Entrevista concedida ao The New York Times, em 2016Reprodução/The New York Times

O atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), rebateu, nesta quarta-feira, 12, uma das propagandas de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — que usa trechos de uma entrevista do mandatário ao The New York Times — e associa ele ao canibalismo. De acordo com Bolsonaro, o material divulgado pelo petista "não tem cabimento".

"Me rotularam de canibal um dia desses aí. Não tem cabimento, até porque canibalismo é crime, pelo que eu sei. Isso é um vídeo [que] tem uns 30 anos atrás numa reserva indígena yanomami, em que o indígena que morria, ele era por 3, 4 dias… o seu corpo era cozinhado. Depois, os indígenas comem isso daí", disse o presidente.

"Tinha uma equipe nossa por coincidência nesse dia lá. E quem fosse lá, que seria todo o grupo ou não, teria que comer ou não parte daquilo como um ritual. […] Não fomos ninguém", acrescentou o mandatário.

Segundo o chefe do Executivo, há um "lado bom" em toda essa situação: "Eles não têm do que me acusar. Não têm como me chamar de corrupto".

TSE ordena retirada do material
O ministro Paulo de Tarso Sanseverino, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ordenou, no sábado, 8, que a campanha do PT suspendesse a veiculação da propaganda eleitoral que associava o chefe do Executivo ao canibalismo.

"Verifica-se que, como alegado, a propaganda eleitoral impugnada apresenta recorte de determinado trecho de uma entrevista concedida pelo candidato representante, capaz de configurar grave descontextualização", destacou o ministro na decisão.

Durante a propaganda, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resgata uma entrevista ao jornal New York Times, de 2016, em que o atual mandatário do país diz que "comeria um índio sem problema nenhum".

No trecho que o PT exibia durante a propaganda eleitoral, Bolsonaro fala de um suposto episódio em que um indígena morreu e teria sido "cozinhado" por outros indígenas. "Morreu um índio, e eles estão cozinhando. Eles cozinham o índio. É a cultura deles".

Após a exibição da campanha, a equipe do presidente pediu ao TSE que a reprodução fosse retirada das plataformas digitais de Lula e que a retransmissão de forma descontextualizada do trecho fosse proibida.

Na ação apresentada, a campanha de Bolsonaro afirma que Lula usou de "grave e intencional descontextualização" como "estratégia publicitária".

O ministro Paulo de Tarso Sanseverino concordou e determinou que a reprodução não seja mais veiculada na TV, em sites e em outras plataformas digitais. Novas divulgações com o mesmo teor também foram proibidas.

O juiz da Corte apontou que "a reportagem se refere a uma experiência específica dentro de uma comunidade indígena, vivida de acordo com os valores e moralidade vigentes nessa sociedade".

Segundo o ministro do TSE, a campanha do ex-presidente altera o "sentido original de sua mensagem, porquanto sugere-se, intencionalmente, a possibilidade de o candidato representante admitir, em qualquer contexto, a possibilidade de consumir carne humana"