Rio - Ele se chama de o ‘grande sereio’. E, ao contrário da personagem Ariel (do filme ‘A Pequena Sereia’), o jovem Davi Moreira, 22 anos, queria trocar suas pernas por uma cauda de peixe. O estudante de Artes Cênicas tem chamado atenção nas praias do Arpoador e do Leblon por ser adepto do ‘sereísmo’ — misto de moda e estilo de vida que inspirou desde fantasias de Carnaval até a trama da próxima novela das 21h da TV Globo, ‘A Força do Querer’.
O que para alguns parece brincadeira (“Muita gente critica, diz que eu não contribuo para o PIB do país”, diz Davi), pode ser uma opção de carreira. Davi Sereio cobra até R$ 200 para participar de eventos, cantando paródias e sucessos de Inês Brasil e MC Pepita. E dançando. “Dá para dançar sim! Fico deitado igual a um peixe, me debatendo”, brinca. O sonho dele é se apresentar no AquaRio.
O sereio não se considera profissional, no entanto. Para tanto, ele explica, é necessário obter a bênção de uma das Sereias Profissionais — como Mirella Ferraz, a primeira a adotar a carreira no Brasil e que deu aulas para Isis Valverde, que será a protagonista da novela que estreia em abril.
Foi com Mirella que Davi comprou sua primeira cauda. Feita de neoperene, tecido de roupas de mergulho, ela custa R$ 429 e pesa 7kg. O traje mantém as pernas juntas e os pés presos em uma monobarbatana, espécie de pé de pato. Versões profissionais, de silicone, pesam até 40kg. Além de nadar bem, as sereias têm que manter olhos e sorriso aberto debaixo d’água. Para aprender o ofício, existem até escolas — como a Academia Sirenas, na Espanha.
Para Davi, porém, ser ‘sereio’ não é só um ganha-pão, mas um modo de ser. O masculino de sereia, aliás, é tritão, mas ele quis optar por um meio-termo. “No sereísmo, você se identifica com o mar de forma única. Vai além dos padrões da sociedade, é coisa de alma, um estilo de vida. É respeitar as praias, a natureza, o mar, os animais. É ser metade humano e metade peixe”.
Apesar de amigo dos animais, o sereio não é vegetariano: “Passando em frente à peixaria, fico nervoso. Mas adoro linguiça. E não posso ver um churrasco”, brinca.
Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat