Post usa dados publicados erroneamente para sugerir fraude no 1º turnoArte/Comprova
Onde foi publicado: Twitter.
Conclusão do Comprova: Um erro no infográfico desenvolvido pelo jornal O Globo para divulgação dos resultados do primeiro turno da eleição presidencial provocou confusão na interpretação dos dados e foi usado como base de vídeo enganoso que insinua fraude no pleito em Maceió. No entanto, o problema no sistema do jornal não tem ligação com a totalização dos votos, de responsabilidade do TSE, ou seja, não há indício de fraude.
No vídeo aqui verificado, o autor consulta o resultado da votação por zona eleitoral de Maceió no Mapa da Votação e constata que Bolsonaro teve percentuais maiores do que Lula nas cinco regiões. Contudo, quando seleciona a opção “todas as zonas eleitorais”, que deveria mostrar o resultado geral no município, o sistema do jornal exibe o petista à frente, com 56,5% dos votos. Em seguida, está Bolsonaro, com 36,05%. Diante disso, o autor sugere que houve fraude a favor de Lula.
Por um erro no sistema, a opção “todas as zonas eleitorais” puxou os dados do resultado da votação em todo o estado de Alagoas, onde, de fato, Lula ficou à frente, com o percentual de 56,5%. Em nota, O Globo explicou o problema e informou que o erro ocorreu no sistema do próprio veículo, na distribuição de votos totais nas 63 cidades em que era possível consultar a votação por zona eleitoral. O site do TSE apresenta os dados corretos.
Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: Até o dia 10 de outubro, o tuíte obteve 13,9 mil visualizações, 342 curtidas e 216 compartilhamentos.
O que diz o autor da publicação: A conta responsável pela publicação no Twitter não permite envio de mensagem direta. O Comprova buscou perfil semelhante em outras redes, mas não obteve sucesso. No início do vídeo, o autor se identifica com um nome, mas não identificamos seu perfil nas redes sociais.
Como verificamos: Após ter acesso ao conteúdo investigado, a equipe fez buscas no Google, tendo como retorno uma publicação de O Globo, na qual o jornal reconhece a falha em seu mapa de apuração.
A busca também encontrou uma publicação da Justiça Eleitoral, que classificou a insinuação de fraude como “boato” e apontou a ocorrência de equívoco na divulgação feita pelo jornal.
Por fim, a equipe acessou os dados oficiais do TSE relativos ao resultado das eleições no estado de Alagoas e comparou com os números do conteúdo verificado.
Portal do TSE tem dados corretos sobre votação em Maceió
Os dados do TSE mostram que, em Alagoas, Lula recebeu 974.156 votos, o que representa 56,5%. Já Bolsonaro teve 621.515 votos, 36,05%. Em Maceió, Bolsonaro recebeu o maior percentual de votos, 49,59%, ante 40,43% do petista.
No vídeo, o autor pesquisa no site de O Globo os percentuais de votos dos candidatos à Presidência em cada uma das zonas eleitorais de Maceió. O Comprova confrontou as informações mostradas na publicação com os dados divulgados pelo TSE e constatou que os percentuais das zonas estão corretos, com Bolsonaro à frente de Lula em todos os casos (apesar disso, o nome de Lula aparece primeiro no sistema do tribunal porque ele ficou à frente no resultado geral, considerando todo o estado de Alagoas):
Zona 0001:
Lula: 39,13% (34.346 votos)
Bolsonaro: 50,45% (44.285 votos)
Zona 0002:
Lula: 39,92% (51.420 votos)
Bolsonaro: 49,74% (64.064 votos)
Zona 003:
Lula: 41,57% (38.308 votos)
Bolsonaro: 48,95% (45.114 votos)
Zona 033:
Lula: 41,01% (30.249 votos)
Bolsonaro: 49,11% (36.226 votos)
Zona 054:
Lula: 40,75% (41.391 votos)
Bolsonaro: 49,58% (50.364 votos)
No entanto, por causa do erro no sistema de O Globo, quando o autor do vídeo pesquisa no site do jornal pelo resultado geral da votação em Maceió (na opção “todas as zonas eleitorais”), o portal apresenta Lula à frente. Isso ocorre, segundo O Globo, porque o sistema puxa o resultado do estado de Alagoas (Lula com 56,5% e Bolsonaro com 36,05%). De fato, os percentuais apresentados de forma errada no sistema, como se fossem de Maceió, correspondem ao resultado que os presidenciáveis tiveram no estado.
A inconsistência no sistema de O Globo não tem relação com a apuração e divulgação oficial dos dados, feitas pelo TSE, ou seja, o problema não é indício de fraude, como sugere o autor do vídeo. O tribunal divulgou corretamente o resultado da eleição em Maceió, conforme mostra a captura de tela abaixo:
![Portal do TSE mostra informações corretas sobre a votação para presidente em Maceió (AL) - Reprodução](https://odia.ig.com.br/_midias/jpg/2022/10/11/100x100/1_null_19-26721552.jpg)
O jornal destacou que o percentual de votos de cada candidato em cada zona eleitoral está correto na apresentação numérica de dados e no mapa de cor. Entretanto, quando o usuário selecionava a opção “todas as zonas eleitorais”, que deveria levar para o resultado geral no município, o sistema apresentava os percentuais do Estado em questão.
Na nota publicada, o Globo ressaltou que não há erro em dados captados da base de informações do TSE e que o problema em seu sistema não tem relação com a totalização de votos feita pelo tribunal. A consulta por zona eleitoral foi desativada pelo site até que o erro seja corrigido. O jornal não informou por quanto tempo o problema persistiu.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. O conteúdo aqui investigado sugere falsamente a existência de fraude eleitoral, reforçando a ideia de insegurança nas urnas eletrônicas e no sistema eleitoral brasileiro. A totalização de votos no Brasil é feita exclusivamente pelo TSE.
Outras checagens sobre o tema: Sobre insinuações de fraude eleitoral, recentemente, o Comprova também investigou que post inventou dados para insinuar fraude eleitoral a favor de Lula, que o Exército não interferiu na apuração de votos e que não há comprovação de que urna tenha impedido voto em Bolsonaro no Pará.
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