Ciro Gomes participa de sabatina promovida pelos jornais O Globo, Valor Econômico e rádio CBNDivulgação

O candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) disse nesta sexta-feira, 26, durante sabatina de o Globo, Rádio CBN e Jornal Valor Econômico que a única proposta apresentada por seu oponente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevista ao Jornal Nacional na noite de quinta-feira (25) é dele: a de reestruturação da dívida dos consumidores.
Perguntado sobre como via o fato de Lula ter usado uma de suas propostas no telejornal, Ciro disse: "eu não acho nada ruim que copiem minhas ideias porque elas não são minhas, mas do povo brasileiro. Mas se você for ver bem, essa foi a única proposta que Lula apresentou no 'JN'", disse o pedetista.
De acordo com Ciro, os cidadãos ficaram reféns dos bancos porque o governo Lula expandiu o crédito em 15% da proporção da riqueza brasileira, mas não baixou os juros.
'Kinder ovo'
Na sabatina, Ciro Gomes classificou Lula como "candidato Kinder ovo". Isso porque durante a entrevista ao telejornal da TV Globo, o petista se recusou a responder sobre como seria indicado o Procurador Geral da República, se obedecendo ou não a hierarquia da lista tríplice.
Lula, ao se recusar a responder à questão, disse que não ia dizer o que fará só para deixar uma "pulguinha atrás da orelha".
"Lula é o primeiro candidato Kinder ovo da história. Você abre e encontra uma surpresa", provocou Ciro.
Ciro defende igualar padrão da indústria brasileira ao da chinesa
Para isso, ele afirma que é preciso implementar um novo código brasileiro de trabalho para promover equilíbrio.
"O padrão chinês é assim, o juro do empresário brasileiro é 40/50% ao ano, o do empresário chinês descontado a inflação é zero, essa é a primeira grande marca do padrão chinês, financiamento que é potente ao mundo. O Brasil faz 26 anos que impõe ao mundo da produção brasileira a maior taxa de juros que é consistentemente mais alta do que o lucro dos negócios. Ora se o juro que o governo paga é mais alto do que o lucro do negócio, para quem tem dinheiro é melhor botar na renda fixa do que na produção e quem não tem dinheiro não vai tomar dinheiro emprestado pra botar no negócio que o lucro é menor do que o juro pago", disse.
Para atingir esse padrão, Ciro defende que o Brasil precisa, além de rever os juros ao setor, investir em tecnologia e pesquisa. Além disso, é preciso achar um ponto de equilíbrio para que o desenvolvimento alcançado pela indústria chinesa seja implementado no Brasil sem que haja prejuízos ao trabalhador e aos empresários.
"Nenhuma nação do mundo que tenha introduzido no mundo do trabalho salário, renda, aposentadoria, segurança do trabalho, seguridade social, nunca prosperou introduzindo nesse universo insegurança jurídica e insegurança econômica, que é o que o erro da reforma trabalhista lá atrás cometeu na minha opinião", defendeu o pedetista.
"A China hoje já tem um custo por hora trabalhada maior do que o Brasil, e o ciclo de desenvolvimento que a China agora começa a experimentar, é baseado na expansão do mercado interno e essa é a chave para nós entendermos qual é o papel da renda do trabalho numa economia como a brasileira", completou.
Traição no Ceará
O candidato recusou-se novamente a responder sobre a traição que sofreu nesta campanha no Ceará, seu principal reduto eleitoral e berço político. A reação de Ciro decorre do fato de ex-aliados, inclusive um de seus irmãos, terem lançado candidatos concorrentes no Ceará. Sobre o episódio, o pedetista disse no último domingo (21) que "sentir o espinho da traição é uma coisa amarga".
Na segunda-feira, 22, em agenda que cumpriu em São Paulo, ao ser questionado por jornalistas sobre a formação do palanque no Ceará, Ciro pediu "dispensa" da obrigatoriedade de responder à pergunta. E, hoje, na sabatina do Sistema Globo, Ciro disse que é candidato à Presidência da República e que não gostaria de responder sobre episódios políticos locais.
Lei de Usura
O candidato também disse que irá utilizar a Lei da Usura para punir bancos que praticarem juros abusivos sobre empréstimos consignados a partir do Auxílio Brasil. A medida do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) permite ao beneficiários comprometer até 40% dos valor do benefício com o parcelamento do crédito, e é vista por especialistas como uma armadilha.
"A lei da Usura, o Código Penal, não precisa inovar nada, nenhuma coisa. Um garoto que roubou um celular tem que ser preso e um banqueiro que rouba o de comer das pessoas não vai se acudir não do nada em nome de quem? No meu país será punido igualzinho", disse.
O presidenciável teceu críticas à emenda à Constituição do governo aprovada em caráter de emergência para criar um socorro emergencial alegando fome. "Fome é uma coisa que se sente todo dia. O socorro emergência, portanto, não vale só o valor, vale também a frequência para que eu possa financiar o de comer, dos miseráveis, dos famintos, do fundo do poço de uma sociedade doente todo dia", disse.
Ciro afirmou que com a recusa de bancos de primeira linha do Brasil a participar do que chamou de "grande canalhice", como Itaú, Santander, em não fazer "esse crédito consignado, porque consideram imoral, eu pela primeira vez não me senti tão só", completou.
A norma citada por Ciro Gomes prevê o crime de usura pecuniária ou real, e descreve a conduta delituosa como sendo o ato de cobrar juros, e outros tipos de taxas ou descontos, superiores aos limites legais, ou realizar contrato abusando da situação de necessidade da outra parte para obter lucro excessivo. A pena prevista é de 6 meses a 2 anos de detenção e multa.
Pacto com governadores
Ciro Gomes voltou a defender hoje o que convencionou chamar de "pacto federativo com governadores" para quebrar a resistência do Congresso a propostas que ele, caso venha ser eleito, pretende implementar. Diante da tendência de um Congresso que será composto por uma baixíssima renovação para a próxima legislatura e de governo cujo partido de sustentação não conseguiu fazer sequer uma aliança, Ciro tem sido vítima de constantes questionamentos sobre como vai aprovar seus projetos sem uma base de apoio no Legislativo.