Rio - No Carnaval de 2014, quando foi aplaudida na Sapucaí com o enredo “É brinquedo, é brincadeira, a Ilha vai levantar poeira” e terminou em quarto lugar no Grupo Especial, a União da Ilha do Governador trouxe pela última vez uma ala composta por crianças. Mas, como “ser criança não é brinquedo, não”, a agremiação não deixou os pequenos de lado e fundou uma escola mirim em agosto daquele mesmo ano, a Cavalinhos Marinhos da Ilha. O grupo responsável pela molecada foi formado por seis pessoas, entre elas uma já era bastante conhecida entre os integrantes: a tia Leiloca.
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Leila Lopes Tutunji, de 54 anos, tem uma história de longa data na Ilha. Por influência do pai, que costurava roupas da Velha Guarda das agremiações do Rio, ela começou a frequentar a quadra da escola ainda jovem. “Minha relação era de fã. Fomos morar na Ilha e depois a escola começou a despontar. Eu cresci vendo isso. Meu irmão ficou por um bom tempo na bateria”, relembra.
Há 25 anos, Leila foi convidada para assumir a ala da comunidade da agremiação. Naquela época, a profissional exercia uma função administrativa e ajudava na inscrição dos componentes para o desfile. Já entre 2001 e 2008, período em que a escola da Zona Norte ficou no Grupo de Acesso, ela mudou de cargo e começou a participar da ala das crianças junto com outros integrantes. Leila se tornou a responsável pelo grupo apenas em 2009, quando a agremiação voltou à elite do Carnaval carioca. “Foi uma experiência muito boa”, diz.
Para tia Leiloca, o melhor desfile da ala mirim foi o de 2014, quando as crianças se vestiram com roupas representando todas as regiões do Brasil. “Elas tiveram uma maior visibilidade. Naquele ano, vim com 120 crianças e havia seis fantasias diferentes na ala”, relembra a profissional, acrescentando que formou a Cavalinhos Marinhos da Ilha com apoio da diretoria.
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Não é por acaso que a escola mirim foi batizada com esse nome. O símbolo da agremiação das crianças inclui o mesmo que aparece no brasão da União da Ilha: o cavalo marinho. Na imagem, há ainda uma coroa verde, que remete à Império do Futuro, e 17 bolhas que representam os bairros da Ilha do Governador. “Assim como toda escola tem uma madrinha, e no caso da Ilha é a Portela, convidamos a Império para nos batizar. É uma das primeiras escolas mirins fundadas no Rio”, destaca tia Leiloca.
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Com cerca de 400 componentes, a Cavalinhos ainda desfila na Estrada do Galeão e não entra na Sapucaí com as outras 16 escolas mirins na terça-feira de Carnaval. “É um trabalho ainda feito muito na comunidade. Fazemos nosso desfile um sábado antes do Carnaval, para que não atropele o trabalho de ninguém”, reforça a profissional, que também é servidora estadual. Ela vai à quadra da agremiação em alguns dias durante a semana para ajudar a escola mirim.
No Carnaval de 2016, a Cavalinhos contou a história do biscoito. Neste ano, as crianças farão uma releitura do enredo “Domingo”, de 1977, quando a União da Ilha terminou na terceira colocação no desfile que ainda era realizado na Rio Branco. Em paralelo aos preparativos para o desfile, a tia Leiloca organiza algumas oficinas pré-Carnaval, como de carro de som, bateria, carnavalesco, passista e mestre-sala e porta-bandeira.
Em relação ao desfile da União da Ilha deste ano, tia Leiloca não esconde a ansiedade. “As expectativas são as melhores possíveis. Quando eu entrava com as crianças na Avenida, não tinha uma vez que fosse pura emoção. Respiro fundo e vamos embora”, brinca a profissional.
Reportagem de Adriano Araújo, Gabriela Mattos e da estagiária Luana Benedito