Rio - O desfile das escolas de samba do Carnaval 2022 pode ser adiado para o mês de julho do próximo ano, caso seja necessário reduzir o público da festa. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (1º) pelo presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), Jorge Perlingeiro, durante uma sessão na Comissão Especial do Carnaval da Câmara Municipal do Rio. Perlingeiro justificou que com a redução, faltarão recursos para realizar o evento.
"A exemplo do futebol que já abriu os estádios, mas com capacidade reduzida, eu quero avisar a todos: Carnaval não é assim! Caso não possamos realizar o carnaval em sua plenitude no mês de fevereiro, o espetáculo será prorrogado para julho. Não podemos reduzir o seu tamanho, nem em público, porque assim não teremos dinheiro para bancar o evento e nem de participação dos componentes", declarou o presidente da Liesa.
A audiência também contou com a presença de representantes de blocos carnavalescos e de escolas de samba, especialistas na área de saúde e integrantes da Secretaria Municipal de Saúde, da Secretaria Municipal de Cultura, da RioTur e da vigilância sanitária municipal. De acordo com presidente da liga de blocos da Sebastiana, Rita Fernandes, os trabalhadores do Carnaval de rua têm enfrentado dificuldade de planejar os desfiles, devido à instabilidade nas decisões sobre a realização da festa no ano de 2022.
"Os blocos de rua são totalmente diferentes das escolas de samba. A maioria dos blocos de rua não têm patrocínio nenhum. Como vou pegar um dinheiro se não sei se vai acontecer a festa. Será que vai ter algum patrocinador que vai querer trabalhar comigo sem ter a certeza do evento?", disse a representante. "A ciência e a vida estão acima de qualquer decisão. Não faremos carnaval se os órgãos públicos não derem, em tempo hábil, o sinal verde de que há condições de realizar o carnaval de rua em 2022", continuou Fernandes.
Um documento produzido pelo pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o pneumologista Hermano Castro, e pelo professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFJR), o epidemiologista Roberto Medronho, aponta indicadores mínimos para a realização de um evento de grande porte como o Carnaval, entre eles, estão um índice de pelo menos 80% da população totalmente vacinada, a baixa taxa de contágio, a disponibilidade de leitos e enfermarias e a testagem para os trabalhadores do Carnaval.
"Qualquer evento há riscos de ter doenças infecciosas das mais variadas. Esses indicadores são para nortear a decisão de ter ou não Carnaval, mas para além disso, precisamos, em função não só das questões econômicas, mas também das questões referentes à saúde mental de todos, saber que há incertezas, entretanto os benefícios em realizar esses eventos podem superar os riscos de sua realização", acredita Medronho.
Segundo o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, a estimativa é de que, até o final de novembro, todas as principais restrições impostas por conta da pandemia de covid-19, deixem de valer na cidade. Entretanto, Soranz esclareceu que a decisão final sobre o Carnaval do próximo ano vai depender das taxas de transmissão no final deste ano.
"Acreditamos que, até o final do mês de novembro, possamos derrubar praticamente todas as principais restrições na cidade do Rio de Janeiro. Mas, se tivermos uma taxa de transmissão alta, por si só, já não dá para fazer carnaval", explicou o secretário, que disse ainda que a expectativa é ter mais de 90% da população adulta carioca com o esquema vacinal completo em novembro.
"A expectativa é ter mais de 90% da população adulta carioca vacinada com a segunda dose até meados do mês de novembro. A gente acredita que até dezembro vamos ter um panorama epidemiológico muito diferente, se não tiver uma nova variante (...) Mas é uma doença nova, tem outras variáveis que podem interferir no processo, e é preciso cautela", completou Soranz.
De acordo com a atualização das 15h30 desta sexta-feira do Painel Rio COVID-19, 71,3% da população maior de 18 anos do Rio já tomou as duas doses da vacina contra o novo coronavírus ou a dose única. A primeira dose já contemplou 99,8% do grupo. O titular da SMS afirmou ainda que a presidente da RioTur, Daniela Maia, já havia enviado um ofício solicitando que o Comitê Científico se manifeste e dê um parecer sobre a realização ou não do carnaval.
O presidente da Comissão, vereador Tarcísio Motta (PSOL) afirmou que as recomendações serão encaminhadas para análise do Comitê Científico, que auxilia a Prefeitura do Rio a tomar decisões referentes à Covid-19 no município. "Cobraremos para que a Prefeitura possa tornar pública quais são essas condições, critérios e protocolos para confirmar a realização do Carnaval e garantir a segurança da cidade antes, durante e depois do carnaval de 2022."
Para a vice-presidente da Comissão, vereadora Monica Benicio (PSOL), será um desafio pensar na realização de um evento de massa no período pós-pandemia. "Com o retorno da celebração do Carnaval, como é que a gente vai manter as suas características e a sua dinâmica após um dos mais graves colapsos do sistema de saúde do mundo?", questionou.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.