Uma janelinha na TV que abre um enorme leque de possibilidades, descortina um mundo para pessoas ávidas por informação e inclusão e que ajuda muito na hora de decidir o destino político do seu município. Quem tem a missão de apresentar esse universo, deixando as propostas claras para a comunidade surda são os intérpretes de Libras, a língua brasileira de sinais, fundamentais para que milhares de cidadãos tenham condições de fazer a melhor opção nas urnas.
Gildete Amorim atua como intérprete e tradutora de Libras há 25 anos. Ela se especializou na Federação Nacional de Educação de Surdos e possui certificação do MEC. Na atual campanha, trabalha para o candidato Luiz Lima (PSL) e em outros vários municípios - só candidatos a prefeitos são dez. Gildete destaca que a janela que se abre no horário eleitoral na TV é um importante instrumento de inclusão: "Propicia acessibilidade e dá condições para que conheçamos propostas dos candidatos, os prós e os contras. O partido que coloca a janela de Libras está respeitando a língua nativa do surdo como um direito linguístico do cidadão".
Leila Ramos, certificada no curso de Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais, está no 6° período de Serviço Social e aparece na telinha nos programas de Benedita da Silva (PT). Ela lembra que a certificação é de extrema importância, pois não se trata apenas de conhecer sinais: "A informação é um direito de todos. Libras é uma língua como qualquer outra, tem suas particularidades, deve ser estudada e traduzida com responsabilidade, clareza e coerência". Gildete menciona também a importância do convívio com a comunidade surda para se adquirir boa fluência e ter segurança na tradução.
Segundo ela, a repercussão do trabalho entre os surdos é muito boa: "Eles acabam tendo a inclinação de votar naqueles que têm maior preocupação em fazer com que a comunidade tenha acesso e conhecimento de suas propostas. Quando o trabalho do intérprete é bem feito, o resultado é muito satisfatório para os surdos". Para Leila, o candidato precisa mostrar respeito por todos os que vão às urnas: "Os surdos são eleitores, entender as propostas do candidato sem dúvida é fundamental. Por muito tempo, os surdos só tinham acesso às legendas, hoje têm acesso à informação, podem exercer o seu direito ao voto plenamente".
Uma das preocupações dos intérpretes, além de toda a preparação profissional, é fazer a tradução de forma discreta. Gildete diz que não se pode influenciar na fala do candidato, mas é necessário mais: "É preciso saber usar as expressões faciais, as mãos, ter facilidade e fluência na interpretação". Leila concorda: "A escolha dos sinais que se encaixam no contexto proposto, a expressão corporal, são essenciais, fazem toda a diferença para a comunidade surda. O feedback tem sido positivo e muito gratificante".
Gildete também elogia a iniciativa de vários partidos que estão se preocupando com a qualidade visual da interpretação, mas lamenta que outros não tenham a mesma atitude. "Apenas colocam o intérprete por medo de pagar algum tipo de multa. Não estão preocupados com a qualificação, empenho ou fidelidade do que está traduzido. Dá vergonha ver os tamanho das janelas, a qualidade da iluminação. Muitos surdos reclamam que têm dificuldade para enxergar as mãos do intérprete", alerta. "Isso não deveria ser tratado como algum tipo de esmola, uma vez que acessibilidade é direito linguístico de todos", conclui.