Brasília - Vestidos de verde e amarelo e envoltos na bandeira do Brasil, centenas de bolsonaristas aproveitaram esta quarta-feira, 2, feriado de Finados, para participarem de atos antidemocráticos em pelo menos 11 estados do país. A maioria dos protestos acontece diante de chuva, em frente à unidades do Exército. Os manifestantes, que não aceitam a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas, pedem intervenção militar. O clamor, no entanto, é inconstitucional.
No Rio, dezenas de apoiadores do presidente se reúnem no Centro, em frente ao Comando Militar do Leste (CML). O protesto ocupa uma faixa da Avenida Presidente Vargas, principal via da cidade. A Polícia Militar e a Guarda Municipal acompanham o ato de perto. Um outro grupo menor se encontra na Vila Militar de Deodoro, Zona Oeste do Rio.
Em São Paulo, bolsonaristas ocupam as fachadas do Comando Militar do Sudeste, na Zona Sul, e da Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP). Eles começaram a se reunir na noite desta terça-feira, 1º. A movimentação ocorre na região do Parque Ibirapuera. O ato causa lentidão no trânsito, que conta com a ajuda da PM no local.
Já em Minas Gerais, um protesto acontece em frente ao Comando da 4º Região Militar do Exército, que fica na Zona Oeste de BH. Eles interditam parcialmente a Avenida Raja Gabáglia. Outras manifestações acontecem no Centro da capital mineira e no interior do Estado, em Caratinga.
Na capital de Santa Catarina, manifestantes bloqueiam duas faixas da Ponte Pedro Ivo. A Polícia Militar está no local e afirmou que as faixas, que ligam Florianópolis ao continente "precisaram ser fechadas". Outros atos foram registrados em Criciúma, em frente ao 28º Grupo de Artilharia de Campanha, e em Itajaí, na fachada da Delegacia da Capitania dos Portos.
No Rio Grande do Sul, apoiadores ocupam o Comando Militar do Sul, em Porto Alegre. Outro protesto acontece no interior do estado, em Pelotas.
Em Brasília, o ato ocorre em frente ao Quartel General do Exército Brasileiro (QG). A manifestação bloqueia parte da Avenida Duque de Caxias.
Em Alagoas, eleitores de Bolsonaro ocupam parcialmente a Avenida Fernandes Lima, em protesto na capital Maceió, na fachada do Quartel do Exército. O trânsito apresenta retenções no local. Manifestantes fazem vigília na avenida desde o dia 31.
No Amazonas, um pequeno grupo se reúne em frente ao Comando Militar da Amazônia, na Zona Oeste de Manaus. A unidade fica no bairro Ponta Negra.
Na Bahia, o ato é em frente ao Quartel da Mouraria, em Salvador. O movimento teve início na terça-feira e segue neste feriado.
Em Pernambuco, manifestantes estão em frente ao Comando Militar do Nordeste, no Recife, capital do estado.
No Ceará, o protesto acontece em Fortaleza, e reúne um grande número de bolsonaristas na fachada do Comando da 10ª Região Militar. A unidade está localizada no centro da capital.
Nos atos presenciais, ao pedirem intervenção militar, manifestantes mencionam o artigo 142 da Constituição de 1988. A interpretação, porém, é equivocada. O trecho diz: "As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem".
O documento, no entanto, precisa ser levado em conta inteiramente. De acordo com a Constituição, a população é quem decide os governantes por meio de votação. Logo, os militares não podem intervir em uma decisão tomada pelo povo democraticamente. "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição", diz o artigo 1º. Se ainda sim, o Exército insistir em tomar o comando, isso caracteriza um golpe de Estado.
Circula pelas redes sociais e aplicativos de mensagem um texto em que apoiadores de Bolsonaro pedem para que, quem não puder ir até às ruas, envie um e-mail ao chefe do Ministério da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, solicitando "intervenção federal". Procurado pelo DIA para apurar se a pasta recebeu solicitações como essas pelo canal, o ministério não retornou o contato. Também questionamos se o Exército vai se manifestar à respeito dos protestos, mas também não houve resposta até a publicação da reportagem.
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