Espanha - Craque, superdotado, menino prodígio e... autista. Diagnosticado aos 8 anos de idade como portador da Síndrome de Asperger, também conhecida como “fábrica de gênios” — os físicos Isaac Newton e Albert Einstein, o naturalista Charles Darwin e o pintor renascentista Michelangelo, entre outros, seriam portadores — Messi é a prova viva de que a doença, uma forma branda de autismo, não impede ninguém de brilhar e, no caso do argentino, ser eleito o melhor jogador do mundo quatro vezes seguidas.
Embora o diagnóstico do autismo de Messi, que na infância também sofreu de nanismo e foi tratado no Barcelona, tenha sido pouco divulgado para protegê-lo de qualquer discriminação, seus inúmeros fãs não devem se assustar. A Síndrome de Asperger, diferentemente do autismo clássico, não acarreta em nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou da linguagem do indivíduo — a doença afeta geralmente pessoas do sexo masculino com dificuldades de socialização, gestos repetitivos e estranhos interesses.
A fixação de Messi pela bola explicaria um pouco sobre o assunto. Apesar de seu talento inegável, o comportamento do camisa 10 argentino dentro de campo é revelador sobre o aspecto de sua doença. “Autistas estão sempre procurando adotar um padrão e repeti-lo exaustivamente. Messi sempre faz os mesmos movimentos, quase sempre cai pela direita, dribla da mesma forma e frequentemente faz aquele gol de cavadinha, típico dele”, afirma Nilton Vitulli, no site Poucas Palavras, do jornalista Roberto Amado.
Vitulli, que é pai de um portador da síndrome de Asperger e membro da ONG Autismo e Realidade e da rede social Cidadão Saúde (reúne pais e familiares de ‘aspergianos’), acrescenta que como a maioria dos autistas tem memória descomunal, Messi provavelmente conhece muito bem todos os movimentos que precisa executar na hora de balançar a rede.
“É como se ele previsse os movimentos do goleiro. Ele apenas repete um padrão conhecido. Quando entra na área, já sabe que vai fazer o gol. E comemora, com aquela sorriso típico de autista, de quem cumpriu sua missão e está aliviado”, diz Nilton, que enaltece a qualidade do chute de Messi, a sua habilidade com a bola grudada no pé, mesmo em alta velocidade, mas ressalta se tratar “apenas” de padrões de repetição comuns aos portadores da Síndrome de Asperger. Mesmo no caso do gênio Messi.
Messi é um exemplo de superação. Ele passou por cima de tudo e conquistou cinco Bolas de Ouro da Fifa (2009, 2010, 2011, 2012 e 2015), quatro Champions Leagues (2005–06, 2008–09, 2010–11, 2014–15) e três Copas do Mundo de Clubes da FIFA (2009, 2011 e 2015).
Personalidade pouco sociável fora de campo
Messi sofre com os sintomas da Síndrome de Asperger. Principalmente fora de campo — a dificuldade de interação social é o maior adversário. É o que garante Giselle Zambiazzi, ex-presidente da Associação de Pais, Amigos e Profissionais dos Autistas de Santa Catarina.
“O gestual, o olhar e o comportamento do Messi são típicos. Na premiação da Bola de Ouro ele ficou incomodado, pois não sabe lidar com o bombardeio de informações do mundo externo”, diz.
Ela leu a biografia de Messi e detectou traços marcantes da doença. “Na infância ele só saía de casa com uma bola de futebol. Mesmo que fosse ao médico”, diz Giselle, que espera que o craque não seja discriminado: “Acham que o autista é um débil mental. Não é isso. Messi é um exemplo de superação”.