Rio - Mais um capítulo da história do Clássico dos Milhões começa a ser escrito no Maracanã, nesta quarta-feira. Flamengo e Vasco se enfrentam pelas oitavas de final da Copa do Brasil, nove anos após aquela que seria a primeira final regional do torneio. O duelo pode ter um gostinho de revanche para o Cruzmaltino. Em 2006, o Rubro-Negro levou a melhor em uma decisão com todos os ingredientes de uma rivalidade que ultrapassou as fronteiras do Rio. Obina, Luizão e Ramon relembram a decisão daquela época e projetam o duelo de agora.
FOTOGALERIA: As imagens da final entre Flamengo e Vasco, em 2006
Os louros da vitória
O primeiro jogo da final da Copa do Brasil definiria os rumos do clássico. O Flamengo chegou à decisão contestado, Waldemar Lemos foi demitido após levar o time para a final. Ney Franco foi contratado justamente para alcançar a glória. Do lado vascaíno, um time embalado, que buscava a coroação sobre o maior rival. E o futebol provou, mais uma vez, que não é uma ciência exata. Não há como prever os resultados. Com gols de Obina e Luizão, que era dúvida até o momento inicial da partida, o Flamengo levou a vantagem para o segundo jogo da final: 2 a 0 para o time da Gávea.
"Eu lembro de toda aquela rivalidade, de ser a primeira final entre equipes regionais. Foi um clássico esperado por todos. Lembro também que estávamos muito ansiosos, porque tinha aquela situação de perder e colocar pressão no rival. A gente estava ansioso para chegar logo o jogo", relembrou Obina.
Obina não esquece os duelos contra o Vasco pela Copa do Brasil. O status de xodó rubro-negro começava a nascer na Gávea. O gol marcado pelo atacante, que abriu o placar do jogo, consagrou o atacante como ídolo da Nação rubro-negra. O jogador ficou conhecido por balançar as redes nas partidas contra o maior rival do Rio e passou a ser lembrado pela famosa música que o comparava a Eto'o, então jogador do Barcelona.
"Foi emocionante marcar o gol. Uma coisa inexplicável ver o Maracanã lotado, com muitos torcedores do Flamengo e do Vasco. Eu tinha saído do banco e logo nos dois primeiros toques na bola, consegui fazer o gol que abriu as portas para conquistar o título. Foi inesquecível", completou.
O lado amargo da final de 2006
No Cruzmaltino, Ramon carregava a responsabilidade de comandar a equipe. Depois de um fraco Estadual, o Vasco vinha embalado por uma boa campanha na Copa do Brasil e a tratava como uma chance de salvar um ano de trabalho. Para chegar à final da competição, o Gigante eliminou o rival Fluminense, um dos favoritos da disputa. Em ano de Copa do Mundo, a pausa para o Mundial foi crucial para definir os rumos do que aconteceria na decisão. Enquanto o time da Colina perdeu o ritmo, o Rubro-Negro teve tempo para se acertar.
"A gente foi muito mal no Carioca, mas depois nós conseguimos fazer uma boa Copa do Brasil. A gente acabou se acertando durante os jogos. A pausa para Copa do Mundo nos fez um mal tremendo. Perdemos nosso ritmo de jogo, nosso foco na competição e, na mesma parada, o Flamengo recuperou alguns dos seus jogadores e isso acabou fazendo muita diferença", justificou Ramon, que completou:
"Nós entramos com uma pressão muito grande no segundo jogo. A gente ter perdido o primeiro deu um descontrole emocional muito grande na equipe. Nós levamos isso para dentro de campo. O lance da expulsão do Valdir Papel, ainda no início da partida, mostra isso. Não só da parte dele, mas de todos nós pela forma como reagimos", disse, relembrando a expulsão do atacante ainda aos 15 minutos do primeiro tempo.
'Especialista' em rivalidade
Luizão conhece bem a rivalidade entre Flamengo e Vasco, já que viveu os dois lados da moeda. Antes de ser campeão da Copa do Brasil de 2006, ele brilhou em São Januário e fez parte do time que conquistou a Libertadores de 1998, principal título do Gigante da Colina.
"Meus momentos no Vasco e no Flamengo foram diferentes. Eu cheguei e o Vasco tinha acabado de ser campeão brasileiro, tinha obrigação de vencer, e eu ainda fui para substituir o Edmundo. A cobrança lá foi muito grande", recorda Luizão.
A rotina de títulos de Luizão se repetiu no Flamengo. E com contornos de superação. Além do tradicional faro de artilheiro, é claro.
"No Flamengo eu cheguei com mais nome. Sabia da responsabilidade. Comecei bem, mas infelizmente depois da lesão eu não consegui jogar mais. Mas consegui fazer o gol e ajudar o Flamengo a ser campeão daquela Copa do Brasil. O que eu lembro é que estava com o pé machucado, uma lesão muito grave. Eu tinha tido uma chance dez anos antes e não sabia se teria outra para conquistar a Copa do Brasil, que era o único título brasileiro que faltava na minha carreira. Acabou que joguei e conseguimos fazer uma grande partida", contou Luizão.
Em cima do muro
Eles conhecem bem a rivalidade e viveram um clássico decisivo em 2006. Porém, na hora de apontar um favorito para o duelo de agora, um drible nas respostas.
"Vasco e Flamengo é difícil arriscar um palpite, independentemente do momento das equipes. Fora de campo tem um apelo grande das torcidas e isso também conta para apimentar o duelo. Um grande jogo eu tenho certeza de que será. Um daqueles grandes clássicos para entrar para história das equipes, do vencedor principalmente", avalia Ramon.
Obina segue a mesma linha e estará na torcida pelo Flamengo: "Clássico é tudo igual para os times. Naquela decisão de 2006, todos falavam que o Flamengo chegou aos trancos e barrancos, que o Vasco tinha uma equipe melhor. Mas chegou na hora e nós conseguimos o título, mesmo com todas as críticas. Jogamos um futebol melhor e mais bonito que o Vasco. Clássico é decidido em detalhe. É difícil escolher um favorito, porque é imprevisível. Espero que o Flamengo vença."
Reportagem de Renata Amaral e Victor Abreu