Rio - Com a bênção de Zico e o apoio de nomes de peso que integraram a gestão de Eduardo Bandeira de Mello, Rodolfo Landim, de 61 anos, executivo do setor de petróleo, tem o desafio de transformar o poder financeiro do Flamengo em conquistas. Caso seja eleito presidente no dia 8 de dezembro, garante que desempenho do futebol será cobrado.
O DIA: O que o motiva a ser presidente do Flamengo?
RODOLFO LANDIM: Pergunta complicada. Ao longo da vida tive a oportunidade de ter muitas experiências. Acho que cheguei a um estágio em que a vida está estabilizada. No fundo, meu objetivo maior é tentar doar para aquilo que é uma das maiores paixões, junto à família, e praticar um pouco do que aprendi das experiências que tive. Junto a um grupo grande que vem conosco, fazer uma transformação para colocar o Flamengo de novo campeão.
Quais são os desafios para o triênio 2019-2021?
Existem desafios em diversas áreas, como colocar o Flamengo de novo no estágio que teve no passado nos esportes olímpicos, a melhoria do quadro social e, claro, o futebol. Tenho visão a longo prazo e a dividi com os envolvidos no processo. Queremos tornar o Flamengo o melhor time das Américas, pelo menos um dos cinco maiores do mundo no futebol. E no melhor clube social do Rio. Há o simbolismo especial pela origem do clube nas regatas, queremos voltar a ser campeões no remo.
Qual é a avaliação sobre as finanças do clube?
O Flamengo não pode parar. Quando chegamos (na gestão de Eduardo Bandeira, em 2013), fizemos uma série de mudanças, aumentamos significativamente as receitas, principalmente com o programa sócio-torcedor e na área de marketing. O clube manteve a crescente, muito em função da (cota) TV. Apesar do crescimento, houve estagnação. O clube tem muito potencial para melhorar as finanças. Embora o clube tenha aumentado o orçamento, o uso dos recursos não foi tão bom ou não teve resultado. Foi feito um grande investimento e o retorno não foi o esperado.
Como reverter a evolução da receita e investimento em títulos?
O Flamengo teve grande receita em 2017, mas não pode esquecer que vendeu um jogador (Vinicius Junior) por um valor que não venderá todo ano (cerca de R$ 100 milhões, com impostos e comissões já descontados). Este ano, além da receita que não estava prevista, tivemos a venda de Mancuello, Jonas, Felipe Vizeu e Hernane Brocador. A receita prevista, em torno de R$ 510 milhões, chegará próxima dos R$ 600 milhões. Portanto, causou espanto o pedido de antecipação de receitas da administração. Gastaram tudo e mais um pouco. Futebol não é ciência exata. O jogador pode dar certo ou não, mas é inacreditável o baixo índice de acerto, com valores difíceis de justificar.
Quais são os planos para o programa de sócio-torcedor?
O programa é uma importante fonte de receita, que enxergamos estar ligado à bilheteria. A intenção é tentar parcerias em que beneficie o sócio-torcedor com vantagens, como descontos em mercado, na cerveja... Associar benefícios ao plano, corrigir os problemas de acesso, troca e distribuição de ingressos. E criar um programa de fidelização. O ideal é um plano em que o torcedor mais fiel tenha acesso aos jogos por um preço melhor. Temos uma série de ideias para melhorar o produto e torná-lo mais acessível.
Como seria a nova estrutura do futebol?
A primeira coisa que no futebol temos que olhar é o processo de liderança, que vai além do futebol. O problema do Flamengo começa de cima, como em qualquer instituição. Isso percola toda a estrutura e afeta o futebol. Em qualquer atividade, existe a fase de planejamento, de execução e de avaliação para eventuais correções de desvio, e repete o ciclo. Conheço o (Ricardo) Lomba, de quem gosto e acho correto. Mas critico o que vejo no futebol. Quem chega em outubro tem um prazo para planejar o ano seguinte. (...) Tivemos dois meses para planejar 2018 e chegamos em janeiro sem técnico. O sujeito que estava abaixo do diretor (Paulo César Carpegiani, então coordenador) virou técnico. O Flamengo fica até abril sem técnico, consegue a proeza de ficar fora da final do Carioca, e promove o assistente técnico (Maurício Barbieri). O Flamengo não é clube para ter técnico promissor. Para mim, é o maior do Brasil e, portanto, é técnico calejado, experiente. O Flamengo não está lá para fazer experiência. O discurso que a gente vê é sempre tolerante, de que nada vai mudar. Outra coisa que precisa ser modificada é a estrutura do futebol.
Qual será o critério para a escolha do treinador ou a possível manutenção de Dorival Junior?
Quando se centraliza as decisões numa pessoa, a probabilidade de erro é muito maior. A ideia é criar um comitê executivo para o departamento de futebol. Pelo dinamismo, a intenção é que esse grupo se reúna continuamente. O vice de futebol será um dos membros do comitê, mas as grandes decisões serão divididas. Além de tirar o peso, cria a oportunidade de ouvir outras opiniões e evitar erros. A área de inteligência deve responder não ao diretor de futebol, mas, sim, ao comitê. Quem escolhe jogador não pode contratar, isso não acontece em empresa nenhuma. São pessoas indicadas pelo presidente. O comitê, de cinco pessoas, tomaria decisão de técnico e reforços. Somos rubro-negros, queremos ser campeões e, portanto, não podemos falar nomes para não conturbar o ambiente de trabalho. Mas fique certo de que estamos trabalhando muito em sigilo.
Qual será o perfil do elenco do próximo triênio?
O comitê de futebol já discute o planejamento, que envolve a avaliação de forças e fraquezas que temos no elenco. Vamos endereçar reposições e eventuais contratações, considerando algumas saídas. Essa é a primeira parte. A ideia é ter elenco e equipe preparados em janeiro.
Uma possível reformulação faz parte dos planos da futura diretoria?
Muito se fala sobre essa coisa de que o 'DNA' do time é perdedor. Liderança é importante. Vai depender de quem está à frente do grupo. Já vi atletas que têm um tipo de comportamento sob certa liderança e mudam totalmente dependendo do ambiente e da liderança. Não se pode 'queimar' todos, tem que olhar com certa tranquilidade. Até porque são profissionais e ativos importantes no clube.
E a política de reforços?
A discussão é mais ampla. Entendemos que pela sua dimensão, o Flamengo tem que liderar o processo de transformação que envolva a valorização do futebol brasileiro. A menos que a gente consiga valorizar o produto, não conseguiremos manter no elenco grandes jogadores. Porque sempre haverá alguém com orçamento maior e vai levá-los. (...) Acho que a gente precisa liderar esse processo. A percepção que temos é que o Flamengo é malvisto, pessoas têm criticado muito, que tem visão mesquinha de não pensar no todo, não tenta contribuir com algo mais.
O que o candidato pensa sobre estádio próprio e Maracanã?
São três ações distintas. Temos dois anos de contrato com o Maracanã. É preciso aproveitar a troca de governo do estado e buscar a participação na operação do Maracanã. O segundo ponto é melhorar o contrato, que possui uma série de fraquezas. É um pouco melhor do que o anterior, mas evoluímos pouco. Quanto ao estádio próprio, avaliamos, mas não faremos maluquice como a administração atual. Nessa onda, ela gastou mais de R$ 20 milhões na Ilha do Governador (Estádio Luso-Brasileiro) e jogou 20 vezes, com custo operacional semelhante ao do Maracanã. Muito dinheiro jogado fora. Estádio para 20 mil pessoas na Gávea somos contrários. A dimensão do Flamengo é maior. A avaliação de um estádio próprio envolve parcerias. Falamos de investimento na casa de R$ 700 milhões. A menos que se tenha parceria, venda de naming rights, a gente não conseguirá alcançá-lo sem criar uma dívida brutal. Não terá factoide. Será uma solução pé no chão, sem nenhuma maluquice.
E os planos para a sede da Gávea?
Somos favoráveis à arena de basquete, porém, maior do que o projeto da Arena Mc'Donald's. Nas finais do NBB é preciso um lugar maior. O local escolhido (à esquerda da entrada social) não é o melhor. É faixa mais nobre do clube e temos que criar iniciativas que envolvam acréscimo de receita. Talvez na outra praça, atrás da arquibancada do clube. Temos anteprojeto para discutir com os associados.
Como será o investimento nos esportes olímpicos?
Nos últimos anos, o Flamengo foi clube de um esporte olímpico, o basquete. As outras áreas se sentem abandonadas. Queremos reservar verba mínima para que pelo menos as atividades sejam planejadas. Não é tanto dinheiro. O clube já foi o maior formador de atletas do Brasil. Hoje participamos dos torneios com presença incompatível à dimensão do clube. É algo que terá um foco maior. O Flamengo quando entra numa competição é para ganhar.