Grande Rio vai para a Avenida com cinco alegorias, três tripés e 24 alasRafael Arantes/Grande Rio

Rio - A Acadêmicos do Grande Rio vai convidar o público a conhecer águas encantadas na Sapucaí. O enredo 'Pororocas Parawaras: As Águas dos meus Encantos nas Contas dos Curimbós' contará a jornada de três princesas turcas que atravessaram os Portais da Encantaria em alto-mar e chegaram às praias do Grão-Pará, onde foram iniciadas no culto da Jurema, uma tradição afro-indígena. A escola de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, é a penúltima a desfilar pelo Grupo Especial, no dia 4 de março.


A escola retrata a história transmitida de geração em geração nos terreiros de Tambor de Mina da Amazônia, de como as princesas Mariana, Jarina e Herondina foram rebatizadas em Arara cantadeira; Jiboia vigilante; e Onça do meu destino, respectivamente, virando protetoras da floresta. Elas impediam invasores de adentrar território sagrado, quebrando embarcações com ondas fortes, que vieram a ser chamadas de pororocas, hoje o fenômeno natural de encontro das águas do oceano com os rios amazônicos.

"É um enredo que navega por essas águas da encantaria para contar essa história de matriz oral e de um complexo religioso muito bonito, que mistura as matrizes africanas com as raízes indígenas. É um enredo muito baseado nessa ideia de mistura, o próprio título já expressa isso", diz o carnavalesco Leonardo Bora. "A gente tem essa ideia de encontro, de cruza, de mistura. E as pororocas são as próprias princesas, como cantam as doutrinas do Tambor de Mina", completa. 
O carnavalesco diz que o desfile levará o público do Sambódromo em uma navegação pelo encantamento, por isso um barco de Miriti foi escolhido como símbolo durante a divulgação do enredo: "O enredo é conduzido por essas águas, que propõe que todo mundo navegue ouvindo essas histórias, a voz dos tambores de Curimbó, que são as vozes do encantado. A gente espera que seja uma navegação tranquila e também que guarda a força e a bravura das pororocas, uma grande onda de alegria na Avenida". 

Desfile terá diversidade plástica e destaque para o Carimbó

A Grande Rio vai para a Avenida com cinco alegorias, sendo o abre-alas acoplado, além de três tripés e 24 alas. Leonardo Bora destaca que o conjunto alegórico e de fantasias será baseado na diversidade de materiais e com linguagens própria em cada setor. A escola ainda terá as presenças das cantoras Naieme e Fafá de Belém, representando as princesas Jarina e Mariana, e a atriz Dira Paes, como Herondina. O carnavalesco garante que a junção dos elementos formará um grande espetáculo para os foliões. 
"A gente busca sempre esse ritmo, essa vivacidade, essa transformação, à medida que os setores vão avançando, que a escola vai fluindo. Há fios condutores ligando tudo isso, é um espetáculo coeso, mas cada um desses setores vai ter a sua identidade própria, sua linguagem específica. As pessoas podem esperar um desfile exuberante, como nos últimos anos, e muito diverso para contar essa saga que é tão poética", diz Leonardo Bora.

Além da saga das princesas turcas e das pororocas, o Carimbó também será um dos protagonistas da passagem da agremiação. A dança típica do Pará é uma das principais manifestações culturais do estado e vai estar presente não só nas fantasias e alegorias, mas no samba-enredo, que teve parceria de mestres do ritmo na composição.

"Nós temos um samba muito aclamado, muito poderoso, produto de uma parceria paraense em que os compositores são mestres de Carimbó. É um samba que traduz de maneira extraordinária aquilo que a gente chama de 'espírito do enredo', que nos leva a mergulhar por essas águas encantadas, da magia e do segredo. As pessoas podem esperar um desfile mágico, que vai convidar todo mundo para uma grande festa, para um grande banho de cheiro e para esse mergulho no Espelho do Encante", explica o carnavalesco. 
Parceiros desde 2013 e assinando os carnavais da Grande Rio há cinco anos, Leonardo Bora e Gabriel Haddad conquistaram um campeonato para a escola em 2022, o vice-campeonato em 2020 e o terceiro lugar em 2023. Bora atribui o sucesso da dupla - que também venceu títulos e alcançou boas colocações com a Mocidade Unida do Santa Marta, Acadêmicos do Sossego e Acadêmicos do Cubango - ao diálogo, respeito e admiração mútua entre eles.
"É uma parceria longa e muito ancorada na cumplicidade, na troca, no debate permanente de cada elemento do desfile. O diálogo é uma constante, é óbvio que qualquer trabalho carnavalesco não é fácil, então, tudo passa pelo debate, pelo respeito e pela admiração mútua que temos como artistas, com visões felizmente diferentes, que se complementam", pontua o carnavalesco, que descreve o trabalho com Haddad como a pororoca: "A gente falou tanto sobre encontro, nessa visão das pororocas, e nosso processo criativo é isso, sempre baseado nessa mistura de olhares, percepções, entendimentos".

Despedida de Paolla Oliveira

No domingo passado (16), Paolla Oliveira anunciou que o desfile de 2025 será seu último como rainha de bateria da Grande Rio. A atriz revelou que a preparação para uma novela e questões de saúde familiares a motivaram a deixar posto, mas garantiu que não será um adeus definitivo ao Carnaval e à escola. Ela estava à frente da Invocada desde 2020, depois de uma curta passagem nos anos de 2009 e 2010. Além do título em 2020, brilhou na Sapucaí ao desfilar com uma fantasia impactante, representando uma onça-pintada, em 2024.

"A Paolla é uma rainha extremamente querida pela comunidade e pelos torcedores da Tricolor de Caxias. Nós temos uma troca muito bonita com ela, porque ela topa as ideias, as propostas, sempre propõe muita coisa, sempre teve uma troca. Eu acredito que as pessoas podem esperar surpresas vindo por aí, sim", afirmou Leonardo Bora. 
Por problemas relacionados a conflito de agendas, a reportagem de O DIA não pôde visitar o barracão da Grande Rio na Cidade do Samba.