Rio - A música levou a paixão pelo Carnaval, independente das dificuldades. Josias Araújo Souza de Moraes, de 19 anos, e Sophya Canuto Madeira, 19, ambos com síndrome de down, serão agora mestre-sala e porta-bandeira da escola de samba Acadêmicos de Vigário Geral no desfile do ano que vem, que virá com o tema "A Fantástica Fábrica da Alegria". Eles, que fazem parte do projeto da escola mirim Pimpolhos do Grande Rio há mais de oito anos, irão conduzir o quarto pavilhão da tricolor da Zona Norte.
Tudo começou na Fundação de Apoio à Escola Técnica, Ciência, Tecnologia, Esporte, Lazer, Cultura e Políticas Sociais (Fundec) de Duque de Caxias. Foi lá que Josias aprendeu a tocar instrumentos e a dançar, levando-o para o caminho carnavalesco. "Ele adora música e ama dançar. Já passamos por muitas situações complicadas, mas eu sou uma mãe guerreira e nunca desisto. Uma menina da Fundec, onde ele faz atividades, falou que eu deveria levar Josias para a Grande Rio e contou do projeto mirim, da Pimpolhos", contou a mãe de Josias, Maria José Araújo de Soares, de 64 anos.
"É importante essa inclusão porque as crianças ficam em casa, tomando remédio e tudo mais, ouvindo a sociedade falar que eles não são capazes. É por isso que eu trabalho nessa área, falo que eles são capazes de tudo. O céu é limite", completou Maria, que tem uma ala de pessoas com deficiência também na Pimpolhos da Grande Rio. "Eles precisam ser estimulados. É só dar oportunidade que eles conseguem fazer tudo. Minha ala é sucesso. Desfilamos todo ano com 25 a 30 crianças."
Josias, além de ser mestre sala, é também campeão de judô e conquistou a medalha de prata no último campeonato em julho desse ano. "Meu filho é um presente que papai do céu me deu e agradeço até hoje. Ele é tudo para mim", finalizou Maria.
A Acadêmicos de Vigário Geral será a terceira escola a cruzar na Marquês de Sapucaí em 2023, no dia 17 de fevereiro, com o enredo “A Fantástica Fábrica da Alegria” desenvolvidos pelos carnavalescos Marcus do Val, Alexandre Costa e Lino Sales.
Josias e Sophia têm uma longa lista de atividades. Josias, atualmente, está em um curso de alfabetização na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), informática na Fundec, natação em um projeto da Polícia Militar, percussão no projeto de musicoterapia oferecido pela Acadêmicos do Grande Rio e judô.
Sophia, também de Duque de Caxias, concluiu o ensino médio, faz curso de informática na Fundec, aula de violão e percussão na Acadêmicos do Grande Rio, ballet, natação e, desde o ano passado, começou no projeto Pimpolhos da Grande Rio.
"Minha filha nunca tinha tido oportunidade igual a essa. Seu primeiro desfile foi no início do ano e eu fui junto, para ajudá-la. Achei muito legal, ela ama carnaval e eu também", disse Edilma Canuto, de 52 anos, mãe de Sophya. "Ter essa chance de desfilar em uma escola grande agora, não tenho nem palavras. Acho muito importante porque o mundo vai vê-los e não só porque são eles, mas é uma porta que se abre para outras crianças também", completou.
Segundo a presidente da Acadêmicos de Vigário Geral, Elizabeth Cunha, conhecida como Betinha, a representatividade dos dois é muito importante. "Josias e Sophya são duas crianças extremamente incríveis e iluminadas. Quando os conheci pela primeira vez, logo os convidei para fazer parte do nosso time de casais", declarou.
A primeira porta-bandeira da Beija-Flor, Selminha Sorriso, comemorou ao saber do novo casal. "É super importante que os espaços sejam para todos, que haja condição igualitária, ou seja, humanização. A arte é muito responsável por trazer essa condição de igualdade", disse. "O samba sempre foi um espaço de acolhimento e de igualdade. Não há discriminação. Eu fico muito grata com a escolha deles de seguir a arte do ministério porta-bandeira. A arte transforma. Parabéns para quem entende que todos somos iguais", exaltou a veterana.
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