Segundo o IBGE, a projeção é de que, nos próximos anos, o Brasil chegue a marca de 58 milhões de pessoas com mais de 60 anos Freepik

Desde que se formou no ensino médio, Geisiane Machado da Conceição, de 37 anos, sempre trabalhou como secretária do lar. Há 4 anos, insatisfeita com o tipo de trabalho que desempenhava e com a remuneração, decidiu mudar o rumo da sua carreira. Matriculou-se em um curso de Técnico de Enfermagem e, depois de formada, resolveu se dedicar a trabalhar como cuidadora de idosos. “Gosto da minha profissão e já trabalho há 3 anos com idosos. Eu gosto de cuidar de quem não pode se cuidar mais sozinho", conta. 
A história de Geisiane vem se tornando cada vez mais comum no Brasil. Com o envelhecimento da população brasileira em ritmo acelerado, a ocupação de cuidador de idosos foi a que mais cresceu no país na última década, saltando de 5.263 para 34.051 — aumento de 547%, de acordo com os dados da pesquisa feita pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho e Previdência. 
Outras pesquisas também revelam que cresceram as buscas por cursos de enfermagem e de cuidadores de idosos. Com isso, nascem dúvidas sobre dos direitos e deveres da classe. A profissão ainda não tem uma regulamentação. A as atribuições e o perfil de quem desempenha essa tarefa estão descritos apenas na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).
Mesmo que profissionais de enfermagem exerçam a função, a orientação é de que também podem ser contratadas pessoas que fizeram cursos livres de cuidador, com duração entre 80 e 160 horas, maiores de idade e que demonstrem empatia e paciência. Entre as atribuições estão ajudar o idoso em toda a sua rotina, observar o comportamento, estimular a independência e, algumas vezes, passar a noite no trabalho.
Como ainda não existe um piso salarial definido para a área, a remuneração do profissional varia de acordo com cursos de especialização feitos e horas de trabalho. De acordo com a CBO, a jornada de trabalho deve ser estabelecida em tempo integral, revezamento de turno ou períodos determinados.
Na prática, o salário médio para quem trabalha 8h diárias e 40 ou 44 horas semanais costuma ser de R$ 1.200, podendo chegar a R$ 2.000, dependendo da região e nível de qualificação. Para o profissional que trabalha à noite, a remuneração mensal gira e vai de R$ 1.800 a R$ 4.500, de acordo com dados de entidades como a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. 
Direitos do cuidador
Segundo o especialista em direito trabalhista Felipe Pires Queiroz, pela falta de regulamentação, muitos profissionais acabam fazendo escalas de trabalho exaustivas e até ilegais, chegando a ficar com o paciente seis dias consecutivos, sem ir para casa.
"Não existe regulamentação para atividade de cuidador e, por essa, razão são realizadas escalas excessivamente exaustivas e ilegais, como de 24x24 ou 48x48 ou ainda trabalho em mais de 12h de trabalho por dia, seis dias na semana. Já tivemos casos em que o cuidador só retornava para casa um dia na semana, ficando à disposição do paciente por 6 dias de forma ininterrupta", conta o especialista.
Os dados do Ministério do Trabalho não levam em consideração pessoas que atuam informalmente na área, mas apenas aqueles que possuem registro em carteira ou são estatutários. Por isso, o especialista ressalta os direitos de quem exerce a profissão sem registro em carteira. “É importante lembrar que o cuidador de idosos que trabalha três vezes ou mais na semana em ambiente residencial, recebe ordens, recebe remuneração pelo trabalho tem o direito de ter a carteira assinada, pois preenche todos os requisitos legais”, afirmou.
Há ainda as empresas de home care que fornecem mão de obra especializada de cuidadores a contratantes residenciais, mas não assinam a carteira de trabalho dos profissionais, gerando um grande risco trabalhista, tanto para os empregadores quanto para as pessoas que contrataram o serviço. 
“Ao contratar serviço de empresa de home care, é importante verificar se há no contrato entre a empresa e a família, uma cláusula de responsabilização por eventuais créditos oriundos de demandas trabalhistas e se o profissional que será disponibilizado tem a carteira de trabalho assinada”, completou.
Longevidade amplia mercado de trabalho
Os brasileiros estão vivendo mais. A ampliação do mercado de trabalho para os cuidadores de idosos confirma esse fenômeno demográfico. De acordo com o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), a projeção é de que o Brasil chegue a 39 milhões de idosos na próxima década — o número de pessoas com mais de 65 anos no país ultrapassará o total de crianças até 2030.
Em meio a esse crescimento, o projeto de lei 11/2016 — que regulamenta a atividade e determina as atribuições de quem trabalha não só como cuidador de idosos, mas também de crianças e de pessoas com deficiência ou doenças raras — foi aprovado pelo Senado em junho de 2019, mas, até hoje aguarda sanção presidencial. "A importância da lei é assegurar os direitos trabalhistas mínimos e, consequentemente, dar dignidade à categoria", ressalta Queiroz.