View of the silhouette of Brazilian President Jair Bolsonaro on arrival at the promotion ceremony of General Officers of the Armed Forces, at Planalto Palace in Brasilia, on August 4, 2022. EVARISTO SA / AFPEVARISTO SA / AFP

O governo Jair Bolsonaro buscarou minimizar os atos em defesa da democracia realizados ontem pelo País. Bolsonaro, ministros e coordenadores de campanha traçaram a estratégia de colar a iniciativa à oposição e trataram o ato na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) como algo menor.

"Hoje, aconteceu um ato muito importante em prol do Brasil e de grande relevância para o povo brasileiro: a Petrobras reduziu, mais uma vez, o preço do diesel", escreveu o presidente nas redes sociais, após meses de alta nos combustíveis, que elevaram a inflação. "A redução representa queda de R$ 0,22 por litro. O presente mês acumula redução de R$ 0,42 por litro de diesel. Já estamos entre os países com o menor preço médio de combustíveis do mundo, no cenário atual", disse Bolsonaro.

À noite, durante live semanal, Bolsonaro exibiu um exemplar da Constituição Federal de 1988 e indagou: "Alguém discorda que essa daqui é a melhor carta à democracia?" O presidente ainda chamou os manifestos lidos ontem de "pedaço de papel qualquer" e afirmou que o PT deu voto contrário ao texto da Carta Magna brasileira.

Desconforto

Nos bastidores, ministros do Palácio do Planalto admitiram desconforto com os atos e já vinham reclamando que todos se identificavam como democratas e nenhuma ruptura seria positiva para o País. A iniciativa apoiada pelo empresariado, com a entrada da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na articulação de uma carta com 107 adesões, foi a que mais incomodou o Planalto.

Apesar da presença de atores políticos e sociais de todo o espectro ideológico, a avaliação interna do comitê bolsonarista foi a de que as manifestações não vão afetar a decisão de voto em outubro e devem ser tratadas como protesto restrito a opositores e, de forma disfarçada, em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT ao Planalto. Os gritos de "fora, Bolsonaro", em São Paulo, deram munição à resposta governista.

Também com ironia, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) adotaram a mesma linha e disseram que a verdadeira carta da democracia brasileira é a Constituição Federal. "Essa é a carta que o povo brasileiro exige de um presidente da República", disse o filho mais velho do presidente, divulgando a queda no preço da gasolina e do diesel.

"Carta ao Povo Brasileiro: estamos escrevendo a Carta que muda o Brasil para melhor. Combustível mais barato, redução do preço do diesel! Deflação, aumento do emprego! Economia forte, Democracia forte! Parabéns, democrata Jair Bolsonaro!", registrou o titular da Casa Civil.

Poderes

Alvo de Bolsonaro e prestes a passar o comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o ministro Alexandre de Moraes, o presidente da Corte, Edson Fachin, divulgou ontem uma carta sobre os manifestos pró-democracia. Em tom contundente, o ministro escreveu que a defesa da ordem democrática "impõe a rejeição categórica do flertar com o retrocesso".

Sem citar o presidente, Fachin disse que a sociedade não pode adiar "a coibição de práticas desinformativas que pretendem, com perfumaria retórica e pretextos inventados, justificar a injustificável rejeição do julgamento popular". Moraes também elogiou os atos. "A Faculdade de Direito da USP foi palco de importantes atos, reforçando o orgulho da solidez e fortaleza da democracia e em nosso sistema eleitoral", postou Moraes.

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) disse que o Congresso não aceita "retrocesso" e "sempre será o guardião da democracia". "A solução para os problemas do País passa pela presença do estado de direito, pelo respeito às instituições e apoio irrestrito às manifestações pacíficas e ao processo eleitoral."

Aliado do Planalto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), destacou a importância da Casa na representação popular. "A Câmara dos Deputados é o coração e a síntese da democracia. Democracia, uma conquista de todos."
Por Felipe Frazão, Iander Porcella, Izael Pereira, Weslley Galzo e Bruno Luiz