Em turnê internacional, Lagum fala sobre desafios da pandemia e retorno aos palcosDivulgação / Webber Pádua

Após dois anos de pandemia e muitas mudanças, a banda Lagum está de volta aos palcos com toda a energia e disposição que sempre teve. Ao som das músicas do novo álbum, "Memórias (de onde eu nunca fui)", o grupo vem levantando o público e o astral das cidades por onde passa. Com uma pegada mineira inconfundível, Pedro, Jorge, Chico e Zani encerram sua segunda turnê pela Europa e se preparam para mais um grande passo na carreira: o festival próprio da banda, chamado "A Ilha".
O grupo, formado em Belo Horizonte, Minas Gerais, já tem oito anos de estrada, com três álbuns e diversos sucessos. Cantando uma mistura de pop, rock e reggae, Lagum cresceu entre o público jovem e alcançou o topo das paradas em 2018, com o hit "Deixa", uma parceria com a cantora Ana Gabriela. Desde então, a banda vem sacudindo os palcos pelo Brasil com um som animado, que celebra a juventude, as descobertas e os bons momentos da vida.
Para levar tanta energia ao público, eles contam que têm um ritual especial. "Antes de a gente entrar no palco, nós entoamos um mantra de positividade e fazemos uma oração clássica do teatro, que diz: 'Eu seguro sua mão na minha, você segura minha mão na sua, para que juntos possamos fazer aquilo que eu não posso, aquilo que eu não quero e aquilo que eu não vou fazer sozinho'", conta Pedro Calais, vocalista do grupo.
Este ano, no tão esperado retorno à estrada, Lagum já rodou o Brasil, lotando casas de show no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Salvador e muitas outras cidades do país. "Cada show é um show, mas a maioria dos meus momento favoritos são quando tocamos 'Eu e minhas paranoias'. É quando o pau começa a quebrar mesmo, a turma pula sem parar e eu mais me divirto no palco", relembra Zani, guitarrista da banda. "É o meu momento preferido também. No final dessa música, a gente faz uma parte 'hard core', a galera grita, vira tudo uma loucura", concorda Pedro.
Eles não pararam por aí. A banda está na Europa, em uma turnê internacional, com shows em Portugal, nas cidades de Porto e Estoril, e em Londres, na Inglaterra. "A expectativa é sempre altíssima. Tocar em outro país é um momento muito grande da carreira, que precisa de um grande planejamento. Finalmente estar aqui, com tudo isso acontecendo, para nós é a realização de um sonho", afirma Jorge, que também é guitarrista.
Essa não é a primeira vez que eles se apresentam do outro lado do oceano. Em 2019, eles estiveram em Portugal, para tocar em Porto e Lisboa. "A gente teve uma excelente primeira passagem pela Europa, com shows esgotados e a galera cantando. Esperamos isso de novo, que o público aumente e que a gente possa entregar um show ainda melhor. Não vou esconder que sempre dá um frio na barriga, mas as expectativas são altíssimas e estamos muito felizes de estar aqui pela segunda vez", completa.
Outro grande projeto da banda é o festival "A Ilha", que vai acontecer no Mineirão, em Belo Horizonte, no dia 25 de junho. O evento vai contar com a participação de artistas como Marcelo D2, Rubel, Melim e Gabriel do Borel. O nome foi escolhido com base no símbolo do grupo e carrega um significado especial. "Criar um festival próprio é uma oportunidade de expandir nosso universo. Já usamos a ilha no logo da banda, e fazer um festival com esse conceito é uma maneira de fortalecer nossa identidade, quem a gente é, o que a gente ouve e consome", analisa o vocalista.
Em seu álbum mais recente, "Memórias (de onde eu nunca fui)", lançado em dezembro de 2021, os integrantes se inspiraram em lembranças marcantes e experiências que viveram ao longo dos anos. "A música 'Festa Jovem' é inspirada em um momento clássico da nossa jovem vida adulta. Hoje em dia fazemos menos porque passamos muito tempo na estrada, mas a gente, de fato, fazia uma festa. Cada um convidava amigos de fora, colocávamos músicas aleatórias e nos divertíamos. É uma festa tradicional dos nossos amigos", revela Pedro.
O disco, que conta com sucessos como "Ninguém me ensinou" e "Musa do Inverno", foi criado durante o período de isolamento, causado pela pandemia da covid-19. Segundo os integrantes, as dificuldades não foram poucas. "O processo de produzir na pandemia é uma coisa que a gente só vai ter noção daqui a alguns anos, quando a gente puder se desvincular um pouco e olhar para trás sem nenhuma carga, mas com certeza foi muito difícil", diz Jorge.
"Muitas vezes tínhamos que nos comunicar à distância com os produtores e, por ser uma banda que depende muito do ao vivo, nossos lançamentos estão muito vinculados à estrada. A gente lançava uma música e não tinha um parâmetro real de qual era a resposta do público, se ela estava dando certo ou não. Foi um momento muito difícil de produção, mas acho que só vamos ter a dimensão mesmo daqui a alguns anos", completa.
A banda, inicialmente formada por Pedro, Chico, Zani, Jorge e Tio Wilson, sofreu uma grande perda na pandemia. Durante um intervalo entre dois shows, em setembro de 2020, o baterista da banda, mais conhecido como Tio, teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. A canção "Ninguém me ensinou", um dos grandes sucessos do grupo, foi lançada em homenagem ao músico e é uma das favoritas dos integrantes. "É a minha preferida do álbum pelo significado que ela carrega para nós como grupo e pela baita 'sonzera' que a gente conseguiu arrancar dos nossos instrumentos", conta Pedro.
Agora, de volta aos palcos sem o Tio, a banda faz questão de homenagear o legado do baterista em todos os shows. "A gente recebe tanto carinho, lembramos de coisas positivas, memórias dele com a gente. A todo momento celebramos ele nas músicas, nos vídeos, nas falas do Pedro. Acho que tudo que poderia vir na forma de saudade, de um peso ou de uma dor se transforma em uma presença positiva. Não de uma maneira física, mas de uma presença espiritual e musical, que só a música consegue trazer", declara Jorge.
*Giovanna Durães é estagiária sob supervisão de Tábata Uchoa