
Universo dos mais criativos, de homens de marketing, de vale-tudo e de bizarrices na busca pelo seu precioso voto, as eleições sempre são um palco para o desfile de candidatos de variadas bandeiras e propostas, mesmo que lunáticas ou, muitas vezes, impossíveis de se tornarem reais. Num cenário de enorme concorrência, o primeiro objetivo é chamar a atenção daqueles que vão decidir nas urnas. Para muitos, a alternativa é escolher logo de cara um nome impactante. E, nas eleições municipais no Rio de Janeiro, o que não falta são 'candidatos marqueteiros'. Isso fica claro já no registro eleitoral. O primeiro e decisivo passo é a escolha dos nomes. Para muitos, esse é o ápice da campanha. Certamente, em plena pandemia, seria impossível passar em branco por um dos mais polêmicos destaques deste ano. Por isso, temos uma candidata que une dois aspectos fundamentais: Capitã Cloroquina, explícita referência à patente do presidente Jair Bolsonaro, principal garoto-propaganda da substância que, em momento algum, infelizmente, mostrou eficácia na luta contra a covid-19.
Se você achar que a Capitã Cloroquina não é um remédio para os seus problemas, é possível recorrer a um candidato a super-herói nas urnas: Charles Homem Aranha, que, certamente, quer jogar a teia para segurar o voto do eleitor. Se o morador do Rio preferir pegar um cipó e sair por aí batendo no peito e soltando o grito, uma opção é Tarzan.
Se o seu lance é driblar as mazelas da cidade, temos também entre os postulantes à Câmara de Vereadores quem se apresente como Maradona, craque argentino famoso pelo talento e as muitas encrencas fora das quatro linhas.
Há ainda nomes muito curiosos quando o eleitor procura uma lógica: ou, alguém sem conhecer o candidato, é capaz de justificar Tapete, Buruca, Frango Bombeiro, Canela Lado a Lado ou Cem Por Cento Tranquilo?
Precisa solicitar ajuda com urgência? A candidata Maria Pede Socorro do Méier também parece estar fazendo isso. Se você tem o comum apelido de Jorginho e está lendo esse texto, não se aborreça: uma das opções nas urnas é o Jorginho Original. E, cá pra nós, se já está cansativa essa história, não se impressione: tem quem busque uma vaguinha como vereador com o sugestivo nome de Soneka. Dá para tirar um cochilo.
Cientista político e sociólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Baía adverte que toda escolha de nome tem um significado para quem o adota: "Quem está distante pode até estranhar, mas o candidato sabe o motivo da escolha e para quem está falando. Certamente, vê alguma vantagem nisso, chama a atenção". Consultora política, Fernanda Galvão concorda em relação aos apelidos, mas faz uma ressalva: "É um risco usar nomes de ocasião. Não gera identidade e, daqui a duas ou três eleições, não fará muito sentido. É preciso construir a própria marca para se manter vivo na cabeça dos eleitores".
Aos interessados de plantão, a tática dos nomes estranhos não deu muito certo em 2016, últimas eleições municipais. Na Câmara de Vereadores do Rio de janeiro, um do eleitos foi Renato Cinco, que não chega a ser assim nome tão estranho e, claro, o identifica com quem o conhece. Se a estratégia de quem faz o próprio marketing fracassar nas urnas, a Justiça está aí para isso e sempre é possível apresentar um recurso e tentar mudar a situação. Uma sugestão, quem sabe, seja o Advogado de Deus, também candidato aqui no Rio...