Rio - O futebol e a paixão que envolve o esporte fazem parte da cultura brasileira. Assim, a paixão pelo clube de coração costuma ser passada dos pais para os filhos, de geração em geração. Isso, no entanto, não é uma regra.
Recentemente, uma publicação da ex-nadadora Joanna Maranhão viralizou nas redes sociais. Ela, torcedora do Sport, e o judoca Luciano Corrêa, torcedor do Flamengo, são pais de Caetano, que tem apenas cinco anos, mas já escolheu ser botafoguense.
O caso de Caetano não é o único. O jornal O Dia encontrou outros filhos que não seguiram o coração de torcedor dos pais, como Victor Sauerbronn, de 24 anos, mestrando em cinema na Universidade de Estocolmo.
A mãe, Maria Gabriela, é rubro-negra, assim como o irmão, Daniel, e o pai, Carlos Eduardo, é apaixonado pelo America.
"Eu me tornei botafoguense quando eu tinha quatro anos mais ou menos. Eu não nasci botafoguense. Em 2003, a minha família se muda para um condomínio onde moramos até hoje, em Niterói, que é próximo ao Caio Martins. Por volta de cinco a dez minutos a pé no máximo andando. E isso numa época que o Botafogo jogava no Caio Martins. Tinha muito botafoguense nas redondezas. Portanto, passei a ter essa convivência ao redor do estádio, mas no meu próprio condomínio tinha bastante botafoguense", contou Victor.
"Acredito que minha mãe disse algo porque alguém falou: ‘ah, esse menino é tricolor’, que é o time dos meus avós; ou ‘ah, esse menino é America’, que é o time do meu pai. E acho que ela falou: ‘ele é flamenguista’, time dela. Com quatro anos de idade, respondi: ‘eu sou Botafogo’. O resto é história", completou.
Dentro de casa, Victor teve o incentivo dos pais: "Se eu sou professora de história, democraticamente pauto por tantas coisas interessantes, por que vou proibir meu filho? Sempre incentivei e ia aos jogos com ele. Fui ao Engenhão com ele algumas vezes e Maracanã também. Quando eu ia aos jogos, o Botafogo ganhava, e ele começou a achar que eu era o amuleto da sorte. Aí um dia o pai dele foi, e não pude ir. E o Botafogo não ganhou ou só empatou. Ele falou: ‘tá vendo, pai, mamãe não veio...’ (risos)”, disse Maria Gabriela.
No caso de Victor, o Glorioso também é uma forma de se manter conectado com o Brasil. Na entrevista, ele ainda contou que fica acordado até a madrugada na Suécia para assistir aos jogos do time de coração.
"O Botafogo é lugar de pertencimento, é parte do que eu sou. Muito da minha personalidade vem de ser botafoguense, de torcer para um clube que me escolheu, mais do que eu escolhi. Aqui na Suécia, o Botafogo acaba sendo uma maneira de se manter brasileiro, de se manter conectado com quem eu sempre fui e sempre serei, como um brasileiro, como um niteroiense. O Botafogo me lembra casa, me lembra paixão, me lembra dor também. É muito grande na minha vida e me dá muita esperança. Toda sua história e todos seus ídolos me enchem de orgulho", destacou Victor.
Já o militar Thiago Severini, de 37 anos, é torcedor do Vasco. O pai, Sebastião, é botafoguense, assim como o irmão, Rodrigo, e a mãe, Vitória, é tricolor. Ele até seguiu o lado alvinegro no início, mas o coração se tornou Cruz-Maltino ainda criança.
"Eu era botafoguense, assim como meu pai, até os meus sete anos, quando virei a casaca. A paixão pelo Vasco apareceu quando comecei a fazer amizades e interagir com as crianças do prédio em que morava. A maioria deles torcia para o Vasco e, por estar tão inserido naquele meio, acabei mudando de lado. Claro que foi uma época de ouro para o Vasco! Estamos falando da década de 90. Então, isso também colaborou para eu me tornar vascaíno", contou Thiago.
Sebastião admitiu que, no início, ficou frustrado e até tentou fazer com que Thiago voltasse a ser Botafogo. Hoje, até torce para o time do filho quando o Vasco não enfrenta o Glorioso.
"Ele tinha até uniforme do Botafogo, e eu nunca fiz imposição de escolha pra ele. Fiquei sabendo primeiro pela avó dele que me falou que ele tinha pedido pra comprar o uniforme do Vasco. Foi quando eu perguntei, e ele me confirmou. Eu aceitei democraticamente. No início tanto eu quanto o irmão mais velho tentamos reverter a pulada de cerca, mas não teve jeito. Respeito a escolha dele e até torço para Vasco quando não joga com Botafogo", contou Sebastião.
"Fiquei surpresa, porque o pai do Thiago é Botafogo. Naquele momento, muitos amigos do Thiago eram vascaínos", completou Vitória.
Thiago também falou sobre a paixão pelo Vasco e deu destaque para a história de luta do clube contra o preconceito.
"Um sentimento inexplicável. Acho que aqui cabe o trecho da música que a torcida canta nos estádios: ‘o Vasco é minha vida, minha história, meu primeiro amigo. Quem não te conhece, me pergunta por que eu te segui (porque eu te amo!)’. Acho que toda história do clube é muito forte também. Clube pioneiro na luta contra o racismo, fazendo do futebol um instrumento de inclusão social, o que culminou com a construção de São Januário com o suor da sua própria torcida!", ressaltou Thiago.
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