Rio - "Tenho certeza de que não sou o mais capacitado, mas Deus capacita os escolhidos". Foi com esta frase que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) começou seu discurso no culto em que compareceu na noite desta terça-feira, na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, na Penha, na Zona Norte do Rio. Foi nessa igreja, do pastor Silas Malafaia, que Bolsonaro e a atual esposa, Michelle, se casaram há 11 anos, em celebração feita pelo próprio Malafaia - que estava na visita desta terça.
Logo após dizer que se considera o escolhido de Deus, Bolsonaro disse que o momento é especial por estar ao lado de Malafaia, que realizou o seu casamento. "Chorei muito naquele dia e também chorei muito depois das eleições. Quero agradecer a esse povo de Deus pela confiança depositada em meu nome", afirmou.
O presidente eleito também disse que estava ali para agradecer a Deus por ter salvado a sua vida quando foi esfaqueado. Segundo ele, Deus agiu por meio dos profissionais de saúde de Juiz de Fora (MG) e de São Paulo.
Em seguida, ele lembrou que é uma pessoa comprometida com os valores da família cristã. "O Malafaia falou que pirou (sobre Bolsonaro ser presidente); e eu também pensei que pirei naquele momento. Mas nós temos que buscar mudar as coisas. Não basta apenas reclamar. Eu tinha tudo para não chegar: um partido pequeno, sem fundo partidário, sem televisão, com 90% da grande mídia batendo na gente. Fui acusado do que eles são: de calúnia, difamações, mas eu escolhi um slogan para a campanha. Eu fui na Bíblia, que alguns dizem que é caixa de ferramenta para consertar o ser humano, fui lá em João. Conheceis a verdade e a verdade vos libertará".
Bolsonaro chegou ao culto às 20h17, cercado de um forte aparato policial.
'Pirou'
Malafaia contou que, no dia do casamento, Bolsonaro comunicou a ele, enquanto esperava a chegada da noiva: "Não é possível o povo brasileiro ser enganado. Não é possível o povo brasileiro viver de migalha. Não é possível. Eu vou ser candidato a presidente da República".
O pastor disse que, no seu íntimo, sem dizer a Bolsonaro, pensou: "Pirou". "Esse cara é louco, vai ser presidente do Brasil. É. Não acreditei. E se esse cara chegou aqui e nós temos a nossa certeza e a nossa fé. Claro que a vontade de Deus não é absoluta; é permissiva, feita através do povo. Foi o povo que botou Bolsonaro como presidente".
Nordeste
Malafaia disse que ia fazer uma oração rápida, pois, por medidas de segurança, Bolsonaro não poderia ficar muito tempo no templo. O pastor começou citando Israel - que o presidente eleito, segundo ele, gosta muito e enaltece a força do povo israelense.
"Lá em Israel é pior do que o semiárido do Nordeste. Quero deixar uma palavra aqui para esse povo nordestino, que é abençoado. Tem nordestino em tudo que é lugar do Brasil, fazendo a história dessa nação. E por que eles saíram do Nordeste? Porque esses corruptos, esses cínicos, deram esmola pra eles, pensando que podem manipular a vida toda", Malafaia disse.
O pastor disse ainda que Bolsonaro sabe que é possível resgatar o Nordeste. "Israel tem uma das maiores produções agrícolas do mundo de exportação e pode fazer o Nordeste ser um centro agrícola do mundo e ele não vai dar paliativo não; ele vai mudar a história do Nordeste. Nordestino vai esquecer do cara aí que dizia que era filho da Terra”, disse, referindo-se indiretamente ao ex-presidente Lula.
O Nordeste votou, em sua maioria, em Fernando Haddad (PT) .
Oração
Na oração, Malafaia fez uma longa bênção para o presidente eleito. "Declaro o espírito de sabedoria, de inteligência, sobre você para governar esse país (...). "Bolsonaro, Deus vai te dar sabedoria, graça e saúde para fazer a diferença nessa nação. Você vai marcar a história desse país. Vamos ter um novo paradigma nessa nação. Deus vai mudar a sorte desse povo, a miséria, a violência, o desemprego, a corrupção, a desgraça. O Brasil é do Senhor Jesus. Deus abençoe o presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro. Concordamos que você faça a diferença".
Bolsonaro ouviu as palavras em silêncio, com lágrimas nos olhos, e em seguida, se despediu do público, acompanhado de Malafaia.