Retomada do mercado de trabalho no Rio empolga profissionaisReprodução

Os trabalhadores que passaram o período de pandemia afastados do mercado de trabalho encontram um cenário mais esperançoso. De acordo com o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no acumulado de janeiro a junho de 2022, foram geradas 1,3 milhão de vagas, 14,2% a mais do que no mesmo período de 2021. O número é resultado de 11,6 milhões de admissões menos 10,2 milhões de desligamentos no primeiro semestre.

Na cidade do Rio de Janeiro, apenas no mês de junho foram gerados 13,2 mil postos de trabalho formais frente a 7,8 mil no mesmo período de 2021. O principal responsável pelo resultado em ambos os casos foi o setor de serviços, que concentrou 74,5% em junho deste ano e 76,3% em junho de 2021. Os dados são da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS).

Um dos impulsionadores dessa mudança tem sido a Secretaria Municipal de Trabalho e Renda (SMTE), que, com base no seu banco de dados, indica o candidato com o perfil mais adequado à vaga cadastrada em seu sistema. De janeiro a julho deste ano, 1.217 pessoas já foram contratadas por meio da pasta. O resultado é quase o dobro do observado no mesmo período do ano passado, quando o total ficou em 527.

Para o secretário municipal de Trabalho e Renda, Alexandre Arraes, o resultado é fruto das mudanças implementadas na pasta. “Passamos a atuar com nossos públicos desde o início na etapa de captação, passando pela capacitação, até o ponto final da jornada, a inclusão no mercado formal”, diz o secretário.

A secretaria oferta cursos de capacitação de acordo com as necessidades das empresas. “Isso aumenta nossa taxa de conversão e melhora nossos resultados”, afirma Arraes. Além de receber funcionários melhor preparados, as instituições que contratam pela SMTE têm maiores chances de encontrar um candidato mais alinhado ao perfil desejado.

“Estamos fazendo uma análise mais apurada, não só do perfil do candidato, mas também do perfil das vagas e expectativas das empresas. Passamos a utilizar melhores recursos de gestão de dados, o que nos permite ter amostragens de perfil e comportamento dos candidatos mais próximos do que os RHs das empresas estão buscando no mercado”, explica o secretário. Diante desse cenário, a expectativa da pasta é dobrar o número de colocações até o fim do ano.

Para aqueles que já foram beneficiados pela medida, a felicidade é enorme. Este é o caso de Anália Paiva, que passou a pandemia inteira longe do mercado formal de trabalho. Sendo a única provedora da família, composta por ela e por sua filha de um ano, Anália começou a vender produtos naturais nas ruas. “Como a maioria das mulheres que criam os filhos sozinhas, eu tenho que trabalhar, pagar aluguel, pagar creche e cuidar da minha filha”, conta.

Na tentativa de voltar à atividade formal, ela passou um ano e meio se candidatando para diferentes vagas. “Estava muito difícil arrumar emprego. Eu coloquei currículo em todos os lugares e ninguém me chamava”. Apesar das várias negativas, Anália não desistiu. Em junho, procurou uma das unidades da SMTE, fez o cadastro e logo recebeu uma carta para entrevista. “Eu fiquei feliz, muito feliz mesmo. Nossa! Eu fiquei com pensamento positivo. Agora, estou trabalhando, estou seguindo e está sendo muito bom”, diz a nova auxiliar de açougue de uma rede de supermercados.
Anália Paiva, auxiliar de açougue, contratada por uma rede de supermercados - Arquivo pessoal
Anália Paiva, auxiliar de açougue, contratada por uma rede de supermercadosArquivo pessoal
Assim como Anália, o especialista em ciências contábeis Ricardo Luiz da Silva passou um longo período fora do mercado. Foram dois anos e meio trabalhando informalmente e atuando como motorista de aplicativo. “O que mais me preocupava, além das contas que não paravam de chegar, era a pandemia, quando tudo começou a fechar. Aquilo foi uma coisa terrível porque não tinha ninguém chamando para fazer entrevista, ninguém chamando para trabalhar, tudo parado. O que mais me preocupou foi essa situação: estar desempregado em uma pandemia sem saber onde procurar emprego. Até para rodar de Uber foi complicado”, lembra.

Depois de muitas buscas em sites de emprego, ele recebeu uma ligação da SMTE, que o convidou para participar de uma entrevista. “Na mesma hora eu disse que sim. Fiquei muito surpreso e feliz pela oportunidade”, conta o profissional. Ao receber a notícia da aprovação, Ricardo não se conteve. “Eu fiquei muito em êxtase. Sabe aquele grito de campeão que você não grita a muito tempo? Então aquele grito preso na garganta tipo: consegui um emprego, consegui me recolocar! Eu sou grato a Deus e a muitas pessoas que rezaram por mim, que oraram por mim. Muita gente via minha luta de buscar uma oportunidade, tava muito difícil, tá muito difícil ainda”, diz o especialista em ciências contábeis.

Desde que assumiu seu novo posto, Silva tem vivenciado uma melhora na sua qualidade de vida. Trabalhando próximo de casa, ele consegue levar sua filha à escola todos os dias. No emprego, o ambiente de trabalho também melhorou a qualidade do especialista em ciências contábeis. “É muito revigorante estar trabalhando, estar em um ambiente agradável, com novas oportunidades, aprendendo coisas novas, revendo coisas que eu já vi, reaprendendo, ressignificando algumas coisas e conhecendo pessoas novas. Tendo a oportunidade de estar em um ambiente agradável, onde você pode participar, onde você é ouvido, onde você pode levar as suas ideias. É muito prazeroso trabalhar assim”, conta.
Ricardo Luiz, especialista em ciências contábeis, contratado por uma empresa do setor imobiliário - Arquivo pessoal
Ricardo Luiz, especialista em ciências contábeis, contratado por uma empresa do setor imobiliárioArquivo pessoal


Aumente suas chances

Na busca pelo retorno ao mercado de trabalho, algumas atitudes podem aumentar as chances de contratação, a começar pela forma de procurar emprego. De acordo com especialistas ouvidos pelo Dia, a melhor forma de encontrar emprego é pela internet.

“Hoje em dia, mudou muito a realidade das empresas. Antigamente, a gente entregava muito currículo em papel na porta das empresas; hoje é mais virtual. Então eu aconselho que a pessoa que está em busca de entrar no mercado de trabalho construa uma rede de relacionamentos. A maioria das empresas contrata por indicação, porque alguém trabalha na empresa e indica uma pessoa. Tem o próprio LinkedIn que você se conectar com empresas e gestoras de RH e deixar o seu currículo”, explica Fátima Nascimento, Analista de RH do ISBET RJ. “Eu acredito que essa questão de empresa é mais fácil você conseguir de forma mais virtual, até com as redes de contato mesmo”, completa.

Para Claudio Riccioppo, uma das principais ferramentas para conseguir emprego na internet é o LinkedIn, mas ter apenas uma conta na rede não adianta. “Ter um LinkedIn é igual a nada. Você tem que entender de técnicas de SEO, tem que entender como é o processo de indexação das palavras-chave, como o LinkedIn lê as palavras chaves do seu perfil para te levar até um recrutado, para te levar até o anúncio de uma vaga de emprego. Tem que entender quais são as variações. Por exemplo, eu sou de RH, então eu tenho que colocar RH e recursos humanos porque o software só lê aquela palavra exatamente", diz o especialista.

Além de buscar emprego no local certo, os candidatos precisam se capacitar. “Quando você pega o currículo de um candidato, por exemplo, uma pessoa que tenha o Ensino Médio, o candidato acaba perdendo uma chance porque não tem um curso profissionalizante”, indica Fátima. Na sua avaliação, os cursos livres e profissionalizantes são ótimas maneiras de enriquecer o currículo.

O currículo também precisa seguir alguns cuidados, como a customização para cada vaga. “A primeira coisa que a pessoa tem que entender é que emprego é resultado de empregabilidade. Você não vai conseguir um emprego sem antes entender quais são as ferramentas de empregabilidade que te levam até o emprego. Muita gente divulga o currículo para centenas, milhares de empresas, mas um currículo mal feito. As pessoas geralmente enviam um currículo padrão, modelo para todas as vagas”, diz Riccioppo.

“O grande lance é customizar o currículo de acordo com a demanda de cada vaga. Ele [candidato] tem que olhar a vaga e pensar o que o recrutador quer. Que tipo de mão de obra ele quer contratar? O recrutador tem um problema na empresa, como eu posso resolver aquele problema? Deixa eu identificar o problema que ele tem para me apresentar como solução. Aí você fala a língua do contratante”, sugere o especialista.

O documento também precisa ser breve e apresentar contatos atualizados, como telefone e e-mail, e o link no perfil do LinkedIn, caso haja. Fátima também sugere o informar um telefone de contato para recados. Além disso, o currículo deve conter informações acadêmicas, cursos, experiências profissionais que possam contribuir para a vaga e experiência de trabalho social, caso haja. “Eu acredito que esse é o currículo ideal. Bem breve, sucinto, que o entrevistador consiga olhar e ali ter um panorama do candidato”, diz Fátima.

Outro passo importante é a preparação para a entrevista de emprego. “Eu sempre falo que o segredo da entrevista é a pré-entrevista”, diz Fátima. O candidato precisa estudar o ramo no qual a empresa atua, o que ela faz e quais são suas missões e valores. Fátima explica que a pesquisa sobre as missões e valores da instituição também ajuda o profissional a entender se o seu perfil se adequa ao que a empresa. Ela também sugere que os profissionais ensaiem para a entrevista.

“É impossível não ficar nervoso, mas se você consegue se apresentar bem, se você tem ideias frescas na cabeça, você tem um pouco mais de segurança. Então a ideia é realmente você preparar sua apresentação em casa, organizar o que você deseja falar, o que você considera importante, pontos fortes, pontos que você quer destacar para aquele entrevistador”, diz a especialista.

No dia da conversa com os recrutadores, algumas atitudes precisam ser evitadas, como atrasos, uso de roupas informais e respostas muito longas, que fujam do objetivo da pergunta. Riccioppo também alerta para as críticas ao emprego antigo.

“Eu tenho uma pergunta que é muito estratégica. Eu chego assim: por que você saiu da sua empresa? A empresa que te demitiu, você foi desligado? Metade das vezes a pessoa fala mal da empresa. Fala que a empresa é antiética, que a empresa comete crimes. Se eu estou conhecendo o cara agora e ele já está detonando o antigo patrão, será que eu serei o próximo a ser detonado?”

Cursos profissionalizantes

Para ajudar na contratação, a SMTE oferece alguns cursos gratuitos profissionalizantes de acordo com as necessidades do mercado de trabalho. No momento, a pasta está com inscrições abertas para os cursos de produtividade, cultura digital, comunicação e expressão, inglês básico, educação financeira, qualidade de vida e trabalho, introdução à programação e analista de dados. A iniciativa é fruto de uma parceria com o Instituto Geração Crescer.

Resultado de outra parceria, desta vez com o Senac, os profissionais poderão fazer cursos de cuidador de idosos. Também há preparação para calceteiros. Para as pessoas que são encaminhadas pelas secretarias municipais, a SMTE oferece a trilha formativa do projeto Forma Rio, que conta com quatro oficinas: "técnicas de apresentação pessoal e comunicação”, oratória: a arte de falar em público, a influência das redes sociais no marketing pessoal, além da oficina ferramentas digitais e o mundo do trabalho. As vagas para os cursos e os links para inscrição online são divulgados pelo instagram da SMTE (@smte.rj).
*Estagiária sob supervisão de Marlucio Luna