'O que a gente vê é dinheiro para um lado, dinheiro para o outro...é muita corrupção', diz Genésio Teixeira, técnico de refrigeração - Alexandre Brum / Agencia O Dia
'O que a gente vê é dinheiro para um lado, dinheiro para o outro...é muita corrupção', diz Genésio Teixeira, técnico de refrigeraçãoAlexandre Brum / Agencia O Dia
Por O Dia

Brasília - Os brasileiros que vão às urnas no próximo domingo exercer o direito de eleger o próximo presidente e outros representantes está, em sua ampla maioria, de mal com as instituições democráticas. Extenuados por quatro anos de crise econômica, por repetidos escândalos de corrupção e se sentindo pouco representados pela classe política, 81% dos brasileiros se dizem insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a democracia. É o que mostra pesquisa de um grupo formado por pesquisadores de várias universidades, chamado justamente de Instituto da Democracia. O nível de insatisfação é o maior pelo menos desde 1995, quando a medição começou a ser feita.

"Eu acho que não se trata nem mais de um regime. Já faliu", diz o técnico de refrigeração Genésio Teixeira, de 42 anos. "A gente não tem mais segurança. Quatro anos de mandato para o próximo candidato que assumir vai ser pouco", diz.

Para o morador de Rocha Miranda, a democracia não consegue lidar mais com a questão da Segurança. "Sair de casa às 6h e dar de cara com um defunto no meio do seu caminho é difícil. Hoje isso está banalizado. Já no mundo político é só dinheiro para um lado, dinheiro para o outro. Muita corrupção".

"O Estado tem se mostrado incapaz de garantir Segurança Pública", diz o sociólogo José Bortoluci, da FGV. "As polícias são ineficientes e extremamente violentas. E as organizações criminosas influenciam os rumos de partes da sociedade".

'Acredito que está ruim e não vai mudar. Mas a Democracia ainda assim é o melhor regime possível', afirma Danielly Marques, técnica de enfermagem. - Estefan Radovicz / Agência O Dia

A pesquisa mostra como a percepção do valor da democracia se deteriorou a partir de 2010, quando os insatisfeitos eram minoria. Para Bortoluci, o processo tem a ver com a crise global de 2008. "Estamos numa situação de contínua desigualdade, em que as reformas para enfrentar esse problema não foram suficientes", diz ele, lembrando que o fenômeno é global, "em diferentes níveis".

A pesquisa identificou que a corrupção tem um efeito ácido sobre a percepção do valor da democracia. Para 47,8% dos brasileiros, um golpe militar poderia ser justificado pelo combate a esse mal. "Os políticos, em geral, são homens corruptos que detém conhecimento, mas o utilizam de forma maléfica, desumana. Algo deveria ser feito logo para resolver esse problema", diz William Loiola, autônomo de 46 anos.

"A corrupção é um problema real, mas quando ela passa a ser quase um discurso exclusivo para falar de política, abre-se o caminho para lideranças com promessas de reconstituição do sistema político através de medidas autoritárias, com uso da força", diz Bortoluci.

Para Luiz Felipe Miguel, cientista político da UnB, a influência da vontade popular sobre as instituições tem se tornado cada vez menor, assim, o descontentamento é natural. "O lobby dos empresários tem uma força enorme; os meios de comunicação e as Igrejas são as forças que controlam as negociações no Congresso. A democracia que temos não está funcionando, então as pessoas pensam que a solução que resta é a autoritária.Precisamos estabelecer uma consciência política coletiva para romper esse ciclo vicioso".

'O povo está perdendo a paciência. Quando um político desvia dinheiro que seria utilizado pela população, está matando', diz Willian Loiola, autônomo. - Fotos de Estefan Radovicz / Agência O Dia

Judiciário indiscreto e politizado

Até 2010, a Justiça contava com a confiança da maioria da população brasileira. Já em 2013, o Judiciário tinha perdido boa parte da confiança acumulada, ainda que tenha imagem bem melhor que a dos outros Poderes.

Apesar de o Judiciário ter assumido papel preponderante no combate à corrupção, 41,8% dos cidadãos que se identificam como de direita confiam nas instituições judiciais, enquanto, entre os de esquerda, apenas 32,7%.

"As instituições se alimentam da erosão das próprias instituições do regime democrático", diz a professora Marjorie Marona, do Instituto da Democracia.

"Espera-se que o Judiciário exerça um poder discreto. No Brasil, essa regra básica foi rompida há muito tempo", diz Luiz Felipe Miguel, da FGV.

Para os pesquisadores do Instituto da Democracia, esse tipo de atuação tende a criar assimetrias no jogo político. Exemplo disso é a atuação do juiz Eduardo Luiz Rocha Cubas, de Formosa (GO), que pretendia determinar que o Exército recolhesse as urnas eletrônicas às vésperas da eleição para inviabilizar as eleições no município. "Essa desleal conduta evidencia o propósito manifesto do juiz em fazer valer sua desarrazoada ordem no dia das eleições, causando sério risco ao processo democrático", alertou a Advocacia Geral da União, que conseguiu abortar a operação. Rocha Cubas já gravou vídeo, ao lado deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), questionando a segurança das urnas eletrônicas.

 

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