Apesar da divergência política, clima entre vizinhos tem se mantido ameno Marcos Porto/Agencia O Dia
Acompanhado por políticos, como o governador reeleito Cláudio Castro (PL), a deputada federal Clarissa Garotinho (União Brasil) e o deputado estadual Jorge Felippe Neto (Avante), Bolsonaro discursou por cerca de 10 minutos para um mar de gente que se espalhava pela praça da igreja de Nossa Senhora do Desterro. "No próximo domingo, mais do que eleger um presidente da República, estaremos escolhendo o futuro do país", afirmou o candidato.
Próximo dali, a vida seguia normalmente na rua Coronel Agostinho, mais conhecida como Calçadão de Campo Grande e principal polo comercial do bairro. Aliás, durante toda a última semana, o bairro manteve sua rotina normal, sem grandes alterações – a não ser a gerada pelo comício do dia 27.
Itamar Brito de Almeida, de 63 anos é autônomo. Ao lado da esposa, Ronilda Almeida, ele defende a reeleição do atual presidente por acreditar que ele seja a melhor opção para o país. “Ele é família”, afirma Almeida. Quando questionado sobre o que está achando do governo Bolsonaro, ele foi taxativo: “Eu estou satisfeito”. O casal contou que, durante a pandemia, ambos continuaram saindo de casa para trabalhar normalmente, sem nunca serem contaminados pelo vírus da Covid-19. “Fomos trabalhar, trabalhamos por dois anos e não pegamos Covid, e estamos trabalhando”, relatou Ronilda.
Itamar e Ronilda são cristãos e frequentam juntos o mesmo templo da Igreja Universal. Eles garantem que não existe qualquer tipo de influência religiosa sobre o voto. “O pastor pede que a gente não comente para evitar problemas, porque nós somos muito visados, então é melhor não comentar na igreja sobre política. Lá é para a gente puxar Deus, e a política é aqui fora”, disse Itamar.
A esteticista Alda Viana, de 54 anos, também vai votar no presidente Bolsonaro por aprovar seu atual mandato. “Por tudo o que ele já fez pelo nosso país, pela maneira como ele pegou o nosso país e como o Brasil está hoje, pelo fato de não terem deixado ele trabalhar, mesmo assim ele conseguiu fazer muita coisa. Só não vê isso quem é ignorante”, defende a esteticista.
Tanto o casal, quanto a esteticista, garantem que o clima político no bairro está ameno e que as manifestações, a favor ou contrárias a Bolsonaro, têm acontecido com respeito mútuo, o que pôde ser comprovado na quarta-feira (26), dia anterior à ida de Bolsonaro a Campo Grande, quando o vereador Marcio Ribeiro (Avante) organizou uma caminhada no Calçadão em favor da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “É uma caminhada de conscientização da importância da eleição de domingo. Eu, como vereador da cidade, entendo que este é um movimento importante, de estar alinhado com o presidente e o prefeito. Estamos tentando virar o jogo na Zona Oeste e ajudar o presidente Lula a retomar o comando do Brasil”, declarou o vereador.
Acompanhado por um pequeno número de pessoas, o grupo percorreu o Calçadão de ponta a ponta distribuindo panfletos e adesivos da campanha de Lula. A manifestação aconteceu de forma tranquila e sem qualquer problema.
Na parte da noite, um grupo de apoiadores do presidente Bolsonaro se reuniu na praça São Salvador, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, para tentar arrecadar votos no bairro onde Lula foi o campeão nas urnas (59,72% dos votos, contra apenas 29,51% de Bolsonaro). Sem sucesso e com baixíssima adesão de apoiadores, o movimento, que estava programado para ter início às 18h e terminar 22h, durou pouco mais de uma hora apenas. E apesar de estarem em um dos maiores redutos de esquerda do Rio, o ato ocorreu de forma tranquila e sem qualquer conflito com os habituais frequentadores da praça.
“Eles têm o direito de fazer a manifestação deles, mas aqui eles não vão se criar”, disse Jô Frazão. A aposentada de 61 anos é moradora do bairro das Laranjeiras e, como a maioria dos locais, é apoiadora do ex-presidente Lula. “O Lula é pela democracia e pelos pobres, contra essa loucura, contra armas. Eu acredito que ele vá recuperar as instituições que foram dominadas”, conta.
Moradora da rua General Glicério, logradouro bastante conhecido pela aglomeração de esquerdistas e pelas inúmeras manifestações políticas e culturais, Jô relata que, após o primeiro turno, começou a notar a presença de algumas poucas bandeiras verde e amarelas nas janelas. “São poucas, mas não estavam lá até então. Acho que o povo da esquerda também está evitando colocar faixas nas janelas para evitar conflitos”, avalia.
Também moradora da General Glicério, a empresária Ana Frota, de 81 anos, garante que vai comparecer às urnas no próximo domingo (30), apesar de não ser mais obrigada a votar. “Preciso votar porque eu sou Lula. Tenho diversas experiências, conheço o Lula há muitos anos, voto nele há muitos anos e vou votar de novo”, revela Ana.
As duas contam que o clima no bairro segue tranquilo e que não têm visto ameaças nem sofrido hostilização por parte dos eleitores do candidato adversário. Ao que tudo indica, as eleições no próximo domingo (30) tendem a acontecer de forma tranquila e com respeito à diversidade política e à democracia.
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