Por bferreira
EUA - Ao acordar num dia de maio de 2013, agentes do FBI chegaram ao luxuoso hotel Mandarin, em Miami, e acordaram o empresário brasileiro José Hawilla para perguntar se pagava propina aos ex-dirigentes do futebol sul-americanos em troca de vantagens contratuais.
Marin está preso nos EUADivulgação

Primeiramente, Hawilla, 74 anos, mentiu. Mas acabou preso alguns dias depois por obstrução de justiça e decidiu colaborar com o governo americano para ajudar a desvendar um imenso esquema de corrupção no futebol mundial, gravando escondido seus sócios e amigos do mundo do futebol.

Um deles era José Maria Maria, hoje com 85 anos, então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que logo foi preso em um hotel cinco estrelas de Zurique em 27 de maio de 2015, a pedido da justiça dos Estados Unidos.

Marin é um dos três acusados no julgamento Fifa que começou em Nova York há quatro semanas. Os outros dois, que como ele se declararam inocentes, são o ex-presidente da Conmebol Juan Angel Napout e o ex-chefe do futebol peruano Manuel Braga.
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Hawilla depôs nesta terça-feira pelo segundo dia consecutivo na corte federal do Brooklyn, onde compareceu carregando tanque de oxigênio por problemas de saúde.
 Um jantar gravado
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A procuradoria fez Hawilla escutar várias de suas gravações, inclusive uma realizada durante um jantar com Marin em 30 de abril de 2014.
Marin cumpre prisão domiciliar em seu apartamento na luxuosa Trump Tower, em Manhattan, após pagar 15 milhões de dólares em fiança. Seus advogados o apresentam como um idoso meio senil, que "às vezes dizia coisas que não faziam sentido", como afirmou seu defensor Charles Stillman.
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O ex-dirigente brasileiro compareceu à corte a cada dia vestido em elegante terno e gravata, no início acompanhado de sua esposa, e escutou impávido, em silêncio, aos testemunhos dos ex-sócios e colaboradores que se tornaram inimigos.
Seus advogados destacam que a presidência da CBF caiu em seu colo "para preencher um buraco", porque Marin foi eleito chefe da entidade que rege o futebol brasileiro após a inesperada renúncia de Ricardo Teixeira em março de 2012, antes do fim do mandato. Segundo as regras da CBF, o membro mais antigo da entidade assume a presidência nestes casos.
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Segundo os advogados, apesar de ser o número 1 da CBF, Marin não tomava qualquer decisão sem consultar Marco Polo Del Nero, atual presidente da CBF e seu ex-vice na época. Del Nero, assim como Teixeira, está livre no Brasil, apesar de ser um dos 42 acusados pela justiça americana por corrupção na Fifa.
Marin "estava em campo, mas não participava do jogo", afirmou Stillman no início do processo.
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"Está tudo acertado"
Segundo as gravações de Hawilla, Marin estava ciente de que havia pagamentos de propina em troca de contratos de diferentes torneios, e estava ansioso para receber sua parte.
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"Sim, estamos falando de tudo, sim, com eles. A conversa com eles foi muito boa. Está tudo acertado", declarou Marin a Hawilla durante o jantar, quando perguntado se já tinha negociado a propina referentes à Copa América com os executivos das empresas Full Play e Torneos.
Marin também afirma ter acertado pagamentos com a empresa do empresário brasileiro Kleber Leite, a Klefer, pelos direitos internacionais da Copa do Brasil.
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Mas logo pede a Hawilla que o ajude a saber quanto está recebendo exatamente em propina e por que o dinheiro ainda não chegou.
"É realmente necessário dar a Ricardo um milhão? Me diga", pergunta Hawilla durante o jantar, referindo-se à propina de 1 milhão de dólares paga a Teixeira, que já não era mais presidente da CBF.
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"Olha, presta atenção, o que já fizemos e o que estamos fazendo, já está na hora de que venha para nós. Certo?", responde Marin.
Segundo a promotoria, Ricardo Teixeira continuava recebendo um milhão de dólares anuais pelos direitos da Copa do Brasil, enquanto outro milhão era dividido entre Marin e Del Nero.
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Hawilla assinou acordo de delação com o governo americano em dezembro de 2014 e pode pegar até 80 anos de prisão.
Contudo, um mês após aceitar cooperar com o FBI, em junho de 2013, pagou 10 milhões de dólares em propina pela Copa América, como parte da empresa Datisa, integrada também pela Full Play e pela Torneos.
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"Um erro", admitiu ao ser questionado por Stillman, que tentava acabar com a credibilidade de testemunha de Hawilla apresentando o empresário como corrupto e mentiroso.