Casas Casadas, patrimônio do Rio, em LaranjeirasRenan Areias

Rio - A cidade do Rio está prestes a ganhar um novo cinema de rua, mais precisamente nas Casas Casadas, patrimônio tombado em 1979, que fica em Laranjeiras, na Zona Sul. Construído no sexto edifício do conjunto, o espaço, que tem inauguração prevista para maio, será batizado como CineCarioca José Wilker, uma homenagem ao ator e crítico de cinema morto em 2014.

A construção aproveitou a estrutura de uma antiga sala de cinema, que foi remodelada e ganhou um segundo espaço, além de uma área de convivência, um cantinho gastronômico e um memorial em homenagem a Wilker, com objetos pessoais do ator cedidos pela família.


De acordo com o secretário Municipal de Cultura, Marcelo Calero, a programação e os filmes exibidos serão de responsabilidade do gestor, a ser definido até o fim de março. A licitação já foi aberta e atualmente está na fase de recursos. "Há algumas diretrizes expressas no edital que foi publicado para a gestão do complexo, como a obrigatoriedade de uma programação que seja diversa e respeite as regras da Lei de Cota de Tela para conteúdo brasileiro", revela.

Calero ressalta que a empresa vencedora deverá cumprir algumas contrapartidas sociais, como compor seu quadro de funcionários com, pelo menos, 30% de mulheres, pessoas pretas ou com deficiência, e disponibilizar à RioFilme 12 sessões anuais, sendo uma por mês. "O objetivo é gerar impacto social junto à população, alcançando, por exemplo, crianças da rede pública municipal de ensino e ou grupos vulneráveis que têm pouco acesso às salas de cinema", explica.

Após a assinatura do contrato com a prefeitura, o novo gestor terá um mês para iniciar as operações do cinema. O cronograma prevê que o início será na primeira quinzena de maio.

Homenagem 

Segundo Marcelo Calero, o tributo a José Wilker teve duas motivações significativas. "A primeira é a possibilidade de homenagear a memória inestimável que o patrimônio artístico do Wilker deixa como legado para a cultura brasileira. A segunda é seu trabalho como gestor, quando foi diretor-presidente da RioFilme, e dedicou-se pessoalmente para que a sede da empresa ocupasse as Casas Casadas", detalha.

Mariana Vielmond, filha do ator, diz que a ideia surgiu de forma espontânea, quando, em uma visita ao local, avaliavam o projeto de recuperação do cinema e surgiu a lembrança do seu pai, resultando na homenagem.

"Fico muito emocionada. A gente percebe como ele realmente continua presente na memória das pessoas, e isso é muito especial. É um reconhecimento também do esforço dele, de apoiar as políticas públicas da cultura", comenta a roteirista, que está acompanhando de perto a reforma. "Eu tenho muito desejo que esse espaço se torne um polo de de reflexão, que reúna muitas cabeças criativas, com o propósito de facilitar o acesso do grande público a todo tipo de cultura. Gostaria de ver palestras, eventos, rodas de conversas, estreias… Porque isso representa muito o meu pai".

O desejo de Mariana está nos planos da prefeitura. "A nossa ideia é agregar ações culturais que dialoguem com o audiovisual, como lançamento de livros sobre o tema, realização de pré-estreia de filmes brasileiros e outras possibilidades", revela Calero.

Resgate 

A construção do cinema nas Casas Casadas faz parte de um projeto da Prefeitura do Rio de investir na ampliação das salas de cinema de rua da cidade. Em outubro de 2021, o Complexo do Alemão recebeu o CineCarioca Nova Brasília. Agora, além do CineCarioca José Wilker, serão reabertos o Cine Penha e o Ponto Cine de Guadalupe, na Zona Norte, e o Cine Santa, em Santa Teresa.

"A abertura dos cinemas de rua é um pleito importantíssimo da população e do setor exibidor. Os cinemas de rua são amplamente democráticos, e conseguem impactar um público que as salas de shopping não alcançam", conclui o secretário.