Por edsel.britto

Rio - Em 2009, assim que assumiu o Botafogo pela primeira vez, Maurício Assumpção era considerado pela torcida como um sopro de esparança para a reestruturação do clube com uma nova política moderna e gestão profissional. Porém, após seis anos comandando o Alvinegro, Maurício chega ao fim do seu segundo mandato acumulando problemas financeiros e polêmicas para o próximo presidente.

Vivendo a política do clube de dentro, os quatros candidatos a sucederem Maurício Assumpção analisaram as duas gestões do atual presidente enquanto esteve no comando do clube e opinaram sobre algumas decisões tomadas por ele ao longo dos últimos seis anos.

Confira a entrevista: 

Qual o principal ponto positivo das duas gestões de Mauricio Assumpção?

Carlos Eduardo: Falar em ponto positivo é muito complicado ao longo de seis anos. Uma gestão se avalia muito pelo que ela vai legar e o legado dele é péssimo. Ele está deixando o Botafogo sem capacidade de pagamento, extremamente endividado, com suas contas bloqueadas, com folha salarial inchada, com quadro de funcionários inchado. Analisando pelo legado, o dele é desastroso. Talvez o pior da história do Botafogo.

Marcelo Guimarães: As primeiras decisões do primeiro mandato, emitindo sinais de profissionalização, produziram efeitos positivos e encheram de esperança a todos que participaram desse momento e amam o Botafogo.

Thiago: Os principais pontos positivos foram a base, o remo e o social de General Severiano.

Vinicius: Eu acho que tem poucos pontos positivos, mas acho que ele iniciou um processo de revelação na base e deu uma melhorada muito pequena no complexo de General Severiano. Foram esses dois.

Após seis anos no clube, Maurício Assumpção sai do Botafogo pela porta dos fundosErnesto Carriço

Qual o principal ponto negativo das duas gestões de Mauricio Assumpção?

Carlos Eduardo: Foi a soberba. Ele se deixou levar por uma ânsia de realizar muito mais com o mesmo dinheiro. Gastou muito mais que podia e colocou o clube nesta situação e não apresentou alternativas. Tanto é que ele está em 2014 sem opção, sem nada e depende do Sindiclubes, porque não tem receita e não conseguiu sair da encruzilhada que se colocou.

Marcelo Guimarães: O presidente, que começou a se omitir depois da eliminação da Libertadores e do péssimo Carioca, abandonou de vez o clube, abrindo espaço para todo o tipo de manifestação de alguns jogadores. O que me parece, é que ao decidir retornar, precisou abrir caminho, demitindo os que mais o criticaram. Um grande equívoco.

Thiago: Gestão, o distanciamento entre o que se ganha e o que se gasta e o isolamento. O Maurício é uma pessoa muito isolada, ele praticamente comandou o clube sozinho e com o diretor executivo, mais ninguém. Ele não trocava ideias, não deixava os vices-presidentes interferirem em outras áreas e eu acho que ele também não era transparente. Então eu acho que isso foram as falhas da gestão do Maurício.

Vinicius: O principal foi a falta de planejamento. As outras três chapas dizem que a primeira gestão do Mauricio foi boa e a segunda foi pior. Que na primeira, o Botafogo estava caminhando bem mas não estava. Se você for ver os balanços da primeira gestão, desde a época do Bebeto, ele deu uma guinada. A cada ano, as despesas foram maiores que as receitas, a cada ano o deficit foi aumentando, inclusive na primeira. O que aconteceu entre uma e outra é que ele foi protegido por parcela da imprensa, não digo toda, porque ele ajudou a implodir e foi o interlocutor do movimento que acabou com o Clube dos 13. Esse pra mim foi o principal equivoco dele porque achou que com isso o Botafogo poderia ser beneficiado e ele na verdade quebrou uma proteção que tinha dos clubes em relação aos dois gigantes que tem as maiores torcidas no País, os demais tinha o Clube dos 13 protegendo os demais para manter o equilíbrio no futebol brasileiro. A lógica foi quebrada e isso precisa ser rediscutido. Precisamos ter uma lógica onde esse equilíbrio seja mantido.

Do Jeito que as cotas estão atualmente, futuramente nós vamos ver em pouco tempo uma espanholização do futebol brasileiro. Por exemplo: como eu vou concorrer com o Flamengo tendo uma cota de R$ 70 milhões e eles com o valor de mais de R$ 200 milhões em relação a arrecadação de TV. Eu não temo como concorrer contra isso. Esse equilíbrio é que está sendo quebrado e precisa ser rediscutido o quanto antes. Pode ter a diferenciação como sempre teve mas não pode ser dessa forma. Nós vamos transformar o Campeonato Brasileiro no Campeonato Espanhol, sem graça. É ótimo na parte de Marketing mas não tem graça alguma, você já sabe que Barcelona e Real Madrid vão sempre disputar o título e uma vez ou outra um time vai tentar fazer alguma coisa mas nada além disso. Esse foi um dos equívocos, além da falta de planejamento, além da irresponsabilidade financeira. Nesse segundo mandato ele errou ao apostar na aprovação da lei de responsabilidade fiscal, isso ficou claro.

Ele cometeu um crime, deveria estar preso, sonegou imposto. Em um País mais sério, ele estaria preso. Ele foi em um programa de TV e declarou que tinha sonegado mesmo, é reú confesso. Tudo isso para tentar pagar salário e no final das contas, ele ficou com as contas bloqueadas e não pode nem pagar imposto e nem salário. Hoje o Botafogo vive essa situação graças a ele, que ainda colocou a sobrevivência do clube em risco. Eu posso afirmar que a minha chapa foi a única que não participou da operação para trazer o Maurício para o Botafogo. Eu tenho o mesmo sobrenome dele, não sou parente e sou o único dos candidatos que não participou isso. Hoje as pessoas ficam bradando na imprensa criticando ele, mas o Carlos Eduardo e seu grupo politico tinham vice-presidências dentro da primeira gestão dele, o Marcelo Guimarães era diretor executivo dele, o Thiago ficou lá durante seis anos como vice de comunicação e inclusive era interlocutor politico em negociações com outros políticos, inclusive com o nosso.

O Montenegro foi quem operou tudo e apresentou o nome dele ao Botafogo e hoje critica o Mauricio mas tem que assumir os erros e dizer que errou ao trazer o Mauricio Assumpção para o Botafogo. Tem que ter essa responsabilidade. Nosso grupo politico não fez parte de nenhum das duas gestões dele. Nós temos na nossa chapa somente o Ricardo Braga que ficou durante três meses na atual diretoria mas que exigimos que ele saísse para se juntar a nós. Meu vice-presidente é quem resgatou o polo aquático e está há 12 anos. Fez oposição ao Bebeto de Freitas e uma série de outras gestões mas ninguém tirou ele de lá porque ele carrega o polo sozinho. é meu vice, vem da arquibancada como eu. Então eu digo que a verdadeira mudança nesse processo eleitoral é a Chapa Alvinegra porque fomos nós que estamos apresentando um modelo diferenciado, nós não temos nada a ver com essa gestão atual. Se quiserem cobrar da gente, podem cobrar em relação a gestão do Bebeto onde tivemos dois vice-presidentes do clube. Ali nós temos responsabilidade nos acertos e nos erros e assumimos tudo isso. Fora disso, não temos nada a ver com o Mauricio e as outras três chapas tem e tem que assumir tudo isso e não jogar pra debaixo do tapete dizendo que não tem nada a ver com isso. De onde surgiu o Mauricio Assumpção?

Na sua opinião, por que ele demitiu Bolívar, Julio Cesar, Edilson e Sheik?

Carlos Eduardo: Arrogância. Ele não aceita contestação. Para você ver, das vezes que disputamos com ele na eleição de 2011, nós até hoje defendemos uma decisão na Justiça que eles tentam cassar nossos conselheiros. Foram três anos de batalha judicial porque eles não aceitam. Não admitem a contestação e é contraditório. Não têm essa visão democrática da convivência no clube. As demissões foram reflexos da arrogância, soberba e de se achar acima da instituição quando nós todos somos muito menores do que o Botafogo.

Marcelo Guimarães: A demissão dos profissionais, iniciando um processo de aparelhamento do clube, com a contratação dos seus amigos e apadrinhados políticos. Em cerca de um ano, na virada para o segundo mandato, demitiu o Miguel Ângelo, dos Esportes Olímpicos, me demitiu, do Marketing e Comercial, o Luis Fernando do Administrativo, o Anderson Barros do Futebol, além do Renato Blaute do Financeiro. Jogou fora e colocou o clube na situação em que se encontra.

Thiago: Eu acho que foi um coelho que ele tentou tirar da cartola. Ele perdeu o comando do clube e do time, e ele afastando quatro jogadores líderes de uma vez só, foi uma tentativa de trazer o poder de volta para as mãos dele. Isso foi uma tentativa, só vamos saber se foi certa no final quando o Brasileiro acabar.

Vinicius: Aquela decisão rebaixou o Botafogo. Se você me perguntar se eu faria igual a ele. Eu não contrataria. Este tipo de jogador, não todos os quatro, mas boa parte daqueles não jogaria no Botafogo. Não quero jogador beijando escudo. Para jogar no Botafogo tem que ter a mentalidade de querer construir algo juntamente com o clube. Que queira se tornar ídolo e símbolo do Botafogo e queira ter conquistas em sua carreira. Precisa honrar as tradições e sinta prazer de jogar no Botafogo. Não quero aquele que se acomoda e fica jogando apenas numa faixa de campo. Não quero jogador com cara de paisagem, que perde e no dia seguinte está jogando futevôlei na praia como se nada estivesse acontecendo.

Não precisa ter amor ao Botafogo nem beijar o escudo, mas tem que sofrer, vibrar e comemorar junto com a torcida. Ele precisa perceber isso. Acho que o que ele fez foi um processo do desespero, porque este grupo o isolou. Ali ainda tinha o Jefferson e ele não teve coragem de demitir. Na minha opinião, era esse grupo que isolava ele e não permitia que ele chegasse perto do futebol. Ele, numa forma de recuperar a liderança, fez isso. Eu acho que a liderança não se recupera assim, mas com diálogo e atitudes propositivas. E o pior. Ele fez isso num momento que não podia contratar mais ninguém e ficou com este time, que é guerreiro, mas é muito fraco tecnicamente. Não vou culpar o elenco por um possível rebaixamento, mas essa atitude dele desesperada, ele sacramentou o rebaixamento. Com os jogadores dispensados, por mais que a gente não almejasse nada, pelo menos, não estaríamos nessa situação.

Edilson%2C Sheik%2C Bolívar e Julio Cesar fizeram duras críticas a Maurício Assumpção após serem demitidosMárcio Mercante

Se fosse presidente, teria a mesma atitude?

Carlos Eduardo: No momento como este, não. Em hipótese alguma poderia fazer isso, porque com isso você está punindo o clube. Você já não tinha capacidade de contratar, nem inscrever mais ninguém. Acho que o clima chegou ao ponto que chegou exatamente porque a diretoria se omitiu e se afastou. Você não tinha um vice de futebol experiente. Você tinha aquilo que foi instaurado no início de 2014. Um bando de amigos do presidente vindos do futebol de praia. Como Eduardo Hungaro, que foi escolhido para comandar o time na Libertadores da America. Um treinador que não tinha nenhuma experiência de futebol. Qualquer pessoa ligada ao futebol sabe que a Libertadores é uma competição especialíssima e você não pode levar um técnico que não exerça o comando, não tenha experiencia internacional. Acho que a direção do Botafogo tem uma responsabilidade muito grande nestes problemas que aconteceram e, certamente, foi um gravíssimo erro afastar estes atletas desta maneira.

Marcelo Guimarães: O Presidente está completamente perdido.

Thiago: Não tomaria uma atitude como essa.

Vinicius: Não tomaria. Eu olharia o elenco como um todo e o limite para inscrições e perceberia que ia deixar o time sem ninguém. Defensivamente, às vezes, consegue ir bem, mas de lá para frente não tem força para conseguir se salvar.

* Colaborou Edsel Britto

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