Ciro disse que a economia brasileira é 'altamente indexada' - Reprodução / TV Globo
Ciro disse que a economia brasileira é 'altamente indexada'Reprodução / TV Globo
Por ESTADÃO CONTEÚDO

São Paulo - O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, negou que tenha temperamento difícil, mas disse, no entanto, que não tem "sangue de barata". Em entrevista ao "Jornal da Globo", exibida na madrugada desta terça-feira, o pedetista também não poupou críticas ao concorrente Fernando Haddad (PT) e ao vice de Jair Bolsonaro (PSL), General Hamilton Mourão (PRTB), e fez acenos ao eleitorado de esquerda.

Questionado sobre o desentendimento que teve com um jornalista durante uma agenda pública em Boa Vista (RR), Ciro disse que a fama de "pavio curto" não condiz com a história política dele.

A discussão entre Ciro e o jornalista Luiz Petri ocorreu no sábado. Questionado por Petri sobre suas críticas a brasileiros que entraram em confronto com venezuelanos que fugiram para o Brasil, o pedetista reagiu e xingou o repórter.

"Eu não tenho descontrole nenhum, mas não tenho sangue de barata. Mas eu fui avisado que o Romero Jucá pagou alguém para me questionar. O 'cabra' tentou colar um adesivo do Bolsonaro em mim, depois veio com aquela pergunta e eu dei um empurrão nele. Agora, em legítima defesa, eu falo palavrões", afirmou o candidato.

'Jumento de carga'

Ciro relembrou ainda polêmicas da campanha de 2002, quando foi candidato à Presidência pela última vez e foi criticado por ter chamado o ouvinte de uma rádio de "burro".

"Me aponte um desatino na minha vida pública. Ninguém pode me chamar de ladrão, de incompetente, e daí ficam falando que eu sou descontrolado, ficam relembrando entrevista de 16 anos atrás", afirmou o pedetista. "Aí eu não posso dizer que tem burro no Brasil. Mas tem. Veja só este general (Hamilton) Mourão Hoje ele falou que casa com mãe e avó é de desajustado. Ele é um jumento de carga. Eu disse isso já e repito".

Essa é a terceira vez que Ciro usa a expressão para classificar Mourão. A primeira foi durante evento com militares na última quarta-feira, e a segunda em sabatina no jornal "O Globo", na quinta.

O pedetista defendeu mais uma vez que o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, se limite a não tratar do processo eleitoral. "Eu tive uma conversa com Villas Bôas no começo do processo eleitoral na casa dele, porque não achava adequado no quartel-general em Brasília. E avisei a ele sobre as intenções do Mourão", afirmou, acrescentando que respeita a pessoa de Villas Bôas.

PT e Congresso

Na entrevista, Ciro voltou a criticar Haddad pelo desempenho eleitoral em 2016, quando o petista perdeu o comando da Prefeitura de São Paulo para João Doria (PSDB) no primeiro turno

"O (Antonio) Palocci foi escolha do Lula. A Dilma (Rousseff) foi escolha do Lula. O Michel Temer foi escolha do Lula. E agora o Haddad foi escolhido pelo Lula. Eu não tenho nada contra o Haddad, ele é meu amigo pessoal, mas teve 16% dos votos em 2016, perdeu em todas as regiões", disse o pedetista.

Ele tentou ainda não criticar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Me sinto um covarde de atacar o presidente Lula, porque ele está preso", disse.

Posteriormente, Ciro disse que Lula não sabia do esquema do mensalão do PT, mas que no caso do petrolão o ex-presidente sabia que haviam "pessoas que estavam procurando indicações para roubar".

O presidenciável foi entrevistado pela âncora do 'Jornal da Globo', a jornalista Renata Lo Prete - Reprodução / TV Globo

Congresso

Apesar do tom crítico, Ciro acenou ao eleitorado de esquerda ao dizer que o Brasil está "sob um golpe de Estado" e que foi refém de "dois bandidos, como o Temer e o Eduardo Cunha".

Ciro disse ainda que sua história política prova que ele sabe "negociar com o Congresso". "Fui deputado estadual, federal, prefeito, ministro da Fazenda e da Integração Nacional. Sei lidar com o Congresso. Mas espero que a população reflita. Estou ajudando o povo brasileiro a amadurecer o seu voto também para deputado e senador", afirmou.

Banco Central

O candidato do PDT voltou a defender a instituição de mandato duplo para o Banco Central no país. Na avaliação dele, a adoção do duplo mandato seria uma forma de o Brasil se alinhar às "melhores práticas mundiais", a exemplo do modelo adotado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e pelo Banco Central Europeu (BCE).

"Esta questão da meta de inflação da forma como é feita no Brasil é simplesmente jogada, canalhice deste baronato", afirmou.

Ele defendeu ainda que os países que adotam o mandato único de inflação têm alta estabilidade, o que não ocorre no Brasil por a economia ser "altamente" indexada.

Ao exaltar números de inflação durante a gestão dele no Ministério da Fazenda, Ciro reafirmou o compromisso de manter os preços sob controle em um eventual governo. "A inflação aceitável por mim é zero. Os preços centrais da economia vão ajudar quem trabalha e produz", afirmou.

Estatais

Ainda sobre economia, Ciro se declarou como nacionalista "fervoroso" e que, por isso, é contrário ao acordo da Boeing com a Embraer. "Não tenho nada contra ela (Embraer) ser privada. Mas vou usar as minhas prerrogativas como presidente para proteger as empresas brasileiras. Os americanos acabaram de proibir a China de comprar a Qualcomm. Nós não podemos entregar o que sobrou, que é o petróleo e a Embraer, na mão do capital externo. Minério de ferro não vai pagar a nossa conta sozinho", afirmou.

Ciro, no entanto, disse não enxergar incoerência no discurso dele, que é de proteção às regras e aos contratos. "Esta revisão das reformas feitas pelo Temer não são quebra de contrato. O que aconteceu com a reforma trabalhista foi uma fraude no Senado. O Senado votou e o veto do presidente não ocorreu", afirmou.

O pedetista defendeu mais uma vez o modelo de capitalização como solução para o gargalo da Previdência no país. Ele voltou a repetir que o custo total para a migração de formato seria de R$ 500 bilhões.

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