Comércio carioca está com as lojas fechadas desde o último dia 24 de março - Cleber Mendes
Comércio carioca está com as lojas fechadas desde o último dia 24 de marçoCleber Mendes
Por MARTHA IMENES
Antiga região de comércio farto, glamour e boemia, o Centro da cidade hoje sofre com o abandono, são lojas fechadas, prédios antigos que abrigavam brechós na Rua do Lavradio fechados, o "miolo" ali nas ruas Sete de Setembro, Buenos Aires, Ouvidor, Gonçalves Dias, o que se vê são mais lojas fechadas. Na movimentada Lapa, reduto da boemia carioca, o clima também é o mesmo: lojas e bares fechados, outros vazios, sem contar com o número crescente moradores nas ruas. E esse baque no comércio se repete em toda a cidade, nas zonas Norte, Sul e Oeste. Além do comércio, empresas deixaram o Rio, outras optaram por manter seus trabalhadores em home office para reduzir custos e isso impactou negativamente a economia da cidade. O impacto da pandemia pegou em cheio esses setores e a "vacina" para esses "pacientes" parece bem longe de ser descoberta.

Outro ponto que tem dificultado a retomada econômica do Rio é o total descaso com as vias públicas, principalmente no Distrito Industrial de Santa Cruz. Desde junho passado O DIA vem mostrando a buraqueira na região, que desembolsa R$ 260 milhões anuais de impostos e se vê com dificuldades para escoar sua produção devido às más condições das ruas do distrito. O mesmo se repete nos distritos de Campo Grande, Palmares e Paciência, que têm a Avenida Brasil como principal rota de escoamento. Quem trafega por ali sabe muito bem como é difícil lidar com engarrafamentos e buracos.

"Ah, mas estão sendo realizadas obras no Distrito de Santa Cruz". Sim, estão. O DIA foi lá conferir: a Avenida Átila Temporal está interditada, mas sem sinalização para quem trafega, inclusive nenhuma placa avisando que a rua ao lado, que era de mão única, virou mão dupla. O risco para quem anda nas ruas é uma constante. E as obras, segundo uma fonte, estão paradas por falta de material e transporte. Iniciadas em 6 de outubro, o prazo de término era em 20 dias. O asfalto vai demorar a chegar, britas foram espalhadas mas é possível ver a irregularidade do solo. Ou seja, pouquíssima coisa mudou.

"As indústrias instaladas aqui geram empregos para a região, arrecadam milhões em impostos, e temos condição de ser o principal polo industrial do estado. Já tivemos 20 indústrias aqui, agora temos 14", adverte o presidente da Associação das Empresas do Distrito Industrial de Santa Cruz e Adjacências (Aedin), Pedro Gonçalves de Matos, que é superintendente da Casa da Moeda do Brasil. 
Bares e restaurantes perderam 28,7 mil postos de trabalho
O setor de bares e restaurantes é um dos que amarga a perda de postos de trabalho. Para se ter uma ideia, de março até julho foram fechados 28,7 mil postos de trabalho no estado. E qual seria a alternativa para o setor? Segundo donos de estabelecimentos, que resistem como podem à crise, seria um refinanciamento de dívidas antes mesmo de serem inscritos da dívida ativa.

"A crise do coronavírus foi um tsunami para o setor. Antes da crise, tínhamos 110 mil empregos diretos na cidade do Rio. Estimamos que pelo menos um quarto destes empregos foI perdido. Além disso, pelo menos 10% fechou de vez e não abre mais. Um terço, pelo menos, não conseguirá abrir. A não ser que mude algo muito significativo para que o crédito chegue ao pequeno empresário”, afirmou Fernando Blower, presidente do SindRio, sindicato que representa o setor.

O governo federal até criou um Refis do Simples em agosto, mas deixou de fora os bons pagadores e contemplou os donos de estabelecimentos que estão inscritos na dívida ativa da União. Os que foram impactados pela pandemia de coronavírus – e estão com os impostos em atraso desde março – ficaram de fora do programa.

Comércio de rua não não dá sinais de reação
A mesma situação é encontrada no comércio de rua, que ainda não deu sinais de reação após a reabertura de suas atividades no Rio, em 27 de junho, segundo levantamento do CDL-Rio e Sindilojas. Segundo Aldo Gonçalves, que preside as duas entidades, o comércio do Rio já estava em crise mesmo antes da pandemia, mas a covid-19 agravou ainda mais a situação dos 25 mil lojistas que as organizações representam.

“A economia já estava enfraquecida antes da pandemia de covid-19 ocorrer. O movimento de vendas do ano passado foi um fracasso. Nenhuma data comemorativa, nem mesmo o Natal, apresentou o resultado esperado. Já neste ano, em plena pandemia, datas como a Páscoa, o Dia das Mães e o Dia dos Namorados tiveram resultados igualmente negativos", avaliou.

Aldo diz que apesar de o governo ter disponibilizado linhas de crédito na tentativa de amenizar a crise, os comerciantes, especialmente os micro e pequenos empresários, vêm encontrando dificuldades para acessá-las. “Se isso não mudar rapidamente, milhares de negócios do setor não sobreviverão, ceifando outros milhares de postos de trabalho”, alerta Aldo Gonçalves.

O que esperar do futuro administrador da cidade?
Diante desse quadro, O DIA perguntou aos candidatos à Prefeitura do Rio: "Quais são os planos para a recuperação econômica da cidade?". Confira as propostas dos postulantes ao Palácio da Cidade.

BENEDITA DA SILVA (PT)
“A transformação econômica da cidade começa pela Avenida Brasil, com foco no desenvolvimento das zonas Norte e Oeste. Vamos concluir o BRT Transcarioca e construir moradias e novas escolas em seu entorno. Outro plano é desenvolver polos industriais com ênfase nos setores farmacêutico, pela proximidade com Fiocruz e UFRJ, e de tecnologia. Com isso iremos atrair também grandes empresas de logística. A forma de unir a cidade partida é criar empregos onde as pessoas mais precisam.”

BANDEIRA DE MELLO (REDE)
"A decadência econômica do Rio tem sido um processo contínuo: a participação da cidade do Rio no PIB do Brasil, que já foi de 11,8%, alcançou 5,1% no último dado disponível. Para reverter, é preciso boa gestão fiscal, abrindo espaço no orçamento municipal para investimentos e outras despesas com alto efeito multiplicador de renda e emprego. Além disso, vamos melhorar o ambiente de negócios na cidade, atrair mais turistas, fazer um calendário de eventos ao longo do ano inteiro, dentre várias outras medidas que estão em nosso programa de governo".

CLARISSA GAROTINHO (PROS)
"Precisamos de choque de gestão. Renegociarei as taxas de juros altíssimas dos empréstimos que o Paes pegou para bancar obras faraônicas e que acabaram com a nossa capacidade de investimento. Não vamos ficar parados atrás de uma mesa, como fez o Crivella, responsável por péssima gestão fiscal. Vou incrementar a economia combatendo a burocracia e incentivando o empreendedorismo. Também vou acabar com ralos do desperdício. O Rio vai começar a escrever uma nova história".

CYRO GARCIA (PSTU)
"Vamos criar um grande Plano de Obras Públicas, que será elaborado através dos Conselhos Populares, junto com a população. E com isso revitalizar a cidade realizando obras de infraestrutura e reformas em prédios na área da saúde e educação, gerando emprego e renda. E dinheiro para investir tem, é preciso acabar com as isenções fiscais, cobrar os grandes devedores e parar de pagar a dívida pública".

EDUARDO PAES (DEM)
"Recuperarei a situação financeira do Rio com a atração de investimentos para a cidade e atenção aos setores de turismo, tecnologia, saúde, energia e audiovisual. Garantirei recursos para revitalização de áreas degradadas, em particular a Avenida Brasil, ao celebrar parcerias com o setor privado e governo federal e colocar sempre o interesse da cidade acima de divergências políticas ou ideológicas."

FRED LUZ (NOVO)
"O Rio de Janeiro precisa sair do ciclo vicioso de gastar mais do que arrecada. E o que se faz hoje para ter o equilíbrio fiscal? Aumenta imposto, aumenta exigência, aumenta a regulamentação. Com isso, as empresas e os empreendedores fogem do Rio de Janeiro. Isso causa desemprego, a receita cai, não diminuindo a despesa, aumenta o imposto, aumenta a regulamentação e aumenta a complicação. Este é o ciclo vicioso, que vem ano a ano destruindo a cidade do Rio de Janeiro. É preciso inverter este movimento para alcançarmos o ciclo virtuoso. Facilitar, descomplicar, diminuir impostos. Isso atrai empresas, investimentos, e gera mais atividade econômica. Diminuindo impostos (pelo menos não aumentando a alíquota), diminuindo a complicação, serão gerados mais empregos e mais oportunidades de negócios. E aí o Rio de janeiro vai prosperando, saindo deste ciclo de decadência e de destruição da cidade".
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GLORIA HELOIZA (PSC)
"Redução de despesas com pessoal. Debater e aprovar uma reforma previdenciária que viabilize o orçamento público municipal. Buscar a estabilidade orçamentária, não se gastando mais do que se arrecada. Corte nos cargos comissionados da Prefeitura do Rio. Choque de gestão na Previ-Rio, com auditoria completa das contas e nos benefícios concedidos. Nomeação de uma equipe de especialistas na gestão de receitas de capital e busca de novas receitas através da exploração do patrimônio público, das competências publicas municipais e do poder normativo da Prefeitura. Revisão de contratos e renegociação com credores, talvez buscando junto ao Senado autorização para securitizar parte da divida municipal, e sempre respeitando a segurança jurídica".

HENRIQUE SIMONARD (PCO)
Procurado pelo DIA, o candidato não informou seu projeto para recuperação econômica da cidade.
LUIZ LIMA (PSL)
"A situação fiscal do Rio é grave. Temos que conectar os diversos atores para tirar o Rio do fundo do poço a que chegou. Vamos trabalhar com harmonia com os governos federal e estadual para garantir segurança nas ruas e a retomada dos investimentos. O prefeito vai ser um agente facilitador, e não 'atrapalhador' da iniciativa privada. A burocracia afasta a vontade das pessoas de empreender".

MARCELO CRIVELLA (REPUBLICANOS)
"A pandemia trouxe novos desafios e a necessidade de ajustes diante desse novo cenário, fomos impactados no âmbito econômico e na saúde, isso a nível mundial. O atual cenário econômico requer criatividade, talento e reinvenção do novo normal para a Cidade do Rio de Janeiro. Meu plano de recuperação será focado no fomento econômico favorável ao desenvolvimento de novos negócios, implementação de políticas de economia solidária e fortalecimento das redes de consumo e produção local. Se reeleito, iremos instituir do Banco Carioca de Fomento, em parceria com o BNDES, para oferecer linhas de microcrédito para os pequenos empreendedores e injetar recursos no financiamento de empreendimentos sustentáveis, socialmente responsáveis e com impacto comunitário."

MARTHA ROCHA (PDT)
"Vamos abrir a caixa preta e auditar contratos, despesas e serviços. Para reaquecer a economia, vamos incentivar o comércio, investir no turismo interno, valorizando o Carnaval e a cultura; criar um polo de empresas tecnológicas na Região Portuária, e investir no Novo Complexo Industrial da Saúde, com instituições científicas e universidades. E vamos transformar o Rio na capital da energia no país, com a presença de grandes empresas do setor.

RENATA SOUZA (PSOL)
" Vamos investir na construção civil com obras de saneamento em favelas, construção de moradias e melhorias para mobilidade urbana. Isso vai gerar mais de 150 mil empregos. Outra iniciativa será apoiar o comércio de bairro com infra estrutura, como banheiros públicos e mobiliário. E nossa prioridade: a Renda Básica Carioca, que apoiará com meio salário mínimo as 200 mil famílias mais pobres. De cada real recebido, metade volta para a economia em tributos. Não é caridade, é política de desenvolvimento."
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PAULO MESSINA (MDB)
"Vamos fortalecer os mecanismos de controle de pagamentos e rever cada um dos contratos da Prefeitura, passando a controlar cada centavo na unha. Traremos o controle das Organizações Sociais da Saúde para as mãos da Prefeitura, o que vai gerar uma economia anual de cerca de R$ 150 milhões. Vamos gerar emprego atraindo grandes empresas, reativando a atividade portuária e fazendo os órgãos da prefeitura comprar uniformes de pequenos produtores locais".


SUÊD HAIDAR (PMB)
"A primeira medida é diagnosticar a situação financeira do governo. Realinhar as finanças e garantir o equilíbrio. Investir em programas para retomada industrial, pelas Zonas de Atividades Concentradas (ZAC), nas zonas norte e oeste. Garantir emprego e renda. Vou investir na cultura regional para ativar o turismo e economia, como também na educação, qualificação, e treinamento gerando mão-de-obra qualificada e o desenvolvimento".