Rio - A vitória do Botafogo sobre o Flamengo, no último domingo, teve um quê de heroísmo. Um personagem já conhecido da torcida alvinegra, mas que não vivia seus melhores dias, retomou o protagonismo em campo: Gatito Fernández. O goleiro, que ficou fora de alguns jogos por contusões, ressurgiu como o pilar defensivo do Glorioso. Mesmo sob pressão no Mané Garrincha, ele fez defesas difíceis durante os 90 minutos e segurou o placar conquistado pelo gol de Erison. Após meses de indefinição acerca da posição, a atuação de gala do paraguaio no clássico é um alívio.
Aos 34 anos, Gatito reúne os pontos positivos e negativos da experiência no futebol. Por um lado, o goleiro tem boa leitura dos atacantes adversários, e não raramente fecha o ângulo na hora da finalização, ou se estica para espalmar uma bola que todos davam como certa de estufar a rede. Nos pênaltis, é reconhecido pelo desempenho acima da média. Contudo, a habilidade não o livrou de sentir as lesões causadas pelo tempo e pela árdua tarefa da posição.
Nas últimas temporadas, o goleiro sofreu com a quebra de sequência. No Botafogo, na segunda metade de 2020, Gatito teve um edema ósseo no joelho, o que não pareceu grave no momento. Convocado pela Seleção Paraguaia após a recuperação, ele viu a lesão ser agravada por uso de medicamentos e excesso de esforço. Assim, ficou fora da reta final do Brasileirão daquele ano, que terminou com o Glorioso rebaixado para a Série B. Apesar dos rumores da saída do jogador, ele continuou na equipe mesmo tendo propostas de clubes da Série A.
Em 2021, as condições do joelho de Gatito pioraram, inviabilizando sua participação durante a campanha que garantiu o acesso do Alvinegro para a primeira divisão. O caminho parecia seguir para um encerramento de contrato, mas o clube decidiu renovar com o arqueiro. Nesta temporada, o paraguaio iniciou como titular e foi bem, mas teve a sequência interrompida novamente em abril, quando sentiu dores no joelho. Porém, nenhuma lesão foi detectada e ele foi liberado para voltar a atuar.
Ainda que Gatito transmita segurança em quase todos os jogos, a vitória sobre o Flamengo foi especial. De 12 finalizações, o goleiro salvou o Botafogo sete vezes, e tirou mais cinco chutes no perímetro da meta. No primeiro tempo e nos minutos finais da partida, quando o Rubro-Negro dominou a partida, ele ficou sozinho com atacantes adversários algumas vezes. E em nenhuma delas falhou. Os dados são do site "SofaScore".
O desempenho já seria o suficiente para dizer que Gatito foi o herói do Mané Garrincha, que não ironicamente carrega o nome do maior ídolo da história do Alvinegro. Porém, a atuação do goleiro foi além ao contar uma trajetória de superação, daquelas que apenas o esporte pode proporcionar sem que palavras sejam ditas. Discreto, o paraguaio resistiu à provocações, lesões e indefinições sobre a própria carreira, para retornar seguro, experiente e cada vez mais Glorioso. Se havia dúvidas sobre a sua capacidade de retomar os dias de protagonismo, estas se encerraram no último domingo.
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