarugas marinhas no litoral norte da Bahia.
O óleo misterioso já atingiu 12 unidades de conservação federais. A poluição ameaça a pesca de mais de 4 mil pessoas da região e pode afetar a vida de animais marinhos, como o peixe-boi, que está na lista de espécies ameaçadas de extinção.