Programa de Crivella mostrou cena em que dançam abraçados - reprodução TV
Programa de Crivella mostrou cena em que dançam abraçadosreprodução TV
Por RICARDO SCHOTT
Rio - Em seu espaço diário no Horário Eleitoral Gratuito, o candidato à reeleição do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) tem feito questão de associar sua imagem à do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). E, igualmente, de explicar a seus eleitores que tem o apoio dele. 
No programa, Bolsonaro já apareceu pedindo votos para Crivella, que também exibe costumeiramente um vídeo em que o presidente diz haver "coincidências" entre os dois. Assim como o prefeito explica que o que move seu trabalho "é o que moveu o presidente quando acordou naquele leito de UTI esfaqueado".
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O candidato à reeleição também não mede esforços para chamar a atenção do eleitor bolsonarista. Conforme noticiado por O DIA, o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no setor de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais, publicada no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), informou que Crivella investiu mais de R$ 203.670,00 em publicidade relacionada à Família Bolsonaro através de materiais impressos e adesivos. Mas esse apoio - e esses esforços do prefeito - são úteis para conquistar eleitores para Crivella?
Onda que passou
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O DIA fez essa pergunta a três pesquisadores. Ricardo Ismael, cientista político da PUC/RJ, afirma que, seja como for, a onda bolsonarista de 2018 já passou. "Tanto que o apoio do presidente não está sendo suficiente para candidatos como Crivella e, em São Paulo, Celso Russomano (Republicanos/SP)", afirma, ressaltando que há rejeição a Crivella por causa de atitudes à frente da prefeitura. "Quando assumiu, ele parecia que nem estava muito ligado no cargo. Houve erros que foram midiatizados, inclusive servindo de motivo para tentativa de abertura de processo de impeachment".
"Ainda há polarização política e muita gente pode votar num candidato apoiado por ele. Mas não é como em 2018, quando Bolsonaro ajudou a eleger governadores e senadores, inclusive candidatos desconhecidos, que nunca haviam tentado cargos importantes", completa ele, lembrando que Crivella tem como vantagens o fato de ter eleitorado fiel e trajetória própria no Rio. Por outro lado, Ricardo lembra que Crivella já se elegeu senador em 2016 com o apoio da esquerda e o fato de ter garantido o apoio de Bolsonaro impossibilita que fuja da bolha conservadora desta vez. "Pode ser até que, com esse apoio, ele consiga ir para o segundo turno. Mas a esquerda votará nele? Acho difícil".
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Sem partido
Professor do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas, Sergio Praça coloca que Crivella é muito mal avaliado e que a ligação a Bolsonaro pode não ajudar em nada. "Ele aposta que pode pescar votos entre o público que ama Bolsonaro, mas há casos e casos. Em São Paulo não fará diferença para o Russomano, que também é mal avaliado, já se meteu em mil polêmicas e não é muito habilidoso politicamente", conta, lembrando que no caso do apoio de Bolsonaro, há agravantes. "Quando havia políticos unindo suas imagens às de Lula, ele estava muito bem avaliado e tinha um partido por trás, bem estruturado. O contrário do Bolsonaro, que não tem partido, está tentando formar um. É um fato que atrapalha".

Voto útil

Geraldo Tadeu Monteiro, cientista político do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), explica que é preciso focar nos índices de rejeição a Crivella (58% de acordo com pesquisa Ibope liberada na terça-feira) para entender o quanto o apoio de Bolsonaro será útil a ele. "Rejeição é indicativo de desempenho num segundo turno. Numa eleição com segundo turno, a rejeição ao Bolsonaro pode se somar à rejeição ao candidato apoiado por ele. Quem tem índice muito grande, tem dificuldade de conquistar novos votos", conta.

Um outro detalhe explicado por Geraldo é que o voto útil, bastante associado à esquerda, também pode ser aplicado pela direita, o que pode tirar a Martha Rocha (PDT) do segundo turno. "Ela não é propriamente de esquerda, mas vem como candidata de um partido de esquerda. Pode acontecer de o Crivella estimular um voto útil conservador, ainda que ele não seja o candidato dos sonhos dos eleitores de direita", conta.

Voto de evangélicos

Crivella poderá ser ajudado pelos eleitores evangélicos na eleição de domingo? Tanto Ricardo quanto Geraldo dizem que, apesar do público do candidato ainda ser muito ligado à Igreja Universal, o apoio não é tão forte quanto em pleitos passados.
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"O rebanho do Crivella não está unido. Pesquisas apontaram que os evangélicos estão votando até mais no Eduardo Paes, que tem conexões com pastores e parece um candidato mais viável a vários deles", diz Geraldo, afirmando que o atual prefeito busca mais o voto conservador do que propriamente o evangélico. "Pode ser um católico ou até um ateu, o importante é que seja o eleitor que teme que um partido de esquerda vá para o segundo turno".