Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL)Reprodução/Facebook

Rio - Está chegando o momento de definir quem governará o país pelos próximos quatros anos. De um lado o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), que tem um discurso mais voltado para a direita e do outro o ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, com inclinação para o centro-esquerda. Nesta reta final, ambos estão afirmando que em seu governo, a carne está com o melhor preço e afirmam que era muito mais fácil fazer um “churrasquinho". Afinal, quem pode realmente garantir a picanha no prato do brasileiro?
No último domingo (23), Bolsonaro reivindicou a coroa. Em evento evangélico da Igreja Mundial do Poder de Deus, em São Paulo, o presidente comparou o preço da carne no Brasil com o de países da Europa e dos Estados Unidos. "Se pegar o valor médio do Bolsa Família lá atrás, você comprava três quilos de picanha. No nosso Auxílio Brasil você compra oito. Então, desculpa aqui, eu sou o rei da picanha", discursou
Em 2003, quando o Bolsa Família foi criado, o valor médio pago para as famílias atendidas era de R$ 52,70. Na época, o valor seria o suficiente para seis quilos de carne de primeira ou 70 latas de Skol, com 359 ml. Em 2022, com os R$ 600 do Auxílio Brasil, é possível comprar 13 quilos de carne de primeira, ao custo médio de R$ 45,88, ou 200 latas da cerveja.
As provocações começaram no fim de agosto, após Lula, em sabatina no Jornal Nacional, da TV Globo, afirmar que “o povo tem que voltar a comer um churrasquinho, a comer uma picanha e tomar uma cervejinha". No dia seguinte, Bolsonaro respondeu à fala no programa Pânico, da Jovem Pan. "A esquerda vende a ilusão de picanha para todo mundo. E eu digo: não tem filé mignon para todo mundo", desdenhou. Em 13 de outubro, já na campanha do segundo turno, o chefe do executivo voltou ao tema ao destacar que "o preço da carne está caindo".
O vai e vem na briga pelo reconhecimento de guardião do açougue não é ao acaso. Após a crise sanitária provocada pela pandemia de covid-19, houve a elevação no preço do alimento e a redução do poder de compra da população. Ambas as campanhas tentam trabalhar o assunto politicamente. Para isso, Bolsonaro faz a comparação do alimento com o Auxílio Brasil. Lula, em contrapartida, afirma que a carne era mais barata em seu governo.
Segundo um levantamento feito pelo Procon-SP, desde o início da gestão do atual presidente, houve um aumento próximo a 80% no quilo de um corte nobre da carne bovina. Há quase quatro anos, você comprava por R$ 24,19 e em novembro de 2021 por R$ 44,50. Já a inflação, obtida através do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 19,29% nesse mesmo período, de acordo com o Banco Central. Além disso, o preço da carne superou a inflação nos últimos 12 meses, conforme apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o quilo da picanha teve um aumento de 15,4% no acumulado do mês de maio de 2021 até abril de 2022.
Para Bruno Caruzzo, economista, a inflação dos últimos anos cresceu porque nós produzimos pouco, principalmente devido ao COVID. "Estamos em tempo de guerra e pandemia. Tudo isso prejudicou muito. O custo de produção está alto e a inflação da carne é maior devido a isso. O que você tinha antes para produzir carne, hoje você tem custo dobrado devido a alta do dólar e por causa dos problemas internacionais. Então a inflação da carne é maior que os outros itens da cesta", comenta.
Para o economista, é importante entender que o Governo Lula pegou um país mais estabilizado economicamente devido ao sucesso do plano real, enquanto o Governo Bolsonaro "pegou o país quebrado". "Na época de Lula o dólar era controlado artificialmente, ele não era alto, as exportações eram menores e a taxa de inflação girava em torno de 11%. O mundo inteiro estava em grande ascensão, crescendo e comprando muito do brasil, tanto que nosso PIB, chegou a dobrar em valores. Ele (Lula) pegou um mar calmo, sempre a favor dele, quando chegou a crise de 2008, ao invés de segurar, ele aumentou os custos, ele não fez reforma, não preparou nada. Sucateou o Brasil e começou a aumentar os custos, prejudicando o Brasil, aumentando a dívida pública e com isso prejudicando toda gestão para frente. A Dilma não conseguiu reverter isso e Bolsonaro pegou o país quebrado, ruim, teve o desastre de Brumadinho, 2 anos e pouco de uma crise mundial de COVID, onde o mundo parou e pegou a guerra e mesmo assim o Brasil está estabilizado", afirma.
Para Caruzzo, a economia do Brasil está em tendência de melhoria e estabilização. "Nos últimos três meses o nosso país vem tendo deflação e o preço da carne está estabilizando e já mostra uma tendência de queda para os próximos meses. O Lula, o PT, tem um histórico de canetar, então isso não dá certo, nunca deu! Isso deu errado com a Dilma na tarifa de energia elétrica, agora na Argentina tentaram baixar o preço da carne por meio de canetada, proibindo exportação, mas se você não exporta, você não produz e assim continua em desequilíbrio. O ideal é você começar a diminuir o custo da produção, a inflação diminuir, aumentar o consumo e isso vai aos poucos. Acredito que o Brasil está no caminho", explica.