Rio - Eles se tornaram amigos nos dourados anos 80. Tiveram tudo o que o mundo da bola pode oferecer: carrões, mulheres, bebidas, drogas, dinheiro e muito, muito sucesso. Mas ao se deixarem seduzir pelo canto da sereia do futebol mergulharam no fundo do poço. Vinte e oito anos depois, os caminhos de Perivaldo e Marinho voltaram a se cruzar graças a um encontro promovido pelo O DIA. Surpreendido pela visita inesperada do amigo, em Moça Bonita, Marinho e Peri trocaram, sem meias-palavras, confidências de um passado doloroso, em longo bate-papo.
O ex-lateral da seleção brasileira, Botafogo, Bangu e Palmeiras foi resgatado há quatro meses das ruas de Lisboa, onde vivia como sem-teto. Já Marinho, ex-ponta-direita de Bangu, Botafogo e da Seleção, brilhou no futebol brasileiro nos anos 80 e chegou a ter seis carros na garagem de sua mansão. Mas, com a trágica morte do filho Marlon, de 1 ano e 7 meses, na piscina de sua casa, afundou-se no álcool e nas drogas, perdendo tudo. Histórias dramáticas que os dois esperam superar de vez para reconstruir suas vidas.
Resgate
Perivaldo: Não sei o que teria acontecido comigo se o Alfredo Sampaio (presidente do Sindicato dos Atletas do Rio) não tivesse me buscado. Estava em uma situação difícil de encontrar amigos, ser ajudado. Mas o Alfredo estendeu a mão e não vou decepcioná-lo. Por isso, consigo entender o seu sofrimento, Marinho. Sei o quanto é difícil ser ajudado. Quero lhe dizer que você pode contar sempre com o meu apoio e a minha amizade.
Marinho: Eu passei um aperto muito grande, mas diante de Deus nada é impossível. Venho fazendo a minha parte e já consegui vencer muita coisa. Hoje tenho o meu trabalho (é auxiliar técnico do Bangu), a minha casa. Só preciso de amor e amizade.
Morar juntos
Marinho: Fiquei sabendo pelo sindicato que o Alfredo ia lhe buscar. Estava tudo armado para morarmos juntos. Mas não ia dar certo nunca. Somos dois malucos (risos).
Perivaldo: Você é gozador e contador de histórias como eu. Quando vim da Bahia, dividíamos as brincadeiras no Bangu. Você contava umas mentiras e eu também. Éramos um terror (risos). Gosto de você demais. Se precisar, podemos morar juntos.
Bebida e vícios
Perivaldo: Vim aqui para saber como você está. Sempre peço a Deus para lhe ajudar. Quero pedir, de coração, que você deixe a bebida. Eu também já bebi e pedi a Deus, que me ajudou a largar. Você tem de fugir da bebida, porque ela mata devagar.
Marinho: Eu já entendi perfeitamente (fica em silêncio).
Perivaldo: Eu não vim aqui para lhe criticar, vim para compartilhar as experiências que passei, na boa. Tudo que vivi em Portugal foi culpa minha. Os falsos amigos, as falsas promessas. O que mais tem no mundo, quando você tem dinheiro, são os Iscariotes. Eles sentem de longe o cheiro do seu dinheiro. Jogam na sua fraqueza, na sua carência quando você está com um problema emocional.
Marinho: Quando perdi o meu filho achei que a minha vida tinha acabado. Mas estava só recomeçando. Bebi muito depois disso, da separação da minha mulher. Passei maus pedaços... Hoje não bebo mais cachaça e uísque, só duas cervejas. Olha só a minha aparência, quero me recuperar. Preciso mostrar para mim mesmo que sou capaz. Muita gente me criticou dizendo que eu andava sujo, sem dentes. Hoje, passo perto dessas mesmas pessoas e as cumprimento. Elas veem que estou mudado. Tenho uma nova vida, uma nova companheira, que me ajuda em tudo, que me dá carinho. Carinho é tudo na vida! Ela me conquistou assim. Vamos nos casar. Voltei a sorrir.
Conselhos
Perivaldo: Fico feliz em ouvir isso, meu amigo! Mas tem de largar a cerveja de vez. Não andar com quem fuma muito ou bebe. Foge disso. Pede a Deus para lhe dar força, porque não há obra sem fé!
Marinho: Está certo, mas fica tranquilo. Estou bem. Tenho muito o que agradecer ao Bangu. Antes, só andava cabisbaixo. Hoje estou para cima, como você. Agora só precisamos nos manter. Obrigada pela visita, meu amigo, não vou esquecer!