No tribunal, Daniel Alves esteve próximo da jovem de 23 anos que a acusa de estupro Alberto Estévez / Pool/ AFP

No primeiro dia de julgamento de Daniel Alves em Barcelona, na Espanha, a suposta vítima voltou a afirmar que sofreu estupro do ex-jogador. Em depoimento que durou entre 1h04 e 1h15, segundo a imprensa espanhola, a jovem de 23 anos manteve, no tribunal, a versão que deu à polícia após sofrer a agressão sexual no banheiro da boate Sutton.
Para a sua presença, houve um forte esquema para protegê-la. De acordo com o jornal 'La Vanguardia', através de fontes jurídicas, a jovem falou em um banco próximo aonde estava Daniel Alves.
O depoimento foi a portas fechadas, sem a presença da imprensa ou plateia. Sua voz foi distorcida e ela foi protegia por um biombo, o que permitiu que sua imagem ficasse distorcida, para que não fosse reconhecida pelas pessoas presentes.
Ana Matallana, amiga da jovem denunciante, foi uma das testemunhas deste primeiro dia de julgamento. Ela estava na boate e afirmou que, antes da amiga, Daniel Alves havia a importunado.
"Vejo que ele se aproxima dela com a mesma atitude pegajosa com a qual se aproximou de mim. Vejo ela tensa... Eles vão até uma porta e eu já a perco de vista", disse no depoimento.
Ana, que chorou, também relatou que a amiga não explicou com detalhes o que aconteceu no banheiro, mas disse que o joelho machucado foi causado por Daniel Alves tê-la jogado no chão. A jovem de 23 anos ainda teria ficado com medo de fazer a denúncia à polícia e que não acreditassem nela.

Adiado depoimento de Daniel Alves

A defesa do ex-jogador, encabeçada pela advogada Inés Guardiola, tentou suspender o primeiro dia de audiência, mas a juíza do caso, Isabel Delgado Pérez, não acatou o pedido.
Em contrapartida, aceitou que Daniel Alves preste depoimento somente no terceiro dia, no fim do julgamento, após serem ouvidos a denunciante, testemunhas e peritos.
A defesa de Daniel Alves requisitou a suspensão do julgamento alegando terem ocorrido investigações iniciais sem o conhecimento do jogador. Também afirmou que ele poderia ter realizado teste do bafômetro no período - em sua mais recente sustentação, o atleta afirma que estava alcoolizado na noite do ocorrido.
A advogada citou também o fato de o juiz de instrução ter negado o pedido para que um segundo perito examinasse a mulher que acusa Daniel Alves. Ainda reclamou de um "julgamento paralelo" da imprensa, o que teria pesado na decisão de prisão preventiva, e comentou que o jogador vive situação financeira complicada, com dúvidas de quase R$ 3 milhões com a Fazenda da Espanha.
Escoltado pela polícia, Daniel Alves entrou no tribunal pela porta dos fundos. Familiares do jogador, como o irmão Ney Alves marcaram presença no julgamento.

Relembre o caso

Em 31 de dezembro de 2022, o diário 'ABC' revelou que Daniel Alves teria violentado sexualmente uma jovem na casa noturna Sutton no dia anterior. A mulher esteve no local acompanhada por amigas  e entrou no banheiro a pedido do jogador, à época no Pumas, do México. Ela alega que pensava que era outro ambiente da boate.
Ao sair do cômodo, a jovem de 23 anos estava muito abalada e a equipe de segurança da casa noturna acionou a polícia, que colheu o depoimento da vítima.
No dia 10 de janeiro de 2023, a Justiça espanhola aceitou a denúncia e passou a investigar o jogador brasileiro. Quando voltou à Espanha para o velório da sogra, ele foi intimado a depor.
Inconsistências nas versões dadas pelo atleta nas primeiras declarações e em depoimento à Justiça, fizeram com que a juíza Maria Concepción Canton Martín decretasse a prisão no dia 20 de janeiro. A possibilidade de fuga do país também foi outro motivo.
Durante o período em que está recluso, o brasileiro mudou o seu depoimento por mais de uma vez, trocou de advogado de defesa e teve negados outros recursos para responder à acusação em liberdade. Além disso, entrou em um processo de divórcio com a modelo e empresária espanhola Joana Sanz, que acabou não indo adiante.
Nas contradições, Daniel Alves chegou a dizer que não conhecia a mulher que o acusava. Depois, argumentou que houve relação sexual com ela, mas de forma consensual. Após nova mudança de direção, a defesa de Daniel Alves vai alegar, durante o julgamento, que o jogador estava bêbado na noite em que foi acusado do abuso.
De acordo com a publicação 'El Periódico', a nova versão dos fatos, a quinta apresentada pelos advogados, tem a intenção de atenuar a pena do jogador brasileiro, pois o colocaria como "uma pessoa sem conhecimentos de suas ações" em razão dos efeitos do álcool.
Daniel Alves pode pegar nove anos de prisão, mas a defesa da jovem denunciante pede 12, a pena máxima para agressão sexual na Espanha.