Rio - O técnico Bernardinho admitiu que sua vitoriosa passagem pela seleção masculina de vôlei pode estar perto do fim após a conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, e sinalizou como motivo o cansaço pelo acúmulo de funções - ele também comanda o time feminino do Rexona.
"Preciso escolher. Na minha idade, não é mais possível seguir em duas frentes", afirmou Bernardinho, de 57 anos, em uma entrevista exclusiva à emissora portuguesa "Sport TV" que será exibida na noite desta quarta-feira e à qual a Agência Efe teve acesso.
"Estou há 20 anos nessa vida dupla, como treinador da seleção masculina e à frente de um clube no vôlei feminino. Tirei uma semana de férias após a Olimpíada, mas logo na sequência já tenho de reassumir o Rexona e preparar a equipe para uma nova temporada (da Superliga). Não me sobra tempo para descansar", acrescentou o treinador.
Bernardinho deixou o futuro em aberto logo após a conquista do seu segundo ouro olímpico. No sul de Portugal, local que escolheu para descansar após os Jogos, o técnico refletiu sobre os próximos passos e admite que ficou mais perto de deixar a seleção brasileira.
"Passei uma semana no Algarve (Portugal), a contemplar as praias locais, e confesso que esta pausa me fez refletir, me fez pensar sobre o meu futuro", disse Bernardinho na entrevista, que foi gravada nos estúdios da "Sport TV", em Lisboa.
À frente da seleção masculina de vôlei por quatro ciclos olímpicos, Bernardinho conquistou duas medalhas de ouro, em Atenas 2004 e Rio 2016, e outras duas de prata, em Pequim 2008 e Londres 2012.
Na entrevista à emissora portuguesa, a primeira após o título em casa, o treinador confessou se sentir "desgastado" por ter de se explicar no Brasil quando o lugar mais alto do pódio não era alcançado.
"Eu voltava ao Brasil com a medalha de prata, como aconteceu em 2008 e 2012, quase que envergonhado, tendo de me explicar porque havia perdido o ouro. Como se a prata fosse um feito pequeno... Eu disputei quatro Jogos Olímpicos com a seleção masculina e estive em quatro finais. Foram dois ouros e duas pratas, mas mesmo assim eu continuo tendo de explicar o porquê das pratas. Isso traz um certo desgaste", afirmou. Bernardinho disse ainda que, quando confirmada a sua saída, estará disposto a contribuir com o sucessor.
"Não sou treinador da seleção, eu estou treinador da seleção. O mais importante para mim é que temos um grupo que vai continuar competitivo, o que me dá tranquilidade para fazer a minha escolha sem qualquer tipo de culpa. A minha decisão sairá com calma, porque não temos compromissos com a seleção agora. E se for o caso de eu sair, poderei contribuir com quem for chegar", sublinhou.
Ainda sobre o futuro, o treinador confirmou que foi sondado para trabalhar fora do Brasil, mas declarou que sua intenção de momento é permanecer no país: "Tenho convites de fora. Não digo que nunca sairei do país, mas muitas pessoas estão deixando o Brasil. E penso que se as pessoas boas, de diversas áreas, abandonarem o país, o nosso projeto de Brasil vai ficar comprometido. Não tenho pretensão de nada, apenas de dar a minha contribuição na minha área. Mas o esporte é tão importante para os jovens que penso que a minha contribuição é significativa", concluiu.