Rio - Uma das maiores redes de varejo do Brasil, as Lojas Americanas, vendiam em suas lojas virtuais, até a tarde desta terça-feira, dezenas de modelos de camisetas que exaltavam o candidato do PSL à presidência, Jair Bolsonaro. Além de estampas com palavras "Lenda", "Mito" e associações do candidato a filmes como "O Poderoso Chefão", o catálogo digital oferecia também camisetas depreciativas ao candidato a presidente pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, representado por um mão sem o dedo mindinho. Lula está preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em Curitiba.
As camisetas também estavam disponíveis nas lojas virtuais do Submarino e do Shoptime. As três empresas pertencem ao grupo B2W.
Chama a atenção a variedade de estampas relativas a Bolsonaro no catálogo (37). O ex-capitão da reserva é representado como herói disparando com arma de fogo diante da bandeira nacional, cavalgando, com a faixa presidencial e mirando um alvo com um rifle diante da bandeira da Marinha. Também há camisetas com frases como "Melhor Jair se acostumando", "Bolsonaro presidente" e "Bolsomito".
As camisetas que fazem referência ao ex-presidente Lula, por outro lado, são todas depreciativas. Há duas estampas. Ambas retratam o petista com uma mão sem um dos dedos. A diferença são as inscrições: "Xô, Lula" e "Fora Ladrão", replicadas em 25 modelos com variação de cor e corte, além de modelos direcionados ao público infantil.
O especialista em direito eleitoral Alexandre Rollo lembrou que empresas não podem interferir no processo eleitoral, mas disse que a venda das camisetas de cunho político não é ilegal. "A princípio, não veria grandes problemas nisso. Em momento eleitoral, a empresa está vendo que esse tipo de produto está dando lucro e sendo procurado pelo consumidor. Seria diferente se houvesse doação de camiseta", defendeu.
No entanto, Alexandre Rollo considera as estampas referentes a Lula problemáticas. "Nenhuma empresa poderia confeccionar produto ofensivo e por à venda."
Duas empresas fornecem camisetas de Bolsonaro para as empresas da B2W: Camisetas Zurc e Di Nuevo. A primeira, de acordo com pesquisa feita a partir do CNPJ 30.588.603/0001-17, foi aberta no último dia 30 de maio. A reportagem tentou contato com as duas, mas até a publicação, não obteve retorno.
No catálogo, não era possível identificar os fornecedores dos produtos anti-Lula.
A comercialização contraria o próprio código de ética da B2W, que proíbe a "veiculação de qualquer forma de propaganda política nas instalações, em publicações ou em quaisquer bens, móveis ou imóveis,de propriedade da Companhia".
Procurado pelo DIA, o grupo B2W informou apenas que "a companhia desautoriza a venda de qualquer material de campanha política e que os produtos foram retirados dos sites e os sellers (lojistas independentes que integram o espaço de compra e venda dos sites), suspensos".
A assessoria do PT classificou o incidente como propaganda negativa e informou que o departamento jurídico da campanha está tomando as providências cabíveis.
*Colaborou o estagiário Luiz Franco, sob a supervisão de Ricardo Calazans