Os dez senadores eleitos que mais gastaram dinheiro na campanha, de acordo com a proporção por voto recebido, são aliados e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Todos esses parlamentares são políticos filiados ao PL, União Brasil — partido que mais recebeu recursos públicos —, Republicanos e PP, legendas do Centrão.
O senador eleito Hiran Gonçalves (PP), de Roraima, foi quem mais gastou proporcionalmente por voto recebido. Cada voto custou R$ 17,21. O valor é 143 vezes o gasto por Cleitinho (PSC), que se elegeu por Minas Gerais com R$ 0,12 por voto. O candidato do PSC mineiro gastou apenas R$ 504.589,90 durante toda a campanha, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Seu adversário direto pela vaga, o senador Alexandre Silveira (PSD), candidato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Estado, gastou 7,5 vezes essa quantia. Foram R$ 3,8 milhões.
Em São Paulo, Marcos Pontes (PL) gastou R$ 0,37 por voto. Ex-ministro da Ciência e Tecnologia de Bolsonaro, Pontes empregou R$ 4.594.735,25 em toda a campanha. Foi cerca de R$ 2,2 milhões a menos que o seu principal adversário, Márcio França (PSB), que usou R$ 6.783.467,67. O pessebista teve gasto de R$ 0,55 por voto e conquistou 2,9 milhões de votos a menos que o astronauta.
Segundo o cientista político Marcus Ianone, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), o montante de recursos públicos para as campanhas eleitorais ainda decide qual candidato terá mais ou menos chance de ser eleito. Ele afirma ainda que as exceções ficam por parte dos nomes que são impulsionados pelos candidatos à Presidência e pelos políticos que geram engajamento orgânico nas redes sociais e na sociedade.
"O dinheiro ainda decide uma eleição em uma campanha tradicional É como os candidatos vão conseguir colocar bandeiras, santinhos, cabos eleitorais e propaganda nas ruas. Apesar disso, ainda temos aqueles nomes que são carregados pela ligação com os presidenciáveis ou que geram um engajamento orgânico durante o curto período de campanha. Foi assim com (Wilson) Witzel na eleição passada e com o Cleitinho em Minas Gerais neste ano", explica.
Os candidatos do PL e do União Brasil ao Congresso foram beneficiados por decisões estratégicas dos partidos, que priorizaram a eleição de representantes à Câmara e ao Senado. O montante destinado ao União, sigla criada com a fusão do Democratas (DEM) com o Partido Social Liberal (PSL), do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), o Fundo Eleitoral, foi de R$ 776,5 milhões. O PL recebeu R$ 288,5 milhões.
Entre os dez senadores que mais gastaram por voto recebido estão dois ex-ministros de Bolsonaro. Damares Alves (PL), eleita ao Senado pelo Distrito Federal, e Rogério Marinho (PL), no Rio Grande do Norte. A ex-chefe da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos teve gasto de R$ 4,61 por voto, enquanto a campanha de Marinho gastou R$ 4,17.
O cálculo foi feito pelo Estadão com base nas despesas contratadas declaradas pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral divididas pelos votos recebidos pelos candidatos.
O especialista em marketing político Marcos Iten diz que, apesar da campanha neste ano ter sido marcada pelas formas tradicionais de campanha, como propaganda em rádio e TV, os candidatos investiram tempo e recursos nas redes sociais, o que deixa as campanhas mais baratas.
"O custo benefício dos gastos com redes sociais é maior se comparado com as formas tradicionais de propaganda. É possível chegar a um número muito maior de eleitores com um gasto menor. Em São Paulo, por exemplo, é impossível visitar todas as cidades, pelo gasto e pelo tempo de campanha", diz.
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