Diretor Pedro Henrique Franc?a critica fala de Tadeu Schmidt no BBB 24 sobre PCDReprodução/Instagram e Globo
Diretor aponta capacitismo em fala de Tadeu Schmidt no BBB 24: 'atestado de ignorância'
Atriz Juliana Caldas comenta em publicação de Pedro Henrique Franca: 'Até quando vamos ter que ouvir que é um assunto novo?'
Rio - Depois que o participante Vinícius Rodrigues enfrentou problemas para realizar a primeira Prova do Líder do "BBB 24" por usar uma prótese que não era à prova d'água, ele ainda ouviu piadas do cozinheiro Maycon sobre o membro artificial usado para substituir uma perna amputada.
No programa de terça-feira, 9, o apresentador Tadeu Schmidt chamou o atleta paralímpico ao confessionário para entender questões relacionadas às próteses que ele levou para o programa e a dificuldade de mergulhar na piscina de gosma por não usar o modelo adequado para a situação.
"Quando a gente fala de prótese, de deficiência, é um assunto novo para muita gente", iniciou o apresentador. O diretor, roterista e jornalista Pedro Henrique Franca criticou a fala de Tadeu e desabafou no Instagram sobre o tema.
"Um assunto novo pra muita gente”. Cara @tvglobo , caro @tadeuschmidt, deixa eu lhes contar uma coisa: PCD não é um assunto, são seres humanos, que existem há séculos. O apresentador do programa de maior audiência da emissora chamar o participante PCD ao vivo para dizer que “é um assunto novo pra muita gente, muita gente não sabe o que pode ou deve falar” é um atestado de ignorância e capacitismo. PCDs não são um assunto novo, eles existem desde que o mundo é mundo. O constrangimento que se provocou ao participante PCD deveria ser direcionado ao participante - capacitista -, o Maycon, que quis dar um apelido à prótese", iniciou Pedro que também é PCD.
Alguns exemplos de capacitismo são: expressões inadequadas; olhares de julgamento; invasão de privacidade e ausência de pessoas com deficiência em diversos espaços.
O diretor ainda reforçou no texto que não cansará de repetir: não adianta só botar um PCD no elenco, tem que ter na direção, no roteiro, na supervisão. "Esse é um erro clássico e histórico da maior emissora do país, seja no Criança Esperança, seja nas novelas, que acumulam incontáveis casos de cripface (quando uma pessoa sem deficiência interpreta um personagem com deficiência). A maior emissora do país tem obrigação de ter representatividade, cuidado e sensibilidade, afinal o BBB tem um alcance enorme. E o programa não pode simplesmente se isentar de ter participantes com deficiência - esse é o segundo PCD que participa do reality em 24 edições (!!!!) - apenas por “não saber como agir”", continuou.
"O ano é 2024 meu povo. Não dá mais. Não adianta fazer comercial PCD friendly fingindo cinicamente ter alguma preocupação com o assunto. Diversidade e inclusão passa por mexer na estrutura. É aqui que mora a raiz do problema. Tadeu ontem tinha a oportunidade de dar uma aula anticapacitista em rede nacional. E o que fez foi praticamente desculpar o capacitista ao dar uma chancela para que todos se escorem na ignorância para seguir praticando capacitismo recreativo. A saída de Maycon amanhã será um recado anticapacitista. Mas a maior emissora do país precisa logo correr atrás desse prejuízo que afeta quase 20% da população, que segue ora invisibilizada, ora servindo de risada para o deleite daqueles que riem das nossas existências. Não deu nem tempo de comemorar essa participação. A carinha de Vinicius ao ouvir a chacota todos nós PCDs (re)conhecemos. E não podemos mais naturalizar isso", concluiu.
Pedro Henrique Franca é fundador da produtora Representa, com foco na Diversidade, diretor do documentário 'Corpolítica', produzido por Marco Pigossi e é apresentador do podcast PCDPod.
A atriz Juliana Caldas, que tem nanismo, e atuou na novela "O Outro Lado do Paraíso" (2017) concordou com o desabafo de Pedro Henrique.
"Até quando vamos ter que ouvir 'é um assunto novo pra gente'. Ah, me poupe né, estamos em 2024, a internet está aí com várias informações... E ainda é um assunto novo... Fala sério, como jornalista ou produtores teriam que estudar antes de só dizer blá blá blá É muito fácil falar em empatia, agora colocar em prática são pra poucos", opinou.
Durante a Prova do Líder, Vinícius Rodrigues enfrentou dificuldades por ter que merguhar em uma piscina de gosma com uma prótese que usa na perna, que não era ideal para essa dinâmica. Além disso, Maycon perguntou ao atleta se poderia apelidar a prótese e sugeriu chamar de "cotinho".
Equipe de Maycon se manifesta
A equipe de Maycon, do BBB 24, se pronunciou na terça-feira (9), após o participante ter sido acusado de capacitismo por internautas.
"Como equipe, administradores do perfil do brother, lamentamos sinceramente pelo ocorrido. Acreditamos que o Maycon terá a oportunidade de refletir sobre suas falas e ações, e perceber que pode evoluir e aprimorar seu desenvolvimento pessoal. Estamos aqui para apoiá-lo nesse processo de crescimento, compreendendo que todos enfrentamos desafios e temos oportunidade para aprender e melhorar", diz a nota publicada nas redes sociais do participante e posteriormente apagada.
Já no X, antigo Twitter, a equipe de Maycon falou sobre o brother ter escolhido Vinicius para realizar o percurso na prova. "Sobre a escolha do Maycon na prova, lembramos que a equipe do Big Brother Brasil cria desafios visando a participação de todos os Brothers & Sisters, garantindo que cada um tenha a capacidade e oportunidade de se envolver plenamente", escreveu.
O cozinheiro está no primeiro Paredão do BBB 24 com Yasmin Brunet e Giovanna.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.