Ricardo Mendonça (à esquerda) foi ouro nos 100m T37, enquanto Lídia Cruz levou três bronzes em Paris Douglas Magno/CPB e Alexandre Schneider/CPB

O Brasil fez história na Paralimpíada de Paris e, pela primeira vez, terminou no top 5 do quadro de medalhas, com 89 pódios - recorde do país. Dentre todas essas conquistas, estão Ricardo Mendonça, do atletismo, e Lídia Cruz, da natação. Atletas que saíram do Rio de Janeiro para brilhar na capital francesa.

Ricardo Mendonça, de Natividade, voltou para casa com duas medalhas na bagagem: foi campeão paralímpico nos 100m da classe T37 (paralisados cerebrais) e prata nos 200m. Conquistas que, para ele, ainda são difíceis de acreditar.
O atleta começou a correr com objetivo de parar de tomar tantos remédios após sofrer um acidente, em 2014. Dez anos depois, ele fez tocar o hino nacional brasileiro em Paris.
"A ficha ainda está caindo. A gente trabalha a vida inteira para estar naquele momento e fazer o melhor de si. Às vezes dá medalha, como foi o meu caso. Sou muito feliz com isso. Ainda estou digerindo tudo o que aconteceu", disse o atleta, que, nos dias de glória, fez questão de ressaltar quem está com ele também nos dias de luta.

"Minha maior dificuldade é estar longe do meu filho Leonardo. Ele e a Suellen, minha esposa, têm muita parte nessa medalha. Assim como o técnico Nakaya. O trabalho dele comigo foi sensacional. Me acolheu e falou que dava para buscar essas medalhas. E buscamos", concluiu o campeão paralímpico. 
Ricardo Mendonça celebra ouro com a bandeira do Brasil - Wander Roberto/CPB
Ricardo Mendonça celebra ouro com a bandeira do BrasilWander Roberto/CPB


Lídia Cruz, por sua vez, saiu de Duque de Caxias para conquistar três bronzes logo na sua primeira Paralimpíada: revezamento 4x50m livre, 150 Medley SM4 (limitação físico-motora) - com recorde das Américas - e 50m costas S4. Assim como Ricardo, ela foi a Paris para fazer o seu melhor, conseguiu e ainda renderam “consequências muito gostosas”: as medalhas.
Para a nadadora, porém, o momento mais marcante nos Jogos não foi um pódio, e sim sua desqualificação nos 50m livre S4. Ela chegou em segundo na final, após quebrar o recorde paralímpico na semi, mas acabou queimando a largada.
"A minha mão cair ali na hora foi minha deficiência que falou mais alto. Então, eu não podia ficar chateada. Acontece. Foi um momento marcante, de resiliência. Mas não de tristeza, e sim de provar que eu consigo cada vez mais", disse. No dia seguinte após a desqualificação, Lídia foi para a água mais uma vez e levou o bronze nos 50m costas S4.

Ela começou na natação ainda na adolescência, após sofrer uma lesão encefálica. Desde então, levanta a bandeira do Vasco, pois foi o lugar que a acolheu no esporte. Por outro lado, Lídia lamenta a escassez de esporte paralímpico no Rio de Janeiro: "Para a natação aqui, só tem o Vasco", destacou.
Lídia Cruz durante competição na Paralimpíada de Paris - Alexandre Schneider/CPB
Lídia Cruz durante competição na Paralimpíada de ParisAlexandre Schneider/CPB


Importância da visibilidade

A Paralimpíada deste ano foi um sucesso de público nas arenas e nos estádios. Um carinho que os atletas reconhecem e valorizam, seja ele direto de Paris ou pela torcida que ficou no Brasil. “Foi sensacional. O pessoal em massa no estádio, nas redes sociais apoiando a gente. Isso foi muito legal”, celebrou Ricardo.

Lídia também agradeceu o apoio e fez questão de ressaltar a importância da visibilidade para o esporte paralímpico.
"Se temos visibilidade, pessoas que nos seguem, conseguimos patrocínios. Mas se não, fica difícil. A cada ciclo parapan ou paralímpico é quando podemos acender uma chama dentro de uma criança com deficiência para pensar: 'Nossa, se ele tá lá em cima, eu também posso chegar lá'. Infelizmente temos que ter uma competição dessa pra mostrar que existimos, que estamos aqui todo dia, treinando e batalhando". disse a nadadora de Duque de Caxias.