Entrevista com o candidato a presidencia da republica Fernando Haddad, no hotel Windsor centro da cidade do Rio. Rj, 28 de agosto. - Marcio Mercante / Agencia O Dia
Entrevista com o candidato a presidencia da republica Fernando Haddad, no hotel Windsor centro da cidade do Rio. Rj, 28 de agosto.Marcio Mercante / Agencia O Dia
Por CÁSSIO BRUNO e FRANCISCO ALVES FILHO

RIO - Fernando Haddad tem um grande desafio. Vice na chapa do PT à Presidência, ele será o substituto caso se confirme a inelegibilidade de Lula, preso condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. Terá pouco tempo para ficar conhecido no Brasil. No Rio, por exemplo, seu nome não soa familiar. Há quem o chame de "Andrade". "No começo da campanha, em São Paulo, teve um que me chamou de Adauto", lembra, aos risos. Nesta terça-feira, Haddad deu uma entrevista exclusiva ao DIA:

O DIA: O senhor está preparado para substituir o ex-presidente Lula?

FERNANDO HADDAD: Estamos com uma grande expectativa depois do comunicado da ONU (Organização das Nações Unidas, que recomendou que o Brasil garanta os direitos políticos de Lula) em função da jurisprudência firmada no Superior Tribunal Federal (STF) de que tratado internacional validado pelo Congresso tem status jurídico superior ao das leis ordinárias. Ou seja: o tratado internacional aprovado só perde para a Constituição. Essa é a tendência majoritária do Supremo. Mesmo que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) venha a negar o registro (de candidatura) do Lula, vamos arguir essa jurisprudência no STF.

O PT trabalha com qual prazo para isso se resolver?

Acredito que, na semana que vem, teremos uma decisão do TSE. E, na semana seguinte, do STF. Então, a expectativa é de duas semanas.

Caso a candidatura de Lula não vá à frente, o senhor será o candidato. Mas é desconhecido entre os eleitores do ex-presidente.

Estou trabalhando para tornar o Plano de Governo do Lula conhecido. O que ele disse, em São Bernardo do Campo, é que ele queria se transformar numa ideia, num projeto. E que não poderiam aprisionar uma pessoa que representasse um projeto defendido por milhões de pessoas. Somos milhões de Lulas. A intenção de voto nele cresceu.

Como transferir os votos?

Não há preocupação em transferir votos. Em nenhum momento o PT fez um cálculo. Pode ser considerada uma estratégia arriscada? Pode. Mas é a única política e moralmente aceitável.

Com a prisão, o Lula tem apostado na dúvida sobre a candidatura. Não empobrece o debate político?

O problema não foi o PT que criou. Uma condenação, sem provas, foi o PT que criou? Eu li a sentença e desafio qualquer advogado a me apontar qual o parágrafo onde consta a prova.

Mas há risco de Lula não ser candidato.

Fomos nós quem criamos a situação? Não fomos! Aprovaram o impeachment (da ex-presidente Dilma Rousseff) sem crime de responsabilidade. Agora, há uma condenação sem provas. Imaginaram que fossem mudar a opinião das pessoas sobre o destino do Brasil. Não se alterou. As pessoas continuam querendo o Brasil que o PT construiu durante 12 anos, cujo projeto foi interrompido por uma ação violenta no Congresso Nacional.

O PT lançou a candidatura de Márcia Tiburi ao governo do Rio. Ela não ultrapassou 3% nas pesquisas. O PT errou na escolha?

Ela tem até muito. A Márcia é professora. Nunca concorreu. O horário eleitoral vai dizer os atributos dela, que é apoiada pelo PT, pelo Lula, por artistas, por acadêmicos, por filósofos, pelo povo. Mostrará quem ela é.

O senhor também se põe na mesma situação?

Em 2012, na primeira pesquisa, eu tinha 3%. Por quê? Eu era um número e uma cartela. Quando você é um número e uma cartela, você não é nada. Agora, (no programa eleitoral) falaram que eu era ministro da Educação, ministro do Lula. Ganhei do José Serra (PSDB), que era considerado imbatível.

O tempo na TV do PSDB de Geraldo Alckmin é o maior de todos. Dificultará o senhor a decolar?

O problema do PSDB é outro. O plano econômico do PSDB é a continuidade do governo Temer.

Segundo as pesquisas, Marina Silva (REDE) e Ciro Gomes (PDT) são os que mais herdam eleitores do ex-presidente Lula.

Na pesquisa, o eleitor vê uma cartela. Não vê o meu histórico. Respeito pesquisa. Mas precisamos de história, que começa dia 31 (na próxima sexta-feira, início da propaganda na TV e no rádio). A roda começará a mexer.

Qual seria a prioridade do governo petista?

Temos que sair da armadilha econômica que estamos, tomando duas providências: trabalho e educação. Esse binômio representa oportunidade na cabeça das pessoas e, sobretudo na do Lula. Ele entende que, dando oportunidade às pessoas, o Brasil se desenvolve naturalmente.

Com quais medidas?

Primeiro, reduzir o juro e o imposto de renda de quem ganha até cinco salários mínimos. Aumentaremos o poder de compra das famílias. Segundo, criaremos uma fórmula na qual quanto mais juro o banqueiro cobrar mais imposto ele vai pagar. Assim, diminuiremos as taxas de juro. A população fará crediário e abrirá o seu negócio. Terceiro, acabar com o teto de gastos públicos.

Nos governos do PT, os bancos tiveram ganhos acentuados. Por que o eleitor deve acreditar?

Desenvolvemos tecnologia nova. Por exemplo: a tributação progressiva dos bancos surgiu no debate sobre a crise. Não tínhamos essa ideia antes. O banco que cobra muito juro vai pagar mais imposto. Vai estimular a concorrência.

Como será o apoio do governo federal na questão da Segurança Pública?

Os militares têm tarefa muito importante no país. Mas não é a Segurança Pública. Eles próprios estão bastante incomodados sobre o que está acontecendo no Rio. Foram pegos de surpresa. O governo Temer estava em crise e, querendo desviar a atenção da enorme impopularidade, usou o prestígio das Forças Armadas. Deu no que deu. Vamos federalizar alguns crimes.

Como assim?

Exemplo: tráfico de drogas. O PCC não dá mais para ser combatido por um governador. O PCC foi criado em São Paulo debaixo do nariz do PSDB e exportado para o país. Os governadores estão de mãos amarradas. Vamos assumir essa função no plano federal com um contingente novo da Polícia Federal e preparado para esse tipo de enfrentamento.

O PT ficou ao lado de Sérgio Cabral, preso na Lava Jato, em todo mandato.

Eu, pessoalmente, estive várias vezes no Rio, como ministro da Educação, fiquei surpreso com o grau de degradação do ambiente político do Rio.

Mas o PT também ficou marcado pela Lava Jato. Qual é a autocrítica que o partido faz em relação aos mecanismos de controle nas estatais?

No caso das estatais, acho que a governança não foi tão alterada como deveria. Precisamos criar os mesmos mecanismos contra corrupção como nos ministérios. Tivemos pouquíssimos problemas na administração direta. Mesmo com a Lava Jato.

A Justiça Eleitoral o acusa de ter recebido R$ 1,9 milhão da UTC via caixa dois na campanha para prefeito de São Paulo.

Acho incrível (a acusação) voltar a 30, 50 dias da eleição. Um empresário corrupto (Ricardo Pessoa, presidente da empreiteira) foi prejudicado pela minha administração aos 44 dias do meu governo. O meu secretário indicou que a obra da UTC era superfaturada. Eu cancelei a obra. E um mês depois eu ganho um presente (delação) dele por ter cancelado a obra? Detalhe: ele disse que não prestou serviço para a minha campanha. Ele fez (a delação) para me retaliar pela obra que ele perdeu. Não tenha dúvidas.

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