Eduardo Paes - Armando Paiva / Agência O Dia
Eduardo PaesArmando Paiva / Agência O Dia
Por CÁSSIO BRUNO

Rio - Líder isolado nas pesquisas de intenção de voto, Eduardo Paes, de 48 anos, candidato ao governo do Rio pelo DEM, é o entrevistado deste domingo na série do DIA com os concorrentes ao cargo. Ex-prefeito do Rio, Paes diz que priorizará, se eleito, a organização das finanças e a Segurança Pública. Segundo ele, são questões que precisam ser resolvidas de imediato.

O DIA: Qual será a prioridade do governo?

EDUARDO PAES: Ninguém consegue conduzir nada sem as finanças em ordem. Essa é uma prioridade. E a segurança, que garante o direito de ir e vir das pessoas, também é muito básica. São duas questões que precisam ser atacadas de imediato.

Qual será a estratégia na segurança?

Serei o responsável pela Segurança Pública integralmente. Não haverá terceirização de responsabilidades. Aquela conversa mole de governador ou secretário de Segurança que gostam de culpar a mudança do Código Penal ou a desigualdade do Brasil para justificar as suas incompetências não vai mais acontecer. Além disso, tem um conjunto de ações. Atacar a violência nas ruas com policiamento ostensivo. Fazer ações de inteligência em operações mais cirúrgicas, mais preventivas, matando menos inocentes e menos policiais. Ter uma corregedoria independente. E manter as Forças Armadas no Rio, mas sob o meu comando e com nova estratégia.

Há dinheiro ou o problema é de gestão?

Assumi a prefeitura em ano de crise. Teve uma crise mundial em 2008. Depois, em 2014, 2015 e 2016, enfrentei uma crise profunda com a maior queda do PIB na história econômica brasileira. Mesmo com as dificuldades, a Prefeitura do Rio se manteve. A (ex-presidente) Dilma (Rousseff) estava de língua de fora em Brasília. O governador Pezão, em calamidade pública no Rio. A gente pagava os servidores em dia. Mantive os investimentos.

Mas agora é questão de segurança.

Você falou da questão financeira. Eu assumia as responsabilidades do próprio governo do estado e ainda emprestava dinheiro. Tenho convicção de que a crise agora é séria. Mas garanto organizar a casa e ter recursos para fazer tudo isso. Falta comando, gestão.

Haverá um combate efetivo às milícias?

Crime organizado é crime organizado. Em face do tráfico de drogas ou das milícias, o que acho até mais grave porque são agentes do Estado se utilizando do poder que eles estão investidos para combater crimes. Haverá combate a qualquer tipo de criminalidade.

Drogas são um problema da Polícia Federal. Armamento, das Forças Armadas. Como é que se consegue ajuda federal para o Rio e não enxugar gelo?

Em São Paulo há a mesma Polícia Federal, o mesmo governo federal, o mesmo Código Penal, as mesmas desigualdades sociais. Mas morre quatro vezes menos gente que o Rio. É claro que se pode ter mais controle de fronteira, de armamento. Mas por que São Paulo conseguiu reduzir os homicídios por cem mil habitantes e o Rio não?

O Brasil lidera o ranking de mortes por armas de fogo no mundo. O fato de entrar arma no Rio não é culpa do governo federal.

Não quero terceirizar a culpa. Vamos ter que usar a força política para que o governo federal faça a sua parte. A arma de fogo que entra no Rio pode entrar em São Paulo também. Por que lá não acontece?

Por quê?

Tem política de segurança permanente e se investiu na formação policial. Sempre inventam desculpas para não fazerem nada no Rio.

A política do governador Pezão é falha?

Que política?

De segurança pública. Também refiro-me ao do governo Cabral.

Que política? Te pergunto: que política? Não faço conflito público nenhum. Trabalho em parceria. Mas quem acompanhou o bastidor sabe que sempre contestei a maneira como se tratava essa questão da Segurança Pública. Nunca achei que a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) fosse política de Segurança Pública. Vivi na minha pele a demagogia de dizer que era preciso fazer investimentos sociais. No Alemão, quando pacificava, estávamos com obras monumentais no Chapadão e na Pedreira, e todos (traficantes) do Alemão foram para lá. Vi isso o tempo todo. Não havia política de segurança.

O senhor é candidato graças a uma liminar. Foi condenado pelo TRE-RJ por abuso de poder político-econômico pelo uso do Plano Estratégico da prefeitura como plano de governo na campanha do Pedro Paulo, em 2016.

O plano era aberto a todos (os candidatos). Isso já ficou esclarecido nos embargos. Não vejo com preocupação. Claro que o ideal era que julgasse logo. Mas a Justiça Eleitoral, em alguns casos, observa depois da eleição.

Tem dificuldade de se descolar da imagem do PMDB; do ex-governador Sérgio Cabral; do ex-presidente da Alerj, Jorge Picciani; do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha?

Zero. Nenhuma dificuldade. O fato de ter sido prefeito por oito anos, estando no PMDB com esses personagens fazendo o que fizeram... quando as pessoas veem que não tem nada na prefeitura. Imagina agora que eles estão presos e o Eduardo (refere-se a si mesmo) não estando mais no PMDB, se eles vão fazer alguma coisa (no governo, caso seja eleito).

O PMDB continua na sua aliança.

Sim. Mas antes eu era do PMDB e eles não meteram a mão na prefeitura.

E se eles quiserem indicar alguém no seu governo?

Essas pessoas estavam soltas e no PMDB. Eu era do PMDB, fui prefeito por oito anos e eles não pediram. Imagina agora que estão presos e eu não estou mais no PMDB. Não fizeram na prefeitura. Não farão no governo do estado.

O senhor foi citado em várias delações premiadas na Operação Lava Jato.

Meu nome é sempre perguntado. Era prefeito. Nove delatores disseram enfaticamente que nunca pedi benefício pessoal.

Mas no caso do Benedito Júnior, ex-executivo da Odebrecht, foram apresentadas planilhas, e-mails...

Em nenhum momento, ele fala de contrapartida ou benefício pessoal. Posso fazer uma planilha, entregar para Polícia Federal e digo que te corrompi. Isso é fácil. Compete a ele provar.

O seu nome aparece como doador de campanha da candidata a deputada federal Daniele Cunha, filha do Eduardo Cunha.

O DEM pôs na cota da gráfica as dobradas (mesmo material impresso para dois candidatos). O PMDB indicou a Daniele. Não doei nada para ela. Nem a conheço. Mas não tenho nada contra a moça. Não quero condená-la pelo o que o pai fez.

Vai repetir as indicações políticas nas secretarias?

Certamente. Há quadros da política que vão fazer parte do governo.

Não vê problemas?

Nenhum. Na Saúde, Educação, Obras, Fazenda e Administração não haverá indicação política. Serão quadros técnicos.

O seu quadro técnico, Alexandre Pinto, ex-secretário de Obras, foi preso.

Justamente o quadro técnico foi preso (risos). Não foi político. Para ver como vocês (imprensa) são equivocados. Quando o Alexandre Pinto foi preso, eu matei no peito. É indicação minha e era servidor da prefeitura.

O que fará com o plano de recuperação fiscal?

O servidor voltou a ser pago. Era a única saída. Saímos do caos total para o caos absoluto. Tem que fazer o dever de casa: tornar as finanças do Estado sustentável para que volte a pagar a sua dívida como qualquer cidadão. Tem que renegociar. É um absurdo o que o governo federal faz. É juro de agiota.

Qual será a prioridade na saúde?

Pôr o orçamento em dia. O governo gasta 6%. A metade do que é obrigatório por lei. Devemos cuidar também da média e alta complexidades. Farei como no Ceará: um acordo de resultado com as prefeituras. Se elas trabalharem bem na atenção básica e atingirem metas, o Estado repassa mais recursos. Quero replicar na Educação.

Como pretende despoluir a Baía de Guanabara?

Cedae permanece estatal. Faz concessão e PPP (Parceria Pública Privada) de esgoto. Está resolvido. Na Zona Oeste, fizemos. Já há 50% do esgoto tratado. Vamos resolver o tratamento de esgoto e o abastecimento de água na Baixada e São Gonçalo até o segundo ano de governo.

Qual é a autocrítica que o senhor faz das eleições de 2016? Errou ao insistir no Pedro Paulo?

Devo ter errado. Eu perdi. Era o melhor quadro. Se o Pedro Paulo tivesse cometido crime, não o manteria. Ele foi absolvido das acusações (de agressão à ex-mulher). O que adianta ganhar a eleição e, no dia seguinte, ter alguém que não sabe administrar? Perdi a eleição. Faz parte. Tem um momento de transição e as pessoas estão de saco cheio da sua cara. Quer pôr o Crivella? Põe o Crivella. Experimenta e vai vivendo a vida. Fazer o quê?

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