Rio - Eleito com quase 60% dos votos, o novo governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), em entrevista exclusiva ao DIA, anunciou que já em janeiro convocará de três mil a quatro mil policiais militares aprovados em concurso público. Segundo ele, o efetivo será usado para reforçar o policiamento ostensivo nas ruas.
Witzel disse ainda que deverá se encontrar com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), possivelmente nesta terça-feira. Na pauta do encontro, estará a discussão sobre as reformas Tributária e da Previdência, além da ajuda do governo federal na Segurança Pública. A intervenção terminará no fim de dezembro. Witzel estava acompanhado da esposa, a advogada Helena Witzel.
O DIA: Após o resultado das urnas, o senhor já conversou com Jair Bolsonaro, presidente eleito?
Wilson Witzel: Estou aguardando uma agenda com o presidente eleito, talvez amanhã (hoje), para a gente tomar um café e conversar. Vou levar algumas questões que a gente tem que começar a estreitar em relação à Reforma Tributária, uma pauta importante, e à Reforma Previdenciária. O Rio de Janeiro está muito prejudicado em relação ao ICMS do Petróleo. Essa é uma fonte de receita que realmente daria um outro patamar para o estado. A gente fica com pouco daquilo que produz e ainda perde em relação ao petróleo. E, quanto à Reforma Previdenciária, a gente tem que discutir os parâmetros. São essas questões que a gente precisa saber sobre a agenda nacional.
Em entrevista ao Informe do Dia ontem, o deputado Márcio Pacheco, do seu partido, afirmou que o senhor não fará uma Reforma da Previdência no estado.
Primeiro a gente precisa esperar como vai ser conduzido nacionalmente, porque pode impactar nos estados.
O senhor pretende conversar com Bolsonaro sobre a intervenção federal na Segurança do Rio?
Essa é uma das questões que vou conversar com ele. Sobre a possibilidade de, mesmo sem a intervenção, manter o efetivo até que a gente consiga botar mais policiais na rua. Porque o policiamento de rua precisa ser fortalecido.
E de que forma haverá esse reforço?
Nós temos aí 4 mil aprovados no concurso da Polícia Militar esperando para ser convocados. Eu vou botar esses 3 mil ou 4 mil para trabalhar já em janeiro. Vamos fazer uma arrumação do estado. Por exemplo, o prédio do Detran. Nós vamos tirar aquele prédio que hoje custa R$ 30 milhões. Preciso de R$ 80 milhões por ano para botar mais 3 mil policiais na rua. O que tiver de prédio alugado que eu possa devolver, vou devolver. E, cancelando a vistoria do Detran, podemos manter a taxa do Detran e redirecioná-la para a Segurança. Com esse fundo da intervenção de R$ 1 bilhão, só de não ter o custeio das atividades de inteligência, já poderemos redirecionar.
Quais outras medidas a curto prazo para a Segurança?
A primeira coisa vai ser investir pesado no combate à lavagem de dinheiro. Vamos trabalhar nisso 24 horas para identificar quem está financiando o tráfico. Vamos fazer convênios com a Polícia Federal, com a Receita Federal para combater lavagem de dinheiro. Vou falar com Carlos Fernando, que vai se aposentar do Ministério Público Federal. Estive em contato com o Deltan Dellagnol antes da eleição. Ele é novo, mas se quiser pedir exoneração para trabalhar no Rio, será bem-vindo (risos).
Além do combate à lavagem de dinheiro...
Vamos aproveitar o legado da intervenção, como é o caso do fundo que nós temos de mais de R$ 1 bilhão, para gastar com a inteligência. Vamos botar as barreiras fiscais, aparelhar a Polícia Civil para investigação e aproveitar o treinamento da Polícia Militar. A polícia tem que estar preparada para enfrentar o crime organizado. Quero já colocar em funcionamento parte do sistema de monitoramento eletrônico com o reconhecimento facial. A Polícia Civil tem fotos de criminosos que estão no crime organizado, no tráfico. Eles deixam o fuzil no morro e descem para a rua. Esses têm que ser identificados e imediatamente presos. Eles não podem mais circular entre nós. E fazer um trabalho integrado com a Guarda Municipal. Na Guarda Municipal do Rio, são oito mil homens. Já daria um reforço considerável na Segurança.
O que é prioritário?
A primeira questão é gerar emprego e olhar para o pobre. O político entra e não olha para o pobre. Faz obras necessárias, sim. Mas me parece que fazer rodovia é contramão da que a população precisa. Precisa de mobilidade urbana. As comunidades continuam sem organização urbana, sem infraestrutura, as comunidades estão com zero de infraestrutura e uma violência crescente. E ninguém olhou para lá. Fizeram o Favela Bairro, que foi jogar cimento nas vielas, mas não se fez organização urbanística.
O senhor já falou com o prefeito Marcelo Crivella após sua eleição?
Ainda não. Vou procurá-lo ou ele vai me procurar. Mas estou à disposição dele e de todos os prefeitos.
O senhor pretende extinguir a Secretaria de Segurança. Já pensou em nomes para comandar a Polícia Militar e a Polícia Civil?
Ainda não tenho em mente os secretários da Polícia Militar e da Polícia Civil. Vou ouvir o general Braga Netto (interventor federal). Ele me ofereceu uma agenda, a partir da semana que vem. Ele deverá me auxiliar nessas indicações, já que conhece hoje muito mais do que eu. Vou conversar também com o general Richard Nunes para entender qual seria a posição dele. Pretendo identificar a questão nacionalmente do Ministério da Segurança Pública, até para questões de repasse. Se não pudermos extinguir a Secretaria de Segurança, como pretendo fazer, ela vai ser reduzida a um órgão de cooperação das outras duas secretarias, mas sem superioridade hierárquica. Seria uma pasta de apoio.
Sobre a dívida do estado com a União, o senhor pretende negociá-la com Bolsonaro? Até mesmo em relação ao acordo de recuperação fiscal firmado em 2017.
Vejo que a dívida que foi constituída precisa ser auditada. Vamos fazer essa auditoria. Eu pretendo auditar todos os empréstimos que foram feitos. E mais: vou determinar que a procuradoria do estado ingresse com as ações necessárias para recuperar o dinheiro que foi roubado. Porque só na ação penal Cadeia Velha está dito que são mais de R$ 130 bilhões. Então, nós precisamos recuperar esse dinheiro. Assim como quem foi beneficiado com isenções fiscais que não foram compatíveis com a legalidade. Estamos com um déficit de R$ 10 bilhões. O estado tem que agir.
Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do BNDES, comandará as finanças do estado? O senhor já definiu algum secretário?
Nenhum nome foi definido. Estou analisando currículos. Estipulei o prazo de até o final de novembro, início de dezembro, para montar o secretariado. Quanto ao Paulo Rabello, não formalizei convite. Ele é do PSC, um economista, e não sei se teria interesse em tocar a Secretaria de Fazenda, que é uma realidade um pouco diferente da economia, né? O Paulo pode ser um colaborador do governo. Pretendo criar um conselho de desenvolvimento econômico do estado.
Na campanha, o senhor falou em enxugar gastos. Haverá redução do número de secretarias?
Na verdade, isso não reflete no ponto de vista de redução orçamentária. Quando você fala em reduzir secretaria, você não está mandando o servidor embora. Ele não pode ser demitido.
Mas tem os cargos comissionados.
Sim, mas o impacto disso é irrisório se tratando de um déficit de R$ 10 bilhões. O problema do estado não é de despesa, mas de receita. Onde estão os grandes problemas de receita? Estamos perdendo ICMS demais, tem sonegação e falta de atração em novos investimentos para aumentar a nossa capacidade de arrecadar. Isso pode ser resolvido a curto ou médio prazo. A partir de janeiro, vamos oferecer um amplo espectro de investimentos, com outorgas. O estado precisa ser atrativo do ponto de vista da infraestrutura. O Porto do Açu está aí. Nós vamos abrir espaço para construir um outro autódromo no Rio de Janeiro, tenho analisado a região de Marechal Hermes para isso.
Educação: o Rio foi o único estado do Brasil que não atingiu metas do Ideb. O que fazer para melhorar o sistema de ensino?
Quem é o atual secretário de Educação do estado?
Wagner Victer.
Ele é professor? Não. Por isso está desandando. Eu ouço horrores dos diretores de escolas. Eles votaram em massa em mim. Eu sou acadêmico. Eu sim sou mestre. Sou professor. Vou botar um professor ou professora na secretaria. Alguém que entenda de educação e que consiga fazer aprimoramento de professor, fazer as reuniões pedagógicas todo início de ano. Inclusive vou participar das reuniões pedagógicas no início do ano. Adoro isso!
E as medidas a curto prazo para a Saúde?
Pretendo apresentar uma licitação para poder contratar casas de saúde. Elas têm leito de retaguarda para fazer cirurgias de médio porte para desobstruir os hospitais, que estão sobrecarregados. O que aconteceu? Aquela capilaridade que havia com as casas de saúde foi canalizada para os hospitais por conta das organizações sociais. E, aí, você já viu.