Rio - Emerson Sheik não mede as palavras para falar o que pensa. Sempre sincero, o atacante faz questão de demonstrar sua opinião, principalmente quando vê algo errado. Nesta quinta-feira, o jogador manteve a sua personalidade e justificou seus motivos por ter feito duras críticas contra a arbitragem após ser expulso na derrota para o Bahia por 3 a 2, na última quarta-feira, no Maracanã, quando procurou uma câmera de TV e falou: "CBF, você é uma vergonha!"
"Primeiro não é o erro apenas da partida com o Bahia, são erros que vêm acontecendo ao longo da competição. Alguns deles são relatados algumas vezes por atletas, inclusive por mim. Há poucas semanas teve um pênalti contra o Ceará e logo em seguida eu me manisfestei contra. Não tem nada a ver com o jogo de ontem (quarta-feira), são erros que vêm acontecendo há muito tempo. Eu acho que o atleta tem todo direito de se manisfestar, talvez o momento dentro da partida não seja o local exato para fazer como eu fiz, mas temos de fazer parte da discussão", afirmou.
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Sempre na mira dos árbitros durante as partidas, Emerson não acha que seja perseguido pela sua forte personalidade em campo. O atacante acredita que é visado por pura incompetência da arbitragem e cobra uma profissionalização do quadro brasileiro.
"Eu não acredito nisso de perseguição, eu acredito mesmo na incompetência. É animador saber que o presidente da CBF está insatisfeito com a arbitragem. Nós atletas esperamos que existam medidas para que a arbitragem sejam profissionais como nós. A nossa esperança é que a CBF se posicione na intenção de profissionalizar os árbitros. É inadmissível enquanto os atletas estão se preparando nos clubes para o Campeonato Brasileiro, alguns árbitros estão dentro de uma sala, um escritório resolvendo outros problemas", declarou.
Sheik admitiu que pode ter exagerado na hora de desabafar após a expulsão contra o Bahia, mas reforçou que a insatisfação com a arbitragem brasileira não se resume apenas a ele.
"Naturalmente no calor da partida quando a adrenalina está a milhão, o desabafo se torna um pouco mais agressivo, mas a vergonha é coletiva de todos os atletas, dos torcedores que vão ao estádio de ver uma arbitragem incapaz. Nem nas peladas em Nova Iguaçu que o meu irmão joga no fim de semana esses caras têm capacidade de apitar, que dirá uma partida envolvendo o Botafogo e o Bahia, que tem uma história linda. Eles não são profissionais e não deveriam estar lá, enquanto nós estamos aqui ralando, eles estão em um escritório, resolvendo outras coisas. A vida deles não é arbitrar e a CBF precisa resolver isso", disse.
Confira outros trechos da coletiva:
Cartões amarelos
Acho que sim, alguns desses cartões eu mereci. Por outro lado, não querendo ser diferente de ninguém, eu sou um atleta que dou trabalho, que quando entra em campo quer vencer, dar meu melhor e o árbitro tem que estar preparado para trabalhar com atletas de alto nível. No futebol brasileiro ela não está preparada. Sim, eu mereci esses cartões, mas a arbitragem já vem com um pensamento diferente para alguns atletas no futebol nacional, os que se destacam mais dos outros. Então eu acho que a arbitragem esta individualizando alguns atletas e prejudicando a carreira deles.
Xingamentos dentro de campo
Daí tem que ir para uma igreja. Dentro do campo não tem como você não falar palavrão, senão fica complicado. Existem momentos ali que não é ofensa, você não está agredindo verbalmente o cara. É normal xingar em campo quando você está descontente por falhas grotescas e acaba perdendo o controle. Não está certo (xingar), mas se for pôr tudo na balança, vamos ficar a semana toda conversando sobre isso.
Personalidade forte
Cara, eu não sou quente e nervoso, sou competitivo. Eu honro o clube que paga meu salário e não gosto de perder. Eu tenho 36 anos, sou bem resolvido, minha carreira é de vitórias e conquistas, então eu acho que tenho o perfil de vir aqui falar. Não sou nenhum menino e as pessoas têm que respeitar a opinião do outro. Eu acho que no nosso esporte só a imprensa fala. Por que a gente não tem direito de falar? É hora de abraçar essa causa e não me criticar porque fui na câmera falar o que eu penso. Se a gente não abraçar essa ideia, fica difícil para todo mundo trabalhar, não só para os atletas. É a hora de para e pensar em melhorias. Vocês que têm o papel e caneta podem nos ajudar a melhorar o futebol brasileiro. Não sou violento mesmo, sou muito competitivo. Não gosto de perder duelos individuais, gosto de ganhar. Eu me movimento muito. Mas vale lembrar também que o que vocês cobrem é futebol, é um esporte de contato. E os choques acontecem. É natural. Com relação ao Henrique (do Cruzeiro), foi uma jogada forte, dura e que, infelizmente, por uma fração de segundo, você levanta a perna demais e acontece o choque. Ontem, a única coisa que vi depois do jogo foi o lance da expulsão. O primeiro cartão foi injusto. Eu sofri a falta e fui cobrar o cartão. E o árbitro inverteu. No segundo lance, não consegui ver um toque no jogador. Mas ele publicou uma foto em que aparece a marca. Curiosamente, vi que o árbitro não viu o lance da jogada porque estava encoberto. Mas as imagens são claras.
Direito de falar
A gente não vai pode falar nunca? Eu não posso desabafar? É proibido eu dar minha opinião? Eu vivo isso diariamente, o futebol existe por causa dos jogadores e se nós não podemos participar dessa discussão está tudo errado mesmo. O jogador de futebol está acostumado a ouvir comentários de que é burro, que é ignorante. O “Vim aqui para conquistar os três pontos, se Deus quiser”... É uma p... ignorância pensar isso. É ser muito ignorante pensar algo do tipo. Não estou induzindo ninguém a nada. Não quero entrar em assunto de punição, porque daqui a pouco vou começar a falar m... Eu só me expressei e desabafei. Talvez o lugar não fosse o lugar adequado. Vou deixar um dever de casa para vocês. Aconteceu uma situação envolvendo um árbitro em um jogo e um atleta. Qual o final da história? Aí vão querer me punir porque falei o que eu penso? Tenho direito de participar de tudo isso, porque faço parte e vivo isso. Não trabalhei na padaria e caí aqui de paraquedas. Tenho o direito de fazer parte disso.
Luta por melhorias
Se eu fosse problema...E, se eu fosse presidente de um clube, eu me contrataria. É só ver as minhas conquistas. Não tenho a intenção de ser polêmico. Só tenho o perfil diferente. Não quero me exaltar, mas tenho o perfil diferente dos outros. Eu falo, faço vocês darem algumas risadinhas... Mas falo de maneira polida. Posso ter me exaltado, mas eu penso no que eu falo. Eu sei o que eu estou falando. E se alguém aqui discorda da arbitragem do futebol brasileiro, por favor, se manifeste. Eu não falei nada demais. O que eu pedi é que a CBF profissionalize a arbitragem do nosso futebol. Porque os dirigentes, quando iniciam uma temporada, eles fazem um planejamento para o ano inteiro. E daí vem um cara, que não tem nada a ver com o nosso meio (o árbitro), e consegue estragar o planejamento de um ano, o sonho de profissionais, de pessoas que diariamente vêm aos clubes para trabalhar. No domingo de manhã, estamos concentrados. Às 9h, estamos treinando e saímos do clube só quando acaba o jogo. Ninguém fica em casa, sai para jantar, vai ao cinema. Isso é comprometimento. Se o Gottardo me liberar, de manhã eu vou para praia e depois vou jogar... Ontem eu falei para o Lomba, ele pediu para eu parar de falar porque ia tudo para mim mesmo. Disse para ele que, se nós não nos manifestarmos, quem é que vai fazer? Vamos esperar por quem? Esperar o presidente da CBF, que confirma que não está satisfeito com a arbitragem? Se ele pensa assim, quem vai consertar tudo isso? Aqui não é um cara que quer aparecer. Gostaria de ver o futebol ser respeitado, admirado fora do país. Podem me punir, dizer que sou polêmico, encher uma sala para alguma coisa que possa vir a falar futuramente. Mas gosto muito do futebol. Ele me tirou de uma condição de vida que não desejo a ninguém. O que eu puder fazer para voltar a ser como antes, vou fazer a minha parte. Quem quiser participar, seja bem-vindo. Quem não quiser, tudo bem.
Respeitado pelos outros jogadores
Não pude conversar por muito tempo, mas por conviver com eles diariamente e por ter visto a entrevista do Mancini entendo que talvez tenha escolhido o momento errado para falar, mas o que eu falei, tenho certeza absoluta de que sou apoiado. Poderia ter me manifestado em outro local ou de outra maneira. Mas estava em um jogo com a adrenalina a milhão. Sou um cara que fala mesmo. Mas acho que tenho, sim, o apoio dos atletas do Botafogo. E de mais uns seis ou sete clubes. O desejo de todos é que as coisas melhorem. Sou um cara muito respeitado e querido na classe.
Colaborou o estagiário Edsel Britto