O ministro do STF, Alexandre de MoraesAgência Brasil


Entidades empresariais e industriais se manifestaram contra o mandado de busca e apreensão realizado pela Polícia Federal contra oito empresários na última terça-feira (23), sob ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O ministro determinou que os agentes cumprissem os mandados de busca e apreensão contra:
  • Luciano Hang, dono da Havan ;
  • Afrânio Barreira Filho, dono do Coco Bambu;
  • Ivan Wrobel, dono da W3 Engenharia;
  • José Isaac Peres, fundador da rede de shoppings Multiplan;
  • José Koury, dono do Barra World Shopping;
  • Luiz André Tissot, presidente do Grupo Sierra;
  • Marco Aurélio Raymundo, dono da Mormaii;
  • Meyer Joseph Nigri, fundador da Tecnisa.
Eles são acusados de trocar mensagens que diziam que um "golpe" seria melhor do que um novo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 
Na quarta-feira (23),  91 entidades e lideranças empresariais de Santa Catarina emitiram uma nota oficial contra a decisão de Moraes. Dois dos oito empresários acusados são catarinenses.
A nota, que condena o ativismo social e diz que "opinião não é crime", foi chefiada pela CDL de Florianópolis e contém participação de Câmaras de Dirigentes Lojistas de outros municípios, Associações Empresariais e Sindicatos.
Leia o texto na íntegra:
“O direito de poder expressar, de forma livre e desimpedida, opiniões e anseios é um marco civilizatório inquestionável, mas que tem tido pouco ou quase nenhum apreço a depender do segmento social de que origina – especialmente quando o assunto envolve o futuro do País e mais ainda quando o empresário ousa fazer ouvir a sua voz.
O empresariado tem sido, cada vez mais, figura demonizada pela narrativa ideológica que despreza o seu papel de indutor do desenvolvimento.
A recentíssima operação policial autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), concretizada por meio de busca e apreensão em cinco estados, além de quebra de sigilos e bloqueio de acesso a redes sociais, sob o pretexto de “investigar ilicitudes”, é apenas o mais novo episódio de violência estatal a que estão acometidos os empreendedores brasileiros, alijados do direito de participar do debate político e de externar suas opiniões, quaisquer que sejam.
Inebriados por um febril ativismo que transcende os limites de atuação como órgão responsável por garantir, em derradeira instância, o cumprimento da Constituição Federal, certos integrantes do STF ignoram solenemente o fato de que os empresários são, além de geradores de renda e oportunidades para todos, cidadãos como qualquer outro, portadores dos mesmos direitos consagrados a todos os brasileiros, independentemente de sua origem e trajetória social. Querer amordaça-los, impedi-los de influir no debate político ou até mesmo de externar opiniões é um perigosíssimo aceno a regimes em que o delito de pensamento é um ato que pode acarretar a perda da própria vida.
O tecido democrático chegou ao ponto da ruptura e quem deveria atuar para impedir tamanho prejuízo é, hoje, seu maior incentivador. A sociedade civil organizada, esteio dos valores morais que necessitam, mais do que nunca, ser fortalecidos para a própria viabilidade da Nação, não pode compactuar com tais atos.
As entidades que subscrevem este manifesto, representativas de milhões de brasileiros que correm riscos diariamente e têm, não raras vezes, o próprio Poder Público como seu maior empecilho, detêm o imperativo moral de dizer, com todas as letras, aos Senhores Ministros do STF: opinião não é crime!”.
A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) também se manifestou sobre a operação e defendeu um dos investigados, o dono do restaurante Coco Bambu, Afrânio Barreira. 
"Eu conheço o Afrânio e estive com ele várias vezes. Nunca vi uma fala dele nessa direção. É claro que ele é bolsonarista, ele tem proximidade com o presidente. Mas nessa questão de associar ele a golpe, eu, pessoalmente, não prospero", disse Paulo Solmucci, presidente da entidade.
Segundo ele, a ação da PF não deve afetar a imagem do setor. "O que saiu na imprensa é muito pouco. O meu conhecimento pessoal do Afrânio é exatamente o contrário. É um cara que sempre valorizou a democracia, as eleições. Penso que não terá nenhum impacto, porque, com a apuração dos fatos, acho que isso vai ficar claro. Essa é minha expectativa", concluiu Solmucci.
A Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) disse, na quarta-feira (24) que estava apreensiva com a operação da PF. "A mais profunda apreensão com o rumo da manifestação do pensamento no Brasil”. 
Em nota oficial em seu site, a instituição defende que “é absolutamente irrazoável que conversas em redes privadas — insuscetíveis, por isso, de configurar qualquer ameaça — ainda que em termos veementes, recebam a resposta extremada que sofreram.”
A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) emitiu uma nota nesta sexta-feira (26), afirmando estar preocupada com o "ambiente institucional do país".
"A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) vem a público, expressar a sua preocupação com o ambiente institucional do país a partir do que foi divulgado sobre a recente iniciativa tomada por um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), contra empresários brasileiros, sob o pretexto de investigar ilicitudes decorrentes de opiniões trocadas através de mensagens em um grupo privado de conversação".
A Federação concluiu dizendo que seguirá acompanhando o "desenrolar dos fatos, na crença de que os direitos fundamentais de todos sejam respeitados, e a sociedade brasileira possa seguir dentro da normalidade democrática".
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