A ideia do documento da UNICEF é servir como um guia de prioridades essenciais à infância e à adolescência nas eleições. 

 - Unicef/Divulgação
A ideia do documento da UNICEF é servir como um guia de prioridades essenciais à infância e à adolescência nas eleições. Unicef/Divulgação
Por O Dia
Rio - O UNICEF lançou, na manhã desta quarta-feira, a publicação 'Mais que Promessas na Sua Cidade - Nas Eleições Municipais 2020'. A ideia do documento é servir como um guia de prioridades essenciais à infância e à adolescência nas eleições.

No texto, há ações em nível municipal e recomendações em áreas como educação, água e saneamento, proteção contra a violência, e outras. O documento já começa chamando a atenção para a questão da pandemia da covid-19, e para o fato de que crianças e adolescentes são vítimas ocultas do vírus. Embora não sejam os mais afetados, "eles vão sofrendo de forma mais intensa as consequências da pandemia no médio e longo prazo", como afirma a introdução do documento, assinado por Florence Bauer, representante da UNICEF no Brasil.

"A agenda é para mobilizar e convidar os candidatos a incluir crianças e adolescentes no centro da política publica. Temos o grande desafio de mitigar os impactos da pandemia. Lançamos uma agenda nas eleições presidenciais e estamos vindo agora com propostas e ações concretas no âmbito municipal", completa Florence, ressaltando que mesmo que crianças e adolescentes não sejam afetados com tanta força pelo vírus, a redução de renda e a não-presença deles nas aulas faz com que sejam vitimizados de maneira indireta. "Um ano na vida deles tem mais peso do que na vida de um adulto".

Números

Entre os temas que surgem no documento, há questões como a inclusão social, os direitos de meninas e meninos, e recomendações como a implementação de plano municipal de saneamento em territórios vulneráveis, e do apoio necessário para a volta às aulas presenciais. A UNICEF deixa claro que havia problemas não solucionados no dia a dia das crianças e adolescentes bem antes da pandemia.
Muitos desses problemas são relacionados à violência infantil. estimativas divulgadas pelo documento da UNICEF explicam que mais de uma criança ou adolescente é vítima de homicídio por hora no Brasil, e quatro meninas com idades até 13 anos são estupradas por hora no País. Além disso, 2,4 milhões de crianças e adolescentes estavam em situação de trabalho infantil antes da pandemia.
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Com o isolamento, o fato de as crianças precisarem ter aulas em casa pôs foco em outros tipos de questões, várias delas relacionadas a regiões como o Norte e Nordeste, que segundo a UNICEF são as que mais têm desafios, por terem tido maior redução de renda. O Norte, por exemplo, tem maior percentual (35,9%) de estudantes de ensino fundamental sem acesso a atividades escolares.

"Temos 39% das escolas do Brasil sem acesso a serviços básicos para lavagem de mãos. Não podemos esperar para resolver essas lacunas que se acumularam. Para resolver temos que estar preparados para reabrir as escolas de forma segura. Usar caminhões-pipa, ter lugares seguros para lavar as mãos", conta Florence, afirmando que o foco tem que ser nos mais vulneráveis. "Há 4,8% milhões de crianças sem acesso a internet e 14,4% de crianças brasileiras não receberam nenhuma atividade escolar em agosto", completa, citando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19.

Escola é segurança

A UNICEF frisa que a escola é responsável por dar garantias de direitos e segurança para as crianças, e que elas servem como rede de proteção e de socialização. O fato de estarem fechadas por tanto tempo deu impacto enorme na aprendizagem, na saúde mental e na proteção dos alunos. "A violência doméstica acontece muito em casa. E as crianças às vezes correm o risco de ficarem sozinhas, ainda mais quando as pessoas adultas têm que voltar para as atividades profissionais e deixam os filhos em casa, em situação de risco", completa Florence.

Convencimento

A partir de abril de 2021, será feita uma convocatória dos prefeitos, para que apresentem propostas para melhorar a qualidade de vida das suas cidades. "Vamos ter uma estratégia específica para trabalhar municípios que têm piores indicadores. E vamos ter o trabalho de convencer esses municípios com relação a essas melhoras", diz Mário Volpi, chefe do programa de cidadania dos adolescentes do UNICEF no Brasil. "A maioria desses municípios é pequeno e não tem estrutura. É preciso que os governos estaduais e o governo federal façam investimentos neles".